Login do usuário

Aramis

O exemplo do festival feito com competência

A Secretaria da Cultura está procurando, desesperadamente, alguns mecenas que tornem possível a continuidade do Festival de Música de Londrina para evitar que, às vésperas do evento, repita-se o que tem acontecido em anos anteriores: falta de recursos, improvisações e muitas divergências. No próximo dia 15, inicia no Solar do Barão um curso de verão de música, que de proporções modestas vem tentando crescer - embora limitado em suas dificuldades financeiras. No passado, Curitiba já teve um curso e festival de música, que realizado em janeiro, era realmente um evento internacional. Ney Braga foi o primeiro governador a prestigiar a promoção idealizada por Henriqueta e Eduardo Garcez Duarte, Aristides Athayde, padre José Penalva e alguns outros entusiastas. Mas seria durante os quatro anos da administração Paulo Pimentel que o evento se solidificou. Infelizmente, como tantas outras boas iniciativas culturais, o festival de verão acabou sendo boicotado e eliminado do calendário. Seria hoje, se tivesse continuidade tão importante - ou até mais - do que o de Campos Jordão, em São Paulo, que nunca sofreu interrupção (em que pesem anos em que enfrentou seríssimos problemas), ou o mais antigo de todos, o de Teresópolis, que já passa dos 30 anos. xxx No ano passado, o Festival de Teresópolis teve um grande impulso com o generoso patrocínio que a Vulcan deu ao evento. Este ano, por diversas razões, a Vulcan decidiu investir ainda mais, mas num festival em São Paulo (e que poderá, eventualmente, ser transferido para outra cidade). Iniciado no último domingo, dia 8 (Teatro Arthur Rubeinstein, SP), prosseguirá por três semanas, concretizando uma fórmula inédita: paralelamente aos cursos intensivos que se desenvolverão a partir de hoje na Academia de Música de Verão, dirigida pelo professor Alberto Jaffé (Faculdade Santa Marcelina), onde cerca de 20 professores orientarão aulas a 150 estudantes, acontecerá uma série de concertos com coordenação da Interarte uma competente empresa que vem se dedicando a promoção de eventos de alto nível. O jornalista João Marcos Coelho, um dos mais respeitados críticos de música do Brasil (ex-"Isto É", free-lancer na "Visão", "Folha de São Paulo", etc.) e que coordena a parte de imprensa do evento, salienta que a tônica destes concertos do Festival da Vulcan é a reunião de vários artistas internacionais, "para a prática de música de câmara em diversas formações instrumentais". Assim, a fórmula dos concertos aparenta-se ao consagrado Festival dos Prados, que era liderado pelo violoncelista Pablo Casals nos anos 50 e, mais recentemente, nos Festivais de New Port, USA; de Gstaad, Suíça, dirigido por Yehudi Menuhin, e o de Lochenhaus (República Federal da Alemanha), dirigido por outro violonista notável, Gidon Kremer. Assim, explica João Marcos, os convidados internacionais - como o violinista chinês Hu Kun, o quarteto de cordas inglês Navarra, o violoncelista israelense Michael Haran e o pianista brasileiro radicado em Londres, Jean-Louis Steuerman - não farão recitais ou concertos individuais. Vão juntar-se em oito concertos durante o Festival, o primeiro dos quais foi no domingo, com a Orquestra Nova Sinfonieta, regida por Roberto Tibiriçá, e que tendo como solistas Kun e Steuerman apresentou em seu programa a abertura do ballet "Criaturas de Prometeu" de Beethoven; mais os concertos para violino e orquestra e concerto para piano e orquestra nº 5 ("Imperador"). Nesta terça feira, no segundo concerto da série, participarão além de Kun e Steuerman, também o violoncelista israelense Michael Haran, e o Navarra Strings Quartet num programa que inclui peças de Mozart, Beethoven e Schumann. Amanhã, acrescenta-se outra solista - a pianista brasileira Daisy de Luca, em programa que além de três peças de Beethoven, terá também o "Quinteto em Dó Maior", Opus 163, de Schubert. xxx Assim, orgânicas, todas as apresentações públicas do II Festival Vulcan, convergem em seu repertório para a execução de obras do estilo clássico (com destaque para Mozart e Beethoven). "Girando em torno deste eixo central - que significou a solidificação da forma de sonata e a passagem para a modernidade via romantismo, os concertos exploram também a produção de Haydn, Schubert, Schumann, Brahms e outros compositores do século 19", explica João Marcos. Numa mostra da abertura do evento, o professor (e compositor, inclusive de músicas populares, gravadas por intérpretes vanguardistas como Fortuna, Ná Ozetti e Itamar Assumpção) José Miguel Wisnik inicia na sexta feira, 13, um curso público chamado "Dos Filhos de Bach aos Filhos de Stockhausen - A Forma Clássica em Mutação", examinando o itinerário do estilo clássico em direção à modernidade. xxx A Orquestra Nova Sinfonieta - recém organizada como uma cooperativa de músicos profissionais de alto nível - realizará três concertos. Após a abertura, no domingo, volta a se apresentar no dia 15, regida por Aylton Escobar (que várias vezes participou dos cursos de música que se realizavam em Curitiba), com abertura da ópera "O Barbeiro de Sevilha", de Rossini; o concerto para violoncelo em ré maior, de Haydn (solista Michael Haran); "Romanza para Violino e Orquestra" de Beethoven (solista Hu Kun) e a Sinfonia nº 4 - Italiana, de Mendelssohn. O concerto de encerramento (dia 25, Teatro Municipal de São Paulo) se integrará às festividades do aniversário da cidade. Dele participarão a Orquestra Sinfônica do II Festival Vulcan Internacional de Música, formado pelos estudantes da Academia de Verão, que executará sob regência de Alberto Jaffé a "Sinfonia Despedida" de Haydn, o primeiro movimento do concerto para piano e orquestra K-488 de Mozart e a Quinta Sinfonia, de Beethoven.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
10/01/1989

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br