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Aramis

A noite do cabrito

Há 40 anos, quando Curitiba era uma pacata cidade de menos de 100 mil habitantes, com pelo menos 30% das famílias mantendo uma vida associativa mais íntima e tranqüila, havia um costume bastante simpático, embora um pouco brincalhão, nas vésperas do Ano Novo: "tomava-se emprestado" nas pequenas chácaras que existiam às centenas dentro do perímetro urbano, galinhas, leitões, cabritos, carneiros ou mesmo bezerros que, devidamente preparados, eram servidos no almoço ou jantar do dia 1o do ano novo, tendo como convidado de honra a família proprietária da matéria-prima que, ingenuamente, só percebia a brincadeira, de bom apetite, pode-se classificar, dias depois, ao dar pela falta dos animais ou aves, surrupiados e servidos na refeição de confraternização. Xxx A cidade cresceu, as pequenas chácaras desapareceram frente aos loteamentos e a própria convivência comunitária modificou-se. Hoje, quando os animais, nos sítios e fazendas mais distantes, desaparecem, é porque foram levados mesmo por amigos do alheio - e não amigos que se dando ao trabalho de prepará-los, convidam os proprietários para o almoço no dia seguinte. Xxx Espírito brincalhão e amante das tradições curitibanas, o deputado Maurício Fruet, decidiu reviver o espírito do "empréstimo para o almoço", neste final de ano. Junto com um fiel amigo, o excelente cozinheiro João do Bucho (João Adriano Moreira, 51 anos). Fruet, na calada da madrugada de 31, foi na chácara de seu amigo e companheiro de partido, o vereador Admar Bertoldi, e "levou emprestado" um gordo cabrito e um atraente carneiro, que, na manhã do dia 1o , João do Bucho preparou com arte e requinte, garantindo um lauto jantar na residência de Fruet na rua Chile. Os convidados de honra foram a família Madalosso e o casal Bertoldi, já que Admar é genro do velho pioneiro de Santa Felicidade. Xxx O jantar foi excelente, regado a vinho do Reno, que Maurício trouxe de sua última viagem a Alemanha. João do Bucho recebeu cumprimentos pelo tempero e todos foram dormir satisfeitos. Xxx Na segunda-feira, Maurício recebeu um telefonema de Admar Bertoldi. - Fruet, por um acaso aquele cabrito e carneiro que v. nos ofereceu no jantar de quinta-feira, não eram de Santa Felicidade? - Por que? Respondeu Fruet. - É que a carne estava tão gostosa que até hoje sinto na boca o paladar. E isso é uma particularidade que tem os cabritos e carneiros que eu crio em minha chácara. Xxx Como diria Millor Fernandes: "pano rapidíssimo".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
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07/01/1976

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