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Aramis

O casal da Ilha (I)

Quando, finalmente, as atenções começam a se voltar para as potencialidades da Ilha do Mel, com o ex-deputado José Carlos Leprevost reformando o velho hotel que já teve sua fase de opulência há quatro décadas, o arquiteto Rubens Meister concluindo um ambicioso plano diretor (só possível de ser executado com investimento de petrodólares, tal o seu custo) e a própria Paranatur prometendo que "75 será o ano do litoral", é importante conhecer um trabalho anônimo, sincero e idealista que um casal de curitibanos ali está efetuando há sete anos. Uma obra que é uma verdadeira lição para assistentes sociais e técnicos em desenvolvimento comunitário, realizada sem qualquer amparo oficial e nenhuma outra preocupação do que ajudar desinteressadamente a esquecida população da ilha de 45 km de superfície, há 12 milhas de Paranaguá, de cujo município faz parte - mas do qual muito pouco tem recebido. O engenheiro Telanger Alves, 52 anos, da turma de 1935 da Universidade Federal do Paraná, diretor-proprietário da Mild-Máquinas Industriais, em companhia de sua esposa, dona Maria Aparecida e seu filho caçula, Ricardo, 20 anos, desde março de 1968 vem dedicando seus fins de semana para promover a ascensão social dos 1.300 habitantes que se espalham nos quatro núcleos comunitários da Ilha do Mel - Prainhas (sul). Nova Brasília (recôncavo sudoeste), Farol das Conchas (recôncavo sudeste) e Ponta da Coroazinha (Oeste). São 130 famílias humildes de pescadores, todas com dezenas de crianças, que encontraram em dona Cidinha - a forma carinhosa com que a sra. Maria Aparecida Portugal Alves é chamada - uma espécie de fada protetora, que procura resolver os mais diferentes problemas - desde o suprimento de gêneros alimentícios, roupas, remédios, até complicadas questões de ordem legal, quando as autoridades, encontram "irregularidades", como, por exemplo, cobrar Imposto de Serviço Sobre Qualquer Natureza sobre os Cr$ 20,00 que a parteira prática cobra para assistir as parturientes, que são muitas, daquela ilha esquecida por tantos anos. Em 5 de março de 1968, ao visitarem pela primeira vez a Ilha do Mel, Telanger, dona Cidinha e o filho Ricardo, ao mesmo tempo que se extasiaram com a beleza do local - realmente um dos mais bonitos pontos do litoral no Sul, tiveram também olhos para ver o abandono e a miséria em que viviam seus habitantes, em sua maioria humildes pescadores. "Sentimos que deveria ser feita alguma coisa em favor daquela gente que não tinha possibilidades de, por seus próprios meios, livrar-se da situação de vida, em muitos casos sub-humanas, em que se encontrava, tal o seu estado de saúde, higiene, moradia e instrução", diz dona Cidinha. Da idéia á prática, foi um trabalho difícil, que teve que enfrentar inicialmente uma natural desconfiança dos ilhéus, desacostumados em receber qualquer auxílio desinteressado, em sua pobreza e esquecimento só vendo chegar eventuais visitantes que nunca com eles se preocuparam ou, em épocas de eleições, políticos a cata dos poucos votos da ilha. Mas, mostrando que nada pretendiam a não ser promover a ascensão social daquela comunidade, o casal Telange Alves conseguiu, em sete anos, resultados extraordinários, implantando um programa de desenvolvimento da própria comunidade, sem paternalismo - e cujas etapas relataremos na próxima semana. E com resultados, embora até hoje sem qualquer divulgação por exigência de seus próprios idealizadores, que já mereceram até referências internacionais.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
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16/02/1975

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