Login do usuário

Aramis

O Azor dos bons tempos do rádio

No último domingo, dia 12, faleceu Azor Silva. Radialista dos mais conhecidos e estimados, identificado por mais de 20 anos com a antiga Rádio Emissora Paranaense, da qual foi sempre um dos grandes programadores, o bom Azor morreu sem ter merecido a última homenagem que o grupo paulista que adquiriu a freqüência daquela emissora - hoje FM Scala - pretendia lhe prestar, por nossa sugestão: dar o seu nome ao principal estúdio da emissora no edifício Marisa, na Rua Senador Alencar Guimarães. Com Azor Silva (1921-1987) morre também mais um pouco da memória de nosso rádio. Por estas ironias da vida, o próprio Azor havia sido convocado, há 5 anos, pelo seu velho amigo de transmissões esportivas, Maurício Fruet - quando este estava na Prefeitura de Curitiba, para organizar o Museu do Rádio e Televisão no Paraná. Contratado pela Fundação Cultural, Azor iniciou o trabalho, chegou a montar uma exposição (graças à cessão do acervo de Osny Bermudes) e o projeto foi oficialmente iniciado. Duas reuniões de uma comissão criada para orientar os trabalhos, presidida pelo sr. Nagib Chede, por sinal o proprietário da Emissora Paranaense e fundador da TV Paranaense (onde Azor trabalhou a maior parte de sua vida) foram realizadas, mas, infelizmente, o projeto não deslanchou. Doente, com períodos de menor ou maior restabelecimento, Azor Silva tentou estruturar um plano de trabalho, empreender pesquisas e, principalmente gravar depoimentos dos velhos profissionais do rádio do Paraná, muitos dos quais têm falecido sem dar seus registros históricos da época de ouro de nossas emissoras. Nem o próprio Azor chegou a gravar seu depoimento, ele que, por certo, tanto teria a contar. xxx Como tantos profissionais de sua geração, Azor Silva fez tudo em rádio. Passou por outros prefixos - Independência, inclusive - mas foi na antiga Emissora Paranaense que teve sua presença maior. Hoje, nada mais resta daquela antiga e poderosa organização: o prefixo AM é ocupado há anos pelo messianismo eletrônico da Igreja Deus é Amor, do pastor David Miranda e o canal FM, depois de passar também para o grupo messiânico, foi negociado com o grupo que edita o "Diário do Grande ABC", em São Paulo, e que já possui várias emissoras de rádio. Agora é a FM-Scala, com uma programação soft, exclusivamente de música instrumental, raras inserções publicitárias e que, em poucos meses, conquistou um bom posicionamento de audiência. Nos tempos em que a Emissora Paranaense disputava com as antigas Guairacá (de saudosa memória), Clube Paranaense e Cultura - mais tarde também a Colombo - a audiência, tinha grandes equipes de cobertura esportiva, programas ao vivo e inclusive um auditório. Azor Silva, dono de um bom gosto musical, sempre informado do que havia de melhor em música instrumental (especialmente jazz) procurava divulgar boas faixas, mesmo enfrentando a censura do Ibope, fantasma que sempre esmagou as tentativas de elevar o nível cultural da programação nas emissoras brasileiras. xxx Dentro do projeto que há muito iniciamos - e que espera ainda por conclusão - para resgatar a história de nosso rádio e televisão, a ausência de Azor Silva deixa um grande claro. Ele, como Aluísio Finzetto - falecido há 10 anos - foram pessoas que, idealisticamente, sem jamais terem o reconhecimento (para nem falar em termos de remuneração) merecido, deram uma contribuição sincera, criativa e indispensável para os nossos meios de comunicação.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
17/01/1987

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br