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Aramis

A nostalgia musical dos tempos de Miller

Já houve época em que o cinema americano costumava levar à tela a vida dos grandes nomes da música. Eram cinebiografias romanceadas e glamorizadas, embaladas em trilhas sonoras marcantes, contando desde a vida desesperada de cantoras que soçobravam vítimas do álcool - Helen Morgan (1900-1941), em "Com Lágrimas na Voz" até Fanny Brice (1891-1951), que, interpretada por Barbara Streissand em "Fanny Girl - Garota Genial", lhe valeu o Oscar de melhor atriz em 1968. Portanto, quando o produtor Aaron Rosenberg decidiu, em 1954, transpor à tela a vida do maestro, trombonista e compositor Glenn Miller, os executivos da Universal vibraram com a idéia. Afinal, desaparecido durante um vôo sobre o Canal da Mancha, às vésperas do Natal de 1944, a imagem de Glenn Miller permanecia com o maior ibope junto a milhões de americanos. Sua viúva, Helen, astutamente havia mantido a orquestra, então ainda com integrantes originais - num processo que resistiria por mais de quatro décadas, prova disto é que, há poucas semanas, pela segunda vez a "Glenn Miller Orchestra" fez apresentações no Rio de Janeiro e São Paulo - e só não veio a Curitiba (embora tivesse aqui sido anunciada sua apresentação), devido a (mais uma) irresponsabilidade do empresário. xxx Glenn Miller (1904-1944) nunca chegou a ser um dos maiores músicos de jazz. Seu estilo romântico, suave e extremamente dançante lhe deram, entretanto, uma popularidade que tantos outros instrumentistas e bandleaders, de muito maior inventividade, não alcançaram. Musicalmente, Miller ficou na história das big-bands por ter criado a harmonização de quatro soxofones e uma clarineta, originalidade que, nos anos 30, lhe deram grande popularidade. A música de Glen Miller, que como compositor é dono de econômica obra, permanec entretanto como identificação dos anos 40. Tanto é que quando "Moonlight Serenade" - o prefixo de sua orquestra - entrou na trilha sonora da telenovela "O Casarão", houve um frenesi nacional em busca de suas gravações, estimulando a reedição de seus maiores standards. Há alguns anos, quando Didiê Bettega, diretor da Rádio Ouro Verde, promoveu um concurso entre os ouvintes para a escolha das 10 mais belas músicas de todos os tempos, "Moonlight Serenade" ganhou disparado. Enfim, uma forma de música instrumental, extremamente harmoniosa e deliciosa que resiste a modismos. Portanto, seria de se esperar que um filme contando a vida de Glenn Miller, unindo o drama à música, com a participação de nomes lendários do jazz como Louis Armstrong, Gene Krupa, Ben Pollack e cantoras como Frances Langford poderia repetir, hoje 32 anos após o lançamento do filme, o mesmo sucesso. Infelizmente, isto não aconteceu... "Música e Lágrimas" (Lido II, hoje e amanhã, em sessões às 20 e 22 horas) voltou a ser exibido (no ano passado, já havia tido uma fraca semana no Condor) sem atingir o público esperado. E, para quem pensa que estaria (re)vendo a mesma fita que, na segunda metade dos anos 50, foi um grande sucesso nos cinemas, e a partir da década de 70, teve repetidas reprises na televisão, um engano: a cópia agora em projeção tem cerca de 14 minutos a mais da versão original, desprezada na montagem feita em 1954 por Russel Schoengarth. E, para os puristas, há a maravilha do som Dolby, aliás uma das razões porque a Universal decidiu, há dois anos, relançar "The Glenn Miller Story", foi que ao encontrar em seus arquivos o regisro sonoro do filme, um dos primeiros a ser gravado em estéreo, teve a idéia de reexibi-lo, com som Dolby Stereo e 14 minutos a mais - que haviam sido cortados da cópia internacional, em 1954, com medo de tornar o filme cansativo. A versão ampliada de "The Glenn Miller Story" foi mostrada, hors concours, no Festival de Cannes-85 e, posteriormente, lançada na França, Itália e Alemanha, mas, lá também não encontrando o êxito que se esperava. O que, inclusive, desanimaria o astro James Stewart e a Universal a promoverem o relançamento de outros filmes da época - como a série de westerns dirigidas pelo mesmo Anthony Mann (1906-1967), interpretadas por Jimmy ("E o Sangue Semeou a Terra", "O Preço de um Homem", "Região dos Condenados", "Um Certo Capitão Lockhart", etc.) LEGENDA FOTO - Uma sequência que já vale o filme: Louis Armstrong e sua banda contracenam com James Stewart (Glenn Miller) em "Música e Lágrimas", em reprise no Lido II.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
05/02/1987

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