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No Paraná, cresce a oposição a Lacerda

Ao fazer uma análise da situação do músico profissional em nível nacional, durante o painel em que participou no seminário Acorde Brasileiro, em Tramandaí, o violonista Maurício Tapajós lembrou um fato da maior gravidade: a forma sub-reptícia (e desleal) com que as diretorias regionais da ordem dos Músicos do Brasil promovem para as renovações de seus conselhos. Para evitar que associados não comprometidos e desejosos de que haja uma necessária renovação sejam eleitos, os velhos pelegos que comandam a OMB, em suas seccionais, só fazem a convocação das eleições de forma obscura, publicando o edital em jornais de mínima circulação e mesmo no "Diário Oficial", impedindo, assim, que a oposição se organize e possa influir nas eleições. Isto aconteceu no Rio Grande do Sul - conforme foi denunciado durante o Seminário e se repete em outros Estados. Ao falar sobre a questão no Paraná, Maurício foi elegante e objetivo: tinha conhecimento de que dois grupos - um, ligado a estrutura que se perpetua na OMB-PR há anos - e outro, oposicionista, tentavam organizar o sindicato. A informação está um pouco defasada: o maestro José Bento Lacerda, músico militar que há anos preside a seccional, conseguiu já formar o sindicato dos Músicos Profissionais do Paraná e, interinamente, acumula sua presidência. Os músicos oposicionistas (que têm crescido, aliás, cada vez mais) desistiram de obter a carta sindical, mas não abandonaram a decisão de derrotar Lacerda e seu grupo. Para tanto, estão atentos quando da convocação das eleições para a escolha da diretoria efetiva. Então, organizados, os músicos paranaenses que se preocupam com os desmandos de Lacerda na entidade - e que podem se repetir também no Sindicato - tudo farão para que o Paraná passe a formar, ao lado do Rio de Janeiro e Bahia, aquela frente de instrumentistas sindicalizados que, conscientes de seus direitos, buscam um posicionamento digno e honesto. No Paraná - como em outros Estados - o maior inimigo dos músicos é o desinteresse. Tanto é que simplesmente por falta de qualquer presença da classe, o antigo Sindicato do Estado do Paraná, fundado pelo pistonista Osval Siqueira Dias, 62 anos, ainda nos anos 60, acabou tendo sua carta sindical cassada pelo Ministério do Trabalho. Ou seja: a falta de interesse da categoria foi tamanha que não houve condições do sindicato sobreviver. A Ordem dos Músicos do Brasil - secção do Paraná também tem passado por sucessivas crises. No ano passado, os músicos tentaram a criação de uma associação pró-Sindicato, estimulada especialmente pelo violonista e compositor João Gilberto Tatara e o cantor Natinho, 45 anos, baiano radicado no Paraná há muitos anos. Entretanto, divergências internas afloraram e a associação não evoluiu. Com esta divisão, beneficiou-se Bento Lacerda, que já na direção da seccional da OMB, também conseguiu arregimentar assinaturas e documentação para a formação do sindicato da categoria, do qual tem agora a presidência. Homem violento e irritado, com arestas em múltiplos setores, Bento Lacerda tem se preocupado em fazer uma administração paternalista na entidade. Entretanto, a oposição existe e vai se aglutinar, apesar de uma tradicional falta de interesse dos músicos paranaