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Aramis

Norton promove encontro de Norton com Piazzolla

Estava quase tudo acertado para a excursão que Norton Morozowicz faria neste início de ano ao Oriente. Apresentações previstas em Hong Kong - em duo com a pianista Glacy Pena Forte (de Goiânia) e também a regência da principal orquestra daquela cidade, além de possíveis apresentações em países vizinhos - talvez mesmo Japão e Tailândia. Concertos marcados, cachês acertados e a chance de abrir um novo mercado internacional - no qual até hoje poucos músicos eruditos brasileiros apresentaram-se. Entretanto, Norton foi obrigado a adiar para 1999 esta sua conquista artística do Oriente. Por uma razão muito simples e que só o valoriza como artista: são tantos os compromissos assumidos pela Orquestra de Câmara de Blumenau que se tornou impossível sua ausência por um período de 60 dias do Brasil. O organizador da turnê oriental de Norton entendeu as suas razões e já prometeu que não haverá problemas no adiamento. Um outro fato também contou muito: o excesso de trabalho que Morozowicz desenvolveu nos últimos meses o estava levando a um stress e assim, por ordem médica, as últimas duas semanas foram de descanso - inicialmente em casas de parentes de sua esposa, Vica em Montevidéu e, neste final de ano, na praia. Agora, Norton está retornando, com força total para enfrentar um calendário dos mais movimentados por todo o ano. xxx Além de dezenas de concertos nas melhores salas do país, a Orquestra de Câmara de Blumenau, da qual Norton foi um dos fundadores e é seu titular, encerrou 1988 com o lançamento do sétimo elepê em apenas oito anos de existência. Patrocinado pela Basf - mas com edições já nas lojas, selo Estúdio Eldorado - o novo disco da Orquestra de Câmara de Blumenau tem condições de ficar entre os mais procurados, além de merecer elogios da crítica. Mantendo a qualidade que fez a Orquestra de Blumenau ter um reconhecimento nacional, o novo disco idealizado por Norton tem características para chegar a um público maior: "Encontro Jobim/ Piazzolla". Numa feliz idéia, Norton idealizou um álbum no qual de um lado incluiu as belíssimas modinhas de Vinícius de Moraes (1913-1980) e Antônio Carlos Jobim, pouquíssimas conhecidas e, no lado B, cinco temas do mais importante compositor (e instrumentista) latino-americano, Astor Piazzolla. As modinhas e canções de Tom Jobim - "Canta, Canta mais", "Sem Você", "Por toda a minha Vida", "Eu não Existo sem Você", "Modinha" e "Estrada Branca", tiveram na soprano Lenita Bruno (08/12/1929 - 30/08/1987) uma esplêndida gravação ("Por toda minha Vida", Philips, 1965), mas que, praticamente, poucos conhecem. Acrescentado-se a histórica "Canção do Amor demais", que deu título ao LP - marco da Bossa Nova, gravado por Elizeth Cardoso há 31 anos (etiqueta Festa abril/59), produção de Irineu Garcia, em arranjos do maestro Guerra Peixe, Norton conseguiu um material especialíssimo. E para interpretar estas modinhas e canções, numa leitura belíssima, escolheu a soprano Angela Barra, 28 anos, goiana, que é desconhecida no Brasil porque só retornou há poucos meses dos Estados Unidos onde fez cursos superiores em canto. Portanto, somando a competência dos 12 violinistas, 4 executantes de violas, 4 violoncelos, mais contrabaixo (Helinho Brandão), flauta (Zelinha Brandão), oboé (Luiz Carlos Justi), clarineta (José Botelho), fagote (Noel Devos), harpa (Hélio Ricardo Leite) e piano (Pedro Dominguez), da Orquestra de Câmara de Blumenau, esta gravação (parte técnica executada por Frank Justo Acker, responsável por todas as produções de Norton) revela, para muitos, um lado até hoje pouco conhecido da obra de Tom e Vinícius de Moraes. xxx Igualmente, o lado dedicado a Astor Piazzolla não poderia ser melhor. Norton buscou cinco temas do grande compositor, bandoneonista e regente argentino, capazes de se ajustarem à formação camerística de sua orquestra. Assim com arranjos de José Bragatto - colaborador há muitos anos de Piazzolla - temos "El Calambre", "Melodia em Lá Menor", "La Muerte del Angel", "Berceuse" e a emotiva "Primavera Porteña". Com este repertório, a OCB fez concertos em dezembro, no Rio e São Paulo, exclusivamente para convidados da Basf, com o lançamento do álbum. A qualidade obtida por Norton foi tamanha que a diretoria da Basf, entusiasmada pela obra de Piazzolla, se dispôs a patrocinar a vinda ao Brasil de uma companhia argentina para apresentar em algumas cidades a ópera "Maria de Buenos Aires", de Piazzolla e Horácio Ferrer. Grande sucesso nos anos 60 (existe uma gravação, lançada pela Polygram), "Maria de Buenos Aires" foi uma ousada experiência de Piazzolla e Ferrer (hoje inimigos artísticos) em renovar a ópera tradicional argentina. xxx Anteriormente a Orquestra de Câmara de Blumenau já havia realizado gravações com obras de Nepomuceno, Radamés Gnatalli, Villa Lobos, além de autores mais jovens. Agora, com "Encontro Tom/ Piazzolla" sua arte é levada a platéias maiores. E este ano, afora inúmeros concertos programados no Brasil, há possibilidades de acontecerem apresentações internacionais inclusive em Washington, em novembro. Para setembro de 1990 estão previstos concertos da OCB no Mozarteum, em Salzburg, Áustria, tendo como solista a pianista Ingrid Haebler (que em suas duas vindas ao Brasil, se apresentou com a OCB), com esticada a Munique - concerto com o violoncelista Antônio Menezes e, ainda possíveis apresentações no Festival de Brno, na Checoslováquia. Enfim, consolidado no Brasil, o mundo é o limite para o talento de Norton e dos jovens instrumentistas que integram a Orquestra de Câmara de Blumenau. LEGENDA FOTO - Piazzolla: gravado pela Orquestra de Câmara de Blumenau e também com novos temas em seu último álbum.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
05/01/1989

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