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Aramis

O bom samba que a nova geração está mostrando.

Neste Domingo de Páscoa, vamos registrar alguns bons lançamentos de Música Popular Brasileira acontecidos nos últimos meses. Discos que comprovam a vitalidade de nosso cancioneiro, em diferentes gêneros e estilos, DEFINITIVAMENTE - Antônio Carlos (Pinto) e Jocafi (José Carlos Figueiredo) são dois baianos que, pouco a pouco, vem se impondo dentro da música brasileira com um trabalho coordenado, inteligente de máxima comunicabilidade. Na Bahia, Antônio Carlos Pinto fez os seus primeiros trabalhos especialmente para serem interpretados por sua esposa, a sensível cantora Maria Creuza - fase documentada no ótimo lp "Apolo II" ( JS Edições, 1969), disco infelizmente que circulou apenas em Salvador e adjacências. O encontro com o parceiro Jocafi e a iniciativa de virem para o Rio de Janeiro aconteceu no início desta década. Após uma natural fase de vacas magras, em que tiveram, entre outros o apoio de Nonato Buzar, que sempre acreditou no talento da dupla, Antônio Carlos e Jocafi fariam na RCA Victor, um elepe em que tiveram a felicidade de serem produzidos por Rildo Hora, um dos mais talentosos e caprichosos record-man do Brasil. Com este disco ("Mudei de Idéia", BSL: 1547) aconteceu um fato curioso: foi lançado e passou despercebido, até que duas das 12 músicas ali incluídas começaram a se destacar: "Você Abusou" e "Mudei de Idéia". Rapidamente a Victor providenciou uma nova capa, "mais comercial", segundo explica Alfredo Corleto, diretor de promoção da etiqueta, e o lp ficou entre os mais vendidos. Ao fazerem o seu segundo disco ("... Cada Segundo", Victor, 103.0041/72), já eram nomes nacionais, principalmente via telenovela, com êxitos como "Shazam" e "Presepada". Assim, quando partiram para o terceiro elepe tiveram condições de exigir da gravadora maiores recursos e ganharam um álbum com capa dupla, participação de quase cem músicos, produção esmeradissima. Este mesmo esquema de sofisticação foi repetida no ano passado, para a gravação do lp "Definitivamente" (RCA, 110.0005, novembro/74). Afinal, ao lado de Maria Creusa e Martinho da Vila, a dupla está entre os cantores de maior vendagem da Victor, de forma que justifica-se o investimento. Há quatro meses, num jantar informal na residência do compositor Heitor Valente, em Curitiba, Antônio Carlos explicava, com entusiasmo, este seu trabalho musical e reconhecia uma das formulas de seu sucesso nacional (a dupla fatura tranqüilamente mais de Cr$ 200 mil por mês): "Procuramos fazer uma musica de fácil comunicabilidade, com refrães harmoniosos e simples, que o público aprende rapidamente". E realmente, analisando-se a musicografia de Antônio Carlos & Jocafi percebe-se que a montagem de temas simples, mas com muito bom gosto tem contribuído para o sucesso, não apenas no Brasil, mas também na França (onde já tiveram musicas lançadas) e até no Oriente, como aconteceu no ano passado, ao vencerem um festival de música Popular no Japão com uma música chamada "Diacho de Dor", incluída neste novo lp, com a participação especial de Maria Creusa. Antonio Carlos destaca deste seu último lp a música que mostra que esta dupla tem, muito mais talento para mostrar do que até agora realizou, por óbvios e compreensíveis razões comerciais . O maestro :Leonardo Bruno, que no ultimo lp de Maria Creusa ("Sessão Nostalgia", R C A 110.0004, dezembro/74), realizou um trabalho extraordinário criando 7 diferentes vozes para a vocalização de "Pra Dizer Adeus" (num trabalho de 7 horas de estúdio), também é responsável pelos bons arranjos em BG, para coro de vozes, neste lp em que Antônio Carlos e Jocafi tiveram o amparo instrumental de Paulinho na bateria, Luizão no baixo, Neco no cavaquinho, Hermes e Everaldo na percussão; Gilberto D'Avila no surdo; Neném na cuíca; Rildo Hora (também produtor do lp) na harmônica e mais Gilson Peranzzetta e Zé Roberto nos teclados. Na guitarra e violão temos Hélio Belmiro e a participação especial de Leonardo Bruno na belíssima "O Poeta e o cobertor", sem dúvida a melhor faixa deste "Definitivamente" de Antônio Carlos e Jocafi, que embora esteja longe de ser um lp definitivo em suas carreiras, é um honesto disco de música brasileira. Outras faixas: "Dona Flor e Seus Dois Maridos", "Alarme Falso", "Chocolateira", "Sexto sentido", "Maldita Hora", "Terceiro ato" (Romance teatral), "Meia Noite", "Toró de Lágrimas" (uma das musicas de refrão mais fácil, por isso mesmo já sucesso há meses) "Uma ordem sim sinhô" e a música que dá título ao lp. SAMBA SEGUINTE - Quando o grande compositor e cantor Ataulfo Alves (2/5/1909 20/4/1969) faleceu há seis anos, as atenções se voltaram, com justificadas razões, para o trabalho musical de seu filho, Ataulfo Júnior, que já vinha, há algum tempo tentando uma carreira musical. Na Philips, pouco depois faria o lp "O Herdeiro Sou Eu" (Polydor, LPNG 44.038) que passaria, entretanto desapercebido. Só no ano passado, numa caprichada produção de Sérgio Cabral, Júnior voltaria fazer um lp ( R C A Victor, 103.0098), que alcançou bons resultados artísticos e onde mostrou inclusive sambas de Adelino Alves (1936-1969), o primogênito de