"Nos bastidores do Oscar", para entender a premiação
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de março de 1990
Até os anos 70, o Oscar era uma referência a mais no mundo do cinema. Como os filmes premiados chegavam ao Brasil meses depois da festa da entrega, as notícias publicadas, muitas vezes sem maior destaque, na imprensa, acabavam diluídas - e mesmo com os anúncios e noticiários relativos aos filmes que tinham sido premiados - pouco contavam para o grande público. Entretanto, a partir da transmissão via satélite da festa o seu poder cresceu e hoje é o programa de maior audiência mundial - e o principal marketing para a indústria cinematográfica obter uma grande reação de público junto aos cinemas cada vez mais esvaziados.
Portanto, tudo que diz respeito ao Oscar torna-se notícia e há meses que os mais generosos espaços vêm sendo dados aos filmes indicados nas diferentes categorias, previsões, históricos, etc., em relação a um evento que, neste ano, se dá ao luxo de se internacionalizar em sua realização - com transmissões simultâneas ao vivo em várias metrópoles.
A bibliografia do Oscar cresce. Das paleolíticas menções que pesquisadores mais fanáticos podiam encontrar nas históricas coleções de "A Scena Muda" e "Cine Arte" nas primeiras décadas, passando depois para "Cinelândia" e "Filmelândia" nos anos 50, chegamos ao jornalismo que embora voltado ao vídeo - com revistas como "Set", "Vídeo News", "Vídeo Class", etc. - dedicam edições especiais. A brava Cinemin fez mais: depois de publicar em fascículos mensais, durante um ano, o mais completo documentário sobre os filmes premiados (e indicados) entre 1927/88, editou em livro este material referencial, num trabalho magnífico do cinéfilo e publisher Fernando Albagli.
A literatura do Oscar é imensa: existe uma dezena de livros referenciais a respeito desta premiação, esmiuçando-a em seus mais diferentes aspectos. E o interesse chegou a tal ponto que, neste ano, uma nova editora - a Trajetória Cultural, divisão do Grano EPC (Rua Dr. Alberto Seabra, 1290, São Paulo), lançou um livro-base fundamental para que se compreenda melhor este evento que, em sua 62ª edição, será acompanhada por aproximadamente um bilhão de telespectadores, em todo o mundo, amanhã - em horários diferentes conforme a posição geográfica de cada país.
"And the winner is: os bastidores do Oscar" de Emmanuel Levy (tradução de Magda França Lopes, prefácio de Carlos Eduardo Lins da Silva, 418 páginas, Cr$ 1.550,00, à venda nas livrarias do Chain e Ipê Amarelo) é não apenas uma obra referencial sobre quem foi indicado e ganhou a estatueta - informações que o volume de Cinemin/Ebal supre perfeitamente. Emmanuel Levy, professor de Sociologia e Cinema da Universidade de Columbia, fez o primeiro estudo sociológico sobre o Oscar, que escrito em linguagem jornalística, simples e direta, "tem todos os ingredientes para ser devorado por qualquer pessoa que goste de cinema" como diz a editora, numa frase-clichê que não pode deixar de ser transcrita. realmente, após passar quatro anos num trabalho de pesquisa, não só junto à biblioteca da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood mas em inúmeras outras fontes, recolhendo o máximo de informações em torno das 59 premiações estudadas (o livro encerra em 1986, faltando apenas os 4 últimos anos), Levy pode oferecer uma interpretação vigorosa do prêmio, dos critérios com que o mesmo é concedido, a forma de escolha, o comportamento de votantes e premiados, a própria evolução do cinema e do mundo nestes 58 anos pesquisados - enfim, numa visão de conjunto que possibilita que se possa ter, a partir da leitura desta obra absolutamente indispensável, um novo entendimento de um evento que - acima de polêmicas e discussões - envolve os interesses muito além da comunidade cinematográfica e que hoje se transformou num totem empresarial de milhões de dólares.
LEGENDA FOTO - Kathryn Hepburn: 11 indicações ao Oscar, a campeoníssima.
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