Login do usuário

Aramis

O belo choro do beatleano Guedes

Para quem até hoje olhou, preconceituosamente, a obra do mineiro Beto Guedes (Alberto de Castro Guedes, Montes Claros, 13/08/1951), um conselho: ouça com atenção a última faixa do lado B de seu novo LP ("Alma de Borracha", Odeon): "Choro e Pai", homenagem ao velho Godofredo Guedes, baiano que sempre gostou de boa música e a quem sempre homenageou em seus discos. Assim como Wagner Tiso, outro mineiro do chamado "Clube da Esquina", já havia feito um "Choro de Mãe" - hoje no repertório internacional do pianista Arthur Moreira Lima - Beto Guedes mostra o seu lado brasileiríssimo, de chorão, nesta faixa de imensa ternura, que confere a este seu sétimo LP-solo um lugar especial. Aliás, ternura é o que não falta no disco, a começar pelas fotos afetivas de capa e contracapa, na qual abraça o seu filho caçula, Ian, 5 anos - imagem das mais enternecedoras. Tem razão Antonio Carlos Miguel, no texto que preparou para acompanhar o novo LP de Beto Guedes: neste "Alma de Borracha", que chega dois anos depois de "Viagem das Mãos", Beto mescla mais uma vez os sons que ouviu na infância na cidade de Montes Claros (norte de Minas), através de seus violeiros, das rádios sertanejas e dos choros do pai Godofredo (saxofonista, clarinetista e compositor), com a música pop que invadiu o mundo na década de 60. Assim Beto criou uma vertente especial - ao mesmo tempo regional e universal - a sua criação tem hoje uma influência marcante entre compositores dos anos 70/80. Muito do que ele plantou nos anos 70, inicialmente participando de trabalho de Milton Nascimento ("Clube da Esquina nº 1", 1971), depois como solista (em 1973, dividindo um álbum com Novelli/Danillo Caymmi/Toninho Horta), é hoje reconhecido mesmo no Exterior. Robert Palmer, crítico do "New York Times", em 4 de maio último, elogiou os seus Lps "A Página do Relâmpago Elétrico" (1977), e "Amor de Índio" (1978). A coincidência do título deste seu novo LP com um álbum dos Beatles ("Rubber Soul") é intencional: Beto nunca escondeu sua condição de beatlemaníaco. Explica: "A direção de minha música vai fundo nos Beatles. Começou com as coisas que eu ouvia em Montes Claros, mas o pontapé mesmo, o que me fez músico foram os Beatles". Além da canção-título, de Telo e Marcio Borges, mais três vieram de outros autores: "Amor Meuzinho" (Tavinho Moura/Fernando Brant), "São Paulo" (Luiz Guedes/Thomas Roth) e "Lágrimas de Amor" (Luiz Guedes/Marcio Borges). Das novas canções de Beto, uma se destaca pela parceria até então inédita. "Objetos Luminosos" escrita com Milton Nascimento e Ronaldo Bastos. Por incrível que pareça, depois de mais de 15 anos de amizade e trabalho, esta é a primeira canção que Beto e Milton fazem juntos. - "Ele sempre deu alguma música para meus discos e tinha pedido um mês para me entregar uma nova canção. Como o prazo venceu, combinamos mais uma semana que também se esgotou. Até que um dia, na casa dele, mostrei uma melodia que tinha começado e em 15 minutos fizemos a música. O Milton é um melodista incrível".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
14/12/1986

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br