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Aramis

O histórico musical

Os aplausos entusiásticos de mais de 500 pessoas, exigindo nada menos que três "bis" após o final do espetáculo "Do Chorinho ao Samba" (Teatro do Paiol, sábado e domingo passados) vieram confirmar não só o alto nível do didático show que teve sua estréia nacional no Paraná, mas também o interesse de um público inteligente, sensível e entusiasmado pela nossa melhor música popular. Da interpretação de "Flor Amorosa", historicamente o primeiro choro de que se tem notícia no Brasil, ao número extra de "Tico-Tico no Fubá", de Zequinha de Abreu (1880-1935), o espetáculo idealizado, escrito, dirigido e narrado por Ricardo Cravo Albim, consolidador do MIS-GB e MEC e Nacional, veio mostrar a importância de se revelarem às platéias mais jovens, as chamadas jóias de nosso patrimônio musical, desconhecidas em grande parte pela falta de divulgação e promoção, marginalizadas nas programações de rádio e televisão frente à supérflua música internacional que domina 95% dos horários destes veículos. Altamiro Carrilho, 50 anos, 27 LPs gravados, 4 excursões à Europa, ao homenagear o seu grande mestre - o patriarca da MPB, como foi adjetivado por Albim -, Alfredo da Rocha Viana, o Pixinguinha (1898-1973), fez um solo de 7 minutos, com temas inspirados nos clássicos "Ingênuo", "1 x 0" e "Carinhoso" que, [tranqüilamente], está entre os momentos de maior beleza musical já vistos/ouvidos em qualquer teatro deste País. Acompanhado por um grupo de três perfeitos instrumentistas - os irmãos Voltaire e Joaquim Corrêa Sá Neto, no vilão (de 7 cordas) e pandeiro, respectivamente, mais o jovem Valmar Amorim, no cavaquinho, Altamiro mostrou ao longo dos 100 minutos do espetáculo que não se enganam os que o apontam no reduzido elenco de flautistas brasileiros, como o grande virtuose deste instrumento, embora em sua longa carreira fonográfica, nunca tenha tido ocasião de fazer discos à altura de seu talento - motivo inclusive que está fazendo deixar a Copacabana e passar para a Odeon. Mas, levando a emoção aos espectadores mais idosos - e muitos senhores e senhoras de 70 e até 80 anos foram ao Paiol, pela primeira vez, neste fim de semana - e entusiasmando os mais jovens, o cantor, compositor e enciclopédico Paulo Tapajós, 61 anos, foi, ao lado de Altamiro, o ponto alto do espetáculo. Apontado, com justa razão, o maior intérprete vivo das músicas do maranhense Catulo da Paixão Cearense (186601945), e provando estar na mais perfeita forma vocal. Paulo Tapajós, produtor do programa dominical sobre MPB no Projeto Minerva, que transmitido por todas as rádios do País é hoje a audição mais ouvida no Brasil - demonstrou quanta beleza existe (escondida, esquecida) dentro do cancioneiro brasileiro - à espera de espetáculos como este "Do Chorinho ao Samba" para serem devidamente apreciados pelo público sensível ao que é nosso, ao que é legítimo e autenticamente brasileiro.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
4
24/09/1974

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