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Aramis

O bom som da Árvore

Aplaudidos, infelizmente, por reduzido público, um grupo de jovens de Londrina (alguns já radicados em São Paulo), apresentaram no último fim-de-semana, no Teatro do Paiol, um espetáculo que revitaliza as esperanças no som que se faz no Norte do Paraná: "Música Nova/Coração de Árvore". Estreado em Londrina, há dois meses (dias 31 de janeiro, 1º e 2 de fevereiro/75), o espetáculo dirigido pelo engenheiro e compositor Robinson Borba, 24 anos, é uma demonstração de vitalidade e talento, com garotos na faixa etária de 17/23 anos, apresentando músicas do melhor nível. Apesar das reconhecidas influências (salutares) de Milton Nascimento, Maria Bethania e Gilberto Gil, os oito integrantes do grupo demonstram muita personalidade e garra, ao longo de 25 músicas próprias, com às quais sustentam as duas partes do espetáculo - que em breve estará sendo mostrado em São Paulo. Embora o diretor Robinson Borba tenha concebido um espetáculo horizontal, numa espécie de "cooperativa artística" a fim de que não houvesse estrelismos, a vocalista, violinista e compositora Elite (Eça Medeiros), 23 anos, paulista da Capital, acaba tendo um natural destaque. Executando também guitarra, violoncelo, baixo e percussão, Eliete é uma mini-show woman, da qual muito se ouvirá falar. Aos 16 anos, vencia um concurso colegial com uma música "Momentos Maus" e a partir de então vem se destacando em várias mostras amadoras, mas agora inicia um profissionalismo, inclusive atuando em casas de samba na noite paulista. Alta, rosto marcante, lembrando ao cantar a Maria Bethania de uma fase intermediária, Eliete é uma das sustentações do espetáculo. Interpretando suas próprias composições, mostra desde construções avançadas (como "Tática") até preocupações ecológicas ("Abril") e encerrando o espetáculo com uma música sintética, amarga, do pianista Arrigo Bernabé, 23 anos, londrinense, ex-estudante de arquitetura (atualmente cursando Comunicações na USP); "Lástima". De costas para a platéia, Eliete clama, num grito desesperado: "Olha/desculpa/eu não cantar/mais prá você/é que também/com tanta coisa/acontecendo/eu não consigo mais falar de amor." Arrigo Bernabé, ao piano, tem solos marcantes, em especial o Tema, com o qual abre a segunda parte do espetáculo. Itamar Assumpção, 25 anos, paulista do Tietê, em Arapongas desde os 9 anos de idade, irmão da atriz Denise e do radialista Narciso - ambos já conhecidos do público curitibano, sozinho ou em grupo, mostra uma série de composições, com nítidas influências de Gilberto Gil: "Como Vai Essa Força", "[Chega] de Conversa Mole Luzia", "Peço Perdão". Robinson Antonio Vieira Borba, responsável pelo espetáculo, longo curriculum artístico, é autor de alguns dos números mais experimentais do espetáculo, como "Rita Vampiro", "Barato Voador" e "Mente Mente". Honestos em suas proposições musicais, procurando uma linguagem própria - o que não é fácil de ser encontrada dos descaminhos de nossa MPB - os integrantes do grupo "Coração de Árvore" conseguiram resultados positivos neste espetáculo, provando que em Londrina já existe um sólido núcleo musical. Vamos ver os resultados que Paulinho Vitola consegue na I Mostra de Compositores Paranaenses, que vem ensaiando, madrugada a dentro, com estréia programada para a próxima sexta-feira, no Paiol.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
4
01/04/1975

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