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Aramis

Noel Rosa (1910-1937)

Se no ano passado, João Luiz Ferreti mereceu a escolha de "pesquisador do Ano", em termos fonográficos, apontado por alguns críticos e jornalistas paulistas, em 75, por certo, seu nome, não será esquecido em votações mais importantes - e não me surpreenderei, inclusive, se não vier a receber o troféu "Estácio de Sá", que o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro anualmente outorga a uma personalidade que tenha dado grande contribuição a nossa emepebe. Outro que poderá receber este troféu será Ricardo Cravo Albim, que foi, justamente, quem criou, há dez anos, quando desenvolveu a extraordinária administração que projetou o MIS, consolidando seu pioneiro trabalho em favor de nossa emepebe e incentivando vários sucedaneos (embora mal sucedido, com raras exceções), Brasil afora. Tanto Ferreti, como Albin, vem se preocupando com a preservação de nossa memória musical - tão necessitada de fosfato, e a qual, em termos de aglutinação dos esparsos (e esquecidos) pesquisadores, temos tentado dar nossa contribuição, Ferreti, ex-radialista, coordenador da série de fascículos sobre MPB da Abril Cultural (70-72), cada vez mais requisitado para elaborar contracapas de reedições, pela Chanceler/Continental, vem desenvolvendo um trabalho sério, altamente profissional, regular. Pela primeira, com matrizes da americana Decca, com registros importantes - ligados ou não a nossa emepebe (já saíram elepes de Carmem Miranda e o Bando da Lua) e através da Continental, a fundamental Série Histórica, que não nos cansamos de louvar em todas nossas colunas - tal a sua importância. Por ela foram reeditados os melhores trabalhos de Francisco Alves, Jacob do Bandolim, Waldir Azevedo, Nelson Cavaquinho, Dick Farney, Lúcio Alves, Tom Jobim & Billy Blanco (inclusive a "Sinfonia do Rio de Janeiro"), Anjos do Inferno, Dorival Caymmi, Os Cariocas, Paraguassu, afora um álbum duplo de músicas de Carnaval. Agora, na regularidade mensal, aparece, no primeiro aniversário da série, um elepe dedicado a Noel Rosa (1910/1937) que cinco anos passados foi o escolhido para inaugurar a série MPB da Abril. Se espaço maior dispuséssemos, seria necessário toda uma página para falar sobre a importância de Noel, dentro da emepebe. Mas, felizmente, após injustiçado e esquecido por muitos anos, Noel passou a ser (re) valorizado e conhecido - de forma que menos interessados em MPB sabem de sua importância. Para este redescobrimento de Noel foi fundamental a gravação de um álbum de 3 discos, em 78 rpm em 1951, por Araci de Almeida, com algumas das músicas que constituem a face B deste elepe: Aracy, considerada a melhor intérprete do Poeta da Vila, aqui apresenta os clássicos "Conversa de Botequim" (parceria com Vadico, gravação de 18/9/50), "Feitiço da Vila" (parceria com Vadico, mesma data de gravação). "O X do Problema" (mesma data); "Silêncio de Um Minuto" (gravado em 27/3/51); "Com que roupa?", participação do Trio Madrigal (formado por Eda Niemar, Lolita Freire e Magda) e o Trio Melodia, formado por Paulo Tapajós, Albertino Fortuna e Nuno Roland, registro de 27/3/51 (embora na ficha técnica) e "Fita Amarela" (numa gravação de março/55). No lado A do disco está, em termos documentais, a preciosidade maior: a voz baixa, irônica, do próprio Noel mostrando cinco de suas músicas e um outro samba "Felicidade") de um amigo (René Bittencourt, lançado em janeiro/32). Das gravações que Noel fêz na antiga Columbia, Ferreti selecionou para esta histórica e importante reedição "Gago Apaixonado" (lançamento em março/31), "Mentiras de Mulher" (lançado em janeiro/32), "Mulher Indigesta" (lançado em março/ (em parceria com Francisco Alves, duo com Ismael Silva, lançado em junho/33) e "Positivismo" (em parceria com Orestes Barbosa, lançado em setembro/33). Acompanhando Noel, em "Mulher Indigesta" aparece o famoso grupo Os Sete Diabos, Como Ferreti oferece importantíssimas informações sobre Noel, Araci e uma época feliz da MPB. Um disco fundamental, indispensável a quem se interessa pela nossa melhor emepebe, este volume 12 da série "Ídolos MPB" (que realmente justifica a frase que consta (sem razão) em todas as capas de elepes: "Disco é Cultura". Realmente, um disco de Noel Rosa é cultura. O mesmo não se pode dizer de um elétrico enlatado importado como do grupo The Swfits ou qualquer outra besteira anglo-americana. Infelizmente, os dois concorrem juntos e o nacional acaba perdendo. Quaesque tanden ... xxx Finalmente lançados os primeiros três volumes da básica coleção "100 Anos de Música Popular Brasileira" (Tapecar/ Projeto Minerva), aproveitando dos tapes dos 23 programas, de meia-hora cada um, produzidos por Ricardo Cravo Albim para o Projeto Minerva/MEC. Oferecidos à Tapecar, o simpático Manolo, um record-man de profundas preocupações com a nossa MPB (haja visto os excelentes sambistas que vem lançando e prestigiando por sua gravadora), os tapes resultaram em oito álbuns, capas duplas, didáticos textos explicativos, sobre cada fase abordada. No próximo domingo registraremos com mais vagar os 3 primeiros álbuns, colocados á venda a partir de quinta-feira da semana passada, do belo show "MPB - 100", que Albin apresentou no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, com Altamiro Carrilho e conjunto, Paulo Tapajós, Elsa Soares e Rosana Toledo - num grande encontro.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
57
24/08/1975

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