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Aramis

O casal da Ilha (III)

Atendidas as necessidades mais prementes da esquecida população da Ilha do Mel, o casal Telange Alves iniciou uma nova etapa de seu projeto de ascensão social dos moradores daquela parte de nosso litoral: melhorar as condições de saúde, com assistência médica regular e permanente, fazê-los ampliar e sanear suas moradias e cuidar de sua instrução em vários setores. Mas o ponto alto deste plano seria a construção de um prédio para abrigar todos os serviços necessários a execução dos objetivos. Foram necessários muitos meses de trabalho para passar dos planos á realidade, mas afinal dona Cidinha Alves, a grande impulsionadora do projeto, que teve sempre o apoio oficial do Clube da Mulher do Campo, conseguiu construir uma sede para o Clube das Mães da Ilha do Mel. Imagine-se a dificuldade de uma entidade carente de recursos em conseguir edificar um prédio de quase 200 metros quadrados, tento que transportar de Curitiba cada tábua, tijolo, saco de cimento, areia e cal. Mas se a fé remove montanhas, o entusiasmo de promover a melhoria da vida das 130 famílias da Ilha fez com que finalmente a sede ficasse pronto. Para a edificação do prédio houve um verdadeiro trabalho de mutirão: homens, mulheres e crianças, participaram entusiasticamente, somando-se assim os esforços da Fundepar (que financiou a compra da matéria-prima) e dos homens e técnicos do DEOE-SVOP que orientaram a sua construção. E nas oito salas da sede - equipada com dois WC com lavatórios e chuveiros, água e esgoto, foram instalados ambulatórios médico e odontológico, uma pequena farmácia, salas para cursos de costura e culinária. Ali, já há três anos, as mulheres da Ilha recebem orientação de como fazerem roupas para seus filhos e maridos, de melhorarem suas refeições, noções de higiene e saneamento etc. Os resultados, conta dona Cidinha, ultrapassaram às expectativas e hoje, graças a este trabalho, pelo menos uma parte da população encontra-se preparada para aceitar e aproveitar os novos tempos que, espera-se, a Ilha terá com a fase de turismo que dela se aproxima. O engenheiro Telange Alves, em seu plano a longo prazo, diz ainda que há muita coisa a ser feita: 1) solucionar definitivamente o problema da água potável, distribuindo-a nos núcleos habitacionais de Prainhas, Farol das Conchas e Nova Brasília, aproveitando os mananciais existentes no Morro do Bento Alves; 2) Escola para Mecânicos, no núcleo de Nova Brasília, a fim de formar técnicos especializados em manutenção de motores marítimos; 3) Escola de Pesca (por incrível que pareça não existe na Ilha a atividade organizada da pesca: a captura do pescado é feita eventualmente, dependendo da passagem de cardumes, sardinhas, tainhas etc., junto às praias) e, finalmente, a manutenção de uma Escola de Carpintaria e Pedreiro. Afastada 24 km de Paranaguá, com uma área total de 45 km[2] de superfície, formada de duas partes como topografias bem distintas, unidas por um pequeno istmo, a Ilha do Mel deve deixar de ser apenas a promessa turística de amanhã, para ter os seus problemas enfrentados. Sem receber assistência médica regular - o profissional do posto de saúde de Paranaguá há meses deixou de por lá aparecer, com sua população abastecendo-se em quatro pequenos armazéns de secos & molhados existentes nas povoações da Ilha - todas afastadas entre si, para a maioria das 130 famílias que ali residem há dezenas de anos - sempre esquecidos e empobrecidos - o trabalho que o casal Alves vem desenvolvendo desde março de 1968 adquire um sentido que "dona Cidinha é uma Santa que Deus mandou para ajudá-las em nossos problemas". Descontado o exagero, é verdade que o seu trabalho é um apostolado quase Divino. E que, por isto, merece ajuda e compreensão de todas as pessoas de boa vontade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
19/02/1975

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