Ataulfo e que compunha "com aquele sabor bem carioca, exclusivo dos grandes autores tipo Wilson Batista, Geraldo Pereira e o próprio Ataulfo", na opinião de Sérgio Cabral. Agora, acontece o primeiro (cremos) lp de Adeilton Alves, outro dos filhos do bom Ataulpho - e que demonstra que samba se aprende em família. E o que por certo deve deixar o bom mestre Ataulpho bastante feliz no coro celestial da MPB da qual hoje faz parte. Com uma bonita voz que lembra bastante a entonação ritmada e equilibrada de seu pai, Adeilton Alves mostra neste seu primeiro lp ("Samba Seguinte", Copacabana 11947, dezembro/74), nada menos que seis composições próprias: "Saudade e Flores" (em parceria com Delcio Carvalho), "Samba Seguinte"(idem), "Urubu no Galinheiro" (em parceria com Miro) e "É Preciso Cantar" ( com Delcio Carvalho). E claro que o pai e inspirador não poderia ficar esquecido e assim do mestre Ataulpho, o filho Adeilton gravou duas de suas mais belas músicas: "Grades de Luz"(com letra de Orestes Barbosa) e "Rio dos Meus Pais" uma das mais bonitas músicas em torno de tema Rio de janeiro, mas das menos executadas e conhecidas. Para completar o lp, Adeilton (ou o produtor do disco, cujo nome não é mencionado na contracapa) escolheu "Viver é uma Ciência" (Cezão -Pedro Rainho), "Retrato Oficial"(Lino Roberto) e "Esquece de Viver"(Principe Sydnei Martins Leonor). Não vamos repetir aqui o refrão de :"tal pai, tal filho". Mas que o jovem Adeilton Alves é um sambista que justifica o sobrenome ilustre , a exemplo do mano Ataulfo Júnior, não há dúvida. Ainda bem... BENITO DI PAULA/ GRAVADO AO VIVO - Há exatamente uma semana, almoçando em nossa casa, o compositor violonista Paulinho Nogueira (a quem dedicamos hoje o programa "Domongo Sem Futebol", Rádio Ouro Verde, à partir das 15 horas) comentava o "fenômeno" Benito Di Paula. Para muitos, o autor de "Charlie Brown" é um caso de "revelação". Entretanto, para quem, como Paulinho, há muitos anos acompanha a vida artística na noite paulista, sabe que há longos carnavais este pianista-compositor vem tentando seu lugar ao sol. Benito tentou muitos caminhos, buscou várias formulas, até, como na história do Ovo de Colombo, descobriu que na simplicidade do sambão estava a chave para o seu sucesso. Hoje já com uma coleção de músicas cantadas em todo o Brasil, Benito Di Paula é um dos artistas mais disputados por clubes (ontem mesmo esteve fazendo um show no Clube Curitibano), apresentando um razoável programa de MPB na televisão. Enfim, como ele mesmo diz, "esta chovendo em minha horta". Uma chuva há muito aguardada, frise-se! Benito Di Paula, com seus longos cabelos e bigodes, elegantíssimo em trajes de mestre de cerimônias, impôs sua música na noite paulista. Não se trata evidentemente de um gênio, de um nome definitivo da MPB. Mas é um moço que não conhecemos pessoalmente, por sinal honesto em seus propósitos, procurando fazer musicas capazes de serem cantadas com facilidade. Homenageando a mais poética criação dos quadrinhos, o cãozinho Charlie Brown, que Charles Schultz lançou há exatamente 25 anos, Benito acabaria tendo um inesperado sucesso carnavalesco. Há dois anos, "Retalhos de Cetim" e "Violão Não se Empresta a Ninguém" também venderam bastante. Benito Di Paula, sabendo aproveitar o filão - e buscando novos rumos (afinal nenhum filão é inesgotável, e isso tem condenado ao fracasso tantos talentos precoces) para a sua musicalidade, poderá permanecer muito tempo nas paradas de sucesso. E ajudar a mocidade brasileira a cantar nossa musica. Neste seu mais recente lp ("Benito Di Paula Gravado ao Vivo", 1974, Copacabana) temos além do seu maior sucesso, "Charlie Brown", outros sambas interessantes: "Além de Tudo", "Beleza Que é Você Mulher", 'Pare Olhe e Viva"(a mais fraca música do disco, mais parecendo um jingle para a campanha de segurança das estradas, patrocinada pelo DNER), "Vou Cantar Vou Sambar", "Na Casa de Sinhá", "Tributo a Um Rei Esquecido", "Prelúdio n. 4". "Novo Rio" e "Meu Enredo". O BOM E O JUCA - Já que falamos acima em Benito Di Paula e os seus muitos anos para alcançar seu lugar na noite (de sucesso) paulista, é oportuno falarmos de outro compositor de tanto talento quanto Benito, mas que até agora não teve ainda sua merecida chance: Carlos Magno. Apresentando-se há muitos anos nos bares e casas de samba da grande cidade, Carlos Magno ganhou admiradores pela sua extraordinária personalidade artística na qual o primitivismo lírico de seus versos se casa, como em "O Bom é o Juca", com a sofrida sensibilidade da condição de seu povo. Marcus Pereira, quando ainda publicitário, foi um dos boêmios fãs da MPB que entendeu o trabalho de Carlos Magno e assim há 4 anos, num de seus discos-brindes de fim-de-ano (cujo sucesso o animariam a se transformar no ativo produtor fonográfico que hoje é), fez um lp chamado "O Bom é O Juca", exclusivamente com Magno mostrando suas próprias músicas. No ano passado Marcus Pereira reeditou este lp, distribuindo originalmente no Natal de 1971. LEGENDA FOTO 1 - Benito LEGENDA FOTO 2 - Antonio Carlos & Jocafi.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música Popular
35
30/03/1975

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