Nossa memória em computadores
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de setembro de 1987
Com toda razão, vários descendentes de Agostinho Ermelino de Leão Júnior e de dona Maria Clara de Abreu Leão emocionaram-se durante a inauguração do Palacete Leão Júnior, na sexta-feira - restaurado pela IBM Brasil que, no fundo do amplo terreno, construiu sua sede regional.
Inúmeros nomes poderiam ser lembrados num registro jornalístico, merecedores de elogios no empenho que cada um deu para que o projeto chegasse a concretização em menos de três anos - quando o antigo (e abandonado) palacete no qual viveram várias gerações da família, foi adquirido pela IBM - conforme, na época, aqui registramos.
Fazendo-se os cálculos do que é a IBM em seu poderio econômico internacional, os Cz$ 240 milhões investidos na obra - restauração do imóvel e construção de sua moderna sede - não significa muito para uma empresa deste porte. Entretanto, aquilo que seria apenas um investimento privado ampliou-se para a cidade - numa demonstração de como um grupo multinacional pode conquistar a simpatia da comunidade.
Procurando valorizar ao máximo os profissionais do Paraná, foram utilizados talentos de pesquisadores, arquitetos e restauradores de Curitiba, aos quais, naturalmente, somaram-se especialistas vindos de outros Estados, num grande mutirão para fazer com que o palacete projetado e construído no alvorecer do século por Cândido Lopes (cunhado de Agostinho Ermelino de Leão Júnior) fosse recuperado em toda sua beleza e concepção original. Neste trabalho, o arquiteto Jefferson Dantas foi o grande artífice, orientando uma equipe que por mais de um ano desceu aos mínimos detalhes, numa operação exigindo paciência e competência oriental para ser bem sucedida.
A escolha da professora Cassiana Lícia Lacerda Carolo, para coordenar todo o projeto de pesquisas e montagem das exposições - no qual, buscou também a competência de um profissional como Domício Pedroso e a segurança da historiadora Cecília Maria Westphalen, foi também significativa para que a realização fosse completa. Valorizando uma equipe de auxiliares na pesquisa, buscando as informações corretas junto a grande família Leão, que se espalha em inúmeros ramos a partir do tronco de Agostinho Ermelino de Leão (Salvador, 28/08/1797 - Recife, 16/01/1863) e cujas origens remontam a Caramuru (Diogo Alvares Correa - ? - século XV). Família das mais tradicionais no Paraná, os Leões espalham-se ao longo de gerações por várias atividades, havendo nada menos que cinco varões com o mesmo nome o que torna difícil a compreensão da árvore genealógica, com tantos descendentes. Aliás, uma das idéias que poderá ser desenvolvida no Espaço cultural do Palacete Leão Júnior, é a de passar para o computador a própria "Genealogia Paranaense", do historiador Francisco Negrão (1871-1937), obra interrompida há 50 anos passados - e nunca mais retomada, mesmo em reedições dos volumes publicados pelo autor (a partir de 1906).
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São inúmeros os aspectos culturais que o novo espaço cultural que Curitiba ganhou poderá abrigar. Além das instalações físicas em área privilegiada, e a total disposição da IBM em patrocinar projetos, há - pela própria característica da empresa - as potencialidades da informática, agrupando, organizando e colocando ao acesso de todos, milhões de informações sobre a nossa história, economia, vida associativa e artística em forma de ser dada a todos os interessados, através de terminais de computadores - facilmente acionados.
Tudo aquilo que os órgãos oficiais da Cultura e mesmo as nossas duas Universidades deveriam fazer - mas que nunca fizeram sobre as mais diversas alegações - pode se concretizar agora. Com a vantagem de que sendo um espaço mantido por uma empresa privada, a autofagia tão característica do paranaense como é o pinhão, fica, de princípio, congelada - e, isento de politicagem e mau-caratismo, o Espaço Cultural Leão Júnior torna-se uma central de inteligência e preservação da memória de nosso Estado, a altura deste final de milênio.
É a esperança!
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