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Aramis

O Carnaval de Abertura (II)

Antigamente a música carnavalesca, como gênero perfeitamente identificável, começava a ser catituada nos meses de outubro/novembro, de forma que em janeiro o povo já tinha definido o que deveria cantar e dançar no Carnaval. As sociedads de arrecadação de direitos autorais editavam grossos volumes com as partituras das centenas de músicas que disputavam a preferência popular. Nos últimos 10 anos, estas publicações desapareceram pela óbvia razão de que são tão poucas as músicas carnavalescas - no máximo os sambas-enredo, que com suas letras quilométricas não são aprendidas nem pelos integrantes das escolas de samba - que nada justifica tais edições, limitando-se a reunir partituras dos carnavais passado. Se havia até os anos 50 a música de Carnaval, existia também a chamada "música de meio ano" estourar no Carnaval. E quantos clássicos de nosso cancioneiro vieram do Carnaval? Só para dar um exemplo, aleatório, voltemos 50 anos e no Carnaval de 1934 encontraremos "O Orvalho Vem Caindo", de Noel Rosa e Kid Pepe, lançado por Almirante. Outro samba magistral daquele ano, "Agora é Cinza", de Bide (Alcebiades Barcelos) e Armando Vieira Marçal, que conquistou o primeiro lugar no concurso da Prefeitura do Distrito Federal e foi gravado por Mário Reis. A sátira política era representada por "Há Uma Forte Corrente Contra Você", de Orestes Barbosa e Francisco Alves, que a gravou. A marcha mais bonita de 50 anos passados foi "Se a Lua Contasse", de Custódio Mesquita, gravada por João Petra de Barros e Aurora Miranda. Lamartine Babo, sempre espirituoso, foi busar na ópera motivo para sua marchinha vitoriosa "Ride Palhaço", mas no mesmo ano já fazia uma espécie de "Samba do Crioulo Doido", em "História do Brasil" - Quem foi que inventou o Brasil? Foi seu Cabral... Foi seu Cabral... No dia 21 de abril... Dois meses depois do Carnaval!... João de Barro, o Braguinha, ainda hoje vivo e atuante - (por certo compôs marchinhas para este ano) - se destacava com "Linda Lourinha". Mas embora louvando a loirinha, João de Barro, como acendenco velas a Deus e ao Diabo, em parceria com Lamartine Babo em "Uma Andorinha Não Faz Verão", louvava a "moreninha tentação/não andes assim sozinha/Que uma andorinha não faz verão..." xxx Ao focarmos a máquina do tempo para o passado e sentirmo a beleza musical que se perdeu, tanto no sentido documental como crítico, temos que louvar as tentativas que se produtores como Roberto Sant'Ana fazem em revalorizar o gênero, como no disco "Liberou Geral". Embora a sátira política seja o forte deste elepe (polygram/Forma, dezembro/84), há outros enfoques. Por exemplo, o trio Sereno/Neoci/Adilson Victor em "Coração em Festa", na voz de Jair Rodrigues, oferecem uma visão romântica: "Hoje eu tô/Cheio de amor pra dar/Vem coisinha fofa/Foi bom te encontrar". Maliciosa é "Presente na Cama" (Walter Queiroz/Tavinho Paes), interpretada por Fátima Flor: "Mamãe você não me engana/Mamãe você não me engana/Tem, tem tem de presente/Em cia da cama/Aquele aniversário/Você não me deu/Se lembra, mamãe/-Você prometeu/E agora, e aora, mamãe/-Quem vai dar sou eu!" Maliciosa também é a sapeca Fátima Guedes, que em parceria com Rosane Lessa compôs e interpreta "Vestido Vermelho": Tô aqui apertada pulando/Pulando pra ver teu decote E tô doido pra chegar mais perto/Prá poder cheirar teu cangote. M 1939, Assis Valente (1911-1958) tinha em "Uva de Caminhão", na voz de Carmem Miranda (1909-1955) um dos maiores sucessos de sua carreira, 45 anos depois, o irreverente e debochado roqueiro Eduardo Dusek, em parceria com Luiz Carlos Góes, tenta o Carnaval com "Cacho de Uva", no qual ensina que "Prazer na vida/Querida, querida menina/É viver serpentina/Deixar o confete lamber/É de repente/Virar marça e serpente/Sentir que o pandeiro sente/Se o malandro pegar pra bater/É se largar numa boa/Serena qual uma lagoa/Até se desfalacer/Depois dormir sossegado/Eu não me sinto culpado/Meu Deus é bom de doer/Chupar um cacho de uva". Em 1941, entre 250 músicas carnavalescas, muitas falavam em bonde, mas a mais famosa foi "O Bond de São Januário", de Wilson Batista (1913-1968) e Ataulfo Alves (1909-1969), cuja letra, inclusive, teve que ser modificada por imposição da censura no Estado Novo. Embora os bondes tenham desaparecido, a dupla Récio Flávio e Eliane Staducto voltam a falar neste veículo em "Bonde Pra Não Sei Pra Onde", que na voz de Marcos Sabino está também no disco "Carnaval 84/Liberou Geral". Eu tô ficando doido/ Já não sei mais o que faço Vou ter que te agüentar/ Cada hora é um clima Vai ver se eu tô na esquina/ Assim não dá pro encarar Pare já este bonde/ Que eu vou prá não sei pra onde.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
18/01/1984

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