Login do usuário

Aramis

Nos botequins da cidade

Tema fascinante para uma tese de mestrado em sociologia urbana é o estudo dos bares e botequins como pontos de encontro. O crescimento da cidade provoca o desaparecimento de locais que, durante décadas, marcaram a convivência, o encontro, o bate-papo de várias gerações. A Rua XV de Novembro, apesar de toda a humanização dada na administração Jaime Lerner, perdeu, nos anos 60, alguns de seus mais tradicionais endereços. Bares das vizinhanças também soçobraram frente a especulação imobiliária, já que, geralmente instalados em velhos sobrados, não ofereciam rentabilidade que justificasse, aos proprietários dos imóveis, a sua manutenção. E, onde antes havia bares como o Trocadero ou pérola, hoje há joalherias, bancos, corretoras, etc. No centro da cidade, poucos bares resistem. Entre eles o Americano, na Rua Marechal Deodoro, e o Stuart, na Praça Osório. Outros endereços que são até citados em contos e romances - como o Buraco do Tatu, descaracterizou-se ao ser transferido para a Rua Jacarezinho, nas Mercês. A maioria simplesmente acabou. Nos bairros, entretanto, ainda há bares, botequins e mesmo churrascarias que conseguem exercer o seu papel comunitário, de integração humana. Um dos melhores exemplos é o Bar Botafogo, de Irineu Mazarotto, na Avenida Manoel Ribas, que se integra - embora separado fisicamente - a churrascaria Botafogo, na Rua Lycio Castro Velloso, onde se come uma das melhores costelas da cidade. Freqüentando não só pelo pessoal do bairro, mas também por jornalistas e, principalmente, publicitários, o Botafogo é tema para um ensaio, o que aliás um de seus fiéis fregueses, o publicitário e advogado Sérgio Fernando Mercer promete fazer um dia. E a musicalidade espontânea do ambiente, ganha neste fim de semana uma reunião que será ampliada, mesmo aos não habitues do ambiente: na sede do Botafogo E.C., que funciona em cima da churrascaria, haverá uma noite de Serestas, com a presença de músicos profissionais - como o tecladista Lalo - e armadores. Gente como o ex-radialista e hoje milionário Rinoldo Cunha, ex-cantor de tangos na noite porteña. Orlando, bolerista de fazer inveja a Roberto Yanez, sambistas como Careca, Edson e Mercer e até um Trio de Prata, farão uma música muito própria, espontânea e válida. O único risco, no momento em que se tenta organizar noites de Serestas como está, é descaracterizar o ambiente. Afinal, a espontaneidade - leia-se, uma certa bagunça - é que faz do botequim aquilo que é mais próprio. E que Nelson Cavaquinho sabe dizer também em seus sambas, a tal ponto que Beth Carvalho não poderia ter escolhido melhor título para o seu último elepê na RCA Victor: "Nos Botequins da Vida".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
25/11/1977
Dia desses, tomando uma cerveja no bar Botafogo, fiquei pensando quantas cervejas meu pai (Rinoldo Cunha) já não tinha tomado por lá. Agora este texto para rememorar. Sensacional trabalho Aramis!
Aramis , morador que fui nos idos de 1957 a 1967 na Rua Marechal Floriano n.o 48 , em frente ao antigo boteco Buraco do Tatú(que saudades)que ficava ao lado do antigo Banco do Comércio e Industria do Paraná(acho que é isso),se eu estou lembrado o Bar Americano ficava na Marechal Floriano descendo em sentido a praça Carlos Gomes , ficava no lado direito da Marechal Floriano,após a rua XV quase no meio da quadra ao lado do cartório.Na época que a marechal ainda era calçada com paralepipedo até a chegada do Ivo. Digo isso porque meu pai tinha um amigo que tinha uma pastelaria na porta do bar Americano e se não me engano foi o criador do 1.o risólis que época era chamado de pastel a milanesa. Me corrija se eu estiver errado. Buraco do Tatú , a melhor carne de onça de Curitiba,na época uma fatia com aquela broa de pão preto assado em forno a lenha de bragatinga , para mim era um almoço. O antigo dono era chamado de Sansão , não sei se era nome ou apelido , não me lembro se era vesgo ou tinha um problema em um dos olhos , mas quando falava comigo , sómente um dos olhos olhava para mim.Se não me engano eram em 3 irmãos , quem acabou com esta parte da história de Curitiba foi o progresso , o Ivo não teve culpa de ser o executante . Depois dali foram para a Westphalen esquina com a Pedro Ivo e eu sempre ia comer a minha carne de onça , saudosa infância , porque na Pedro Ivo meu pai abriu uma pastelaria , na época que o Exército , tinha não sei era QG na praça Rui Barbosa. Dali saímos e também o Buraco do Tatú , eu sentia no olhar do Sansão a tristeza de ter saído da Marechal Floriano , pois não era a mesma coisa , o local era mais espaçoso , mas não tinha a magia do Buraco do Tatú , buraco mesmo era um corredor com aproximadamente 3 metros de largura por uns 10 a 12 metros de comprimento , nessa largura cabiam o balcão e o pessoal de pé. Um abraço

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br