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Aramis

Novo Kubrick só chega dia 21

Quem está com muita pressa para conhecer o novo filme de Stanley Kubrick poderá assistir amanhã, às 22h30min, a pré-estréia de "Nascido para Matar" (Full Metal Jackett), no Cine Astor. Produção demorada - levou mais de 6 anos em preparação e filmagens - este é o principal lançamento deste início de ano, pobre, aliás, em termos de programação. Nas telas, só até dia 21. Ermitão cinematográfico, auto-exilado nos arredores de Londres, entre "A Morte Passou por Perto" (Killer's Kiss, 1953) a "Full Metal Jackett", Kubrick, 60 anos, realizou apenas nove filmes - mas todas obras definitivas e marcantes. É como se vivesse numa reclusão e, de tempos em tempos, enviasse uma mensagem audiovisual, conforme disse a revista "Premiére" (outubro/87), uma das poucas a conseguir uma entrevista exclusiva, longa, na qual Kubrick falou demoradamente deste filme baseado no romance "The Short Timers", de Gustav Hasford, e que desde suas primeiras exibições vem motivando os mais entusiásticos comentários. Como "Dr. Fantástico" (1964), "2001 - Uma Odisséia no Espaço" (1968), "Laranja Mecânica" (1971), "Barry Lyndon" (1975) e "O Iluminado" (1980), "Full Metal Jackett" é um filme para ficar na história do cinema - forte candidato a vários Oscars e que, em todo o mundo, é precedido do maior interesse. Como "Apocalypse Now", de Coppola, e "Platoon", de Oliver Stone, "Nascido para Matar" volta-se à guerra do Vietnã - mas do prisma muito especial de Kubrick. No elenco, há poucos nomes famosos: Mathew Modine, visto anteriormente numa ponta em "Hotel New Hampshire", de Tony Richardson e em "Asas da Liberdade", de Alan Parker, é o recruta Jocker - centro da história, que se passa em dois tempos: na primeira parte, no treinamento para a guerra do Vietnã; depois, na guerra, pouco antes da ofensiva do Tet, em 1968. Um filme com todas as condições de se tornar o primeiro grande êxito de 88 - tanto de público (remember "Platoon", visto por 106 mil espectadores em Curitiba no ano passado) e crítica. Uma importante estréia prevista para os próximos dias na cidade: "Malpertuis", de Harry Kuttel, um cult movie que tem Orson Welles (1975-1965) [?] num de seus últimos trabalhos no cinema. Deve estrear no Ritz tão logo "O Amor Bruxo", de Carlos Saura, deixe o cartaz. Naquela mesma sala, também previsto outro cult movie importante: "O Ilusionista", do holandês Joss Sterling. Espera-se que estes filmes tenham uma prévia promoção, para evitar que se repita o que aconteceu com o excelente "Histórias Reais" (True Stories), de David Byrne, que a Warner queimou na semana passada, marcando inesperadamente no Cine Bristol. Tendo encerrado o III FestRio, um dos 10 melhores lançamentos de 87 no Rio de Janeiro, "True Stories" foi perdido em Curitiba: poucos viram este belíssimo e satírico filme realizado pelo líder do grupo "Talking Heads". Em substituição a "True Stories", o Bristol exibe desde ontem um filme que mistura jovens motoqueiros e vampirismo, com elementos de atração jovem: "Os Garotos Perdidos" (The Last Boys), de Joel Schumacher, o mesmo diretor de "O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas". Como o terror agrada ao público, este filme que tem gente moça no elenco - Corey Hain (do excelente "Lucas - A Inocência do Primeiro Amor"), Jason Patric e Ed Hermann, além de Dianne Wiest (melhor coadjuvante - Oscar 87 por "Hannah e suas Irmãs", também no elenco de "Radio Days", de Allen, que continua em reprise no Luz), poderá tirar a caveira-de-burro que a construtora Tabajara parece ter enterrado ao reformar o Cine Bristol: desde a sua abertura, o antigo Marabá não conseguiu emplacar nenhum sucesso de público. Como passou a perna em Aleixo Zonari, o ex-seminarista Chico Alves está feliz da vida com as boas rendas que "Radio Days" vem obtendo no Luz. De quebra, ainda reprisa "Zelig", também de Allen (sábado, meia noite; domingo, 10h30m). Zonari promete ir a forra: garante que "Ao Redor da Meia Noite", de Bertrand Tavernier, não será reprisado nos cinemas da Fundação Cultural. "Around Midnight" foi o segundo melhor filme do ano e quando encerrou sua temporada no Bristol o gerente da Warner, Lourival, ofereceu a fita para continuar em cartaz num dos cinemas da Fundação. A proposta foi recusada. Agora, todos querem relançá-lo. "O Exterminador do Futuro", de James Cameron, com o halterofilista Arnold Schwarzenegger volta ao cartaz no Plaza, onde já fez uma das maiores bilheterias em 1986. A única estréia nacional é "Chico Rei", de Walter Lima Júnior, a complicada coprodução com a Alemanha que se arrastou por quase 10 anos. Apelidada de "Quilombo II - A Missão", esta produção histórica sobre o lendário Chico Rei, das Minas nas Alterosas, esteve no Festival de Cuba (85), concorreu no RioCine e Brasília (86) e tem uma das melhores trilhas sonoras - de Wagner Tiso, com Milton Nascimento, conjunto Vissungo e a grande Clementina de Jesus em suas duas últimas gravações (edição Sigla). Em lançamento no Groff, "Chico Rei" merece ser visto. No Cinema I, uma comédia na base do pastelão, "Clube Paraíso", de Harold Ramis, cujo elenco mistura deste Peter O'Toole até Twiggy com o compositor reggae Jimmy Cliff e o falecido ator negro Adolph Caeda. A (boa) trilha sonora saiu pela CBS. No mais, os filmes que continuam em cartaz: "Viagem Insólita" (Astor); "Superman IV" (Itália); "Amor Bruxo" (Ritz); "Radio Days" (Luz) e "King Kong 2" (Itália). Para as crianças, domingo, às 10 horas, no Luz, nova reprise de "A Dança dos Bonecos". LEGENDA FOTO - "Chico Rei", no Ritz, filme belíssimo de Walter Lima Júnior.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
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15/01/1988

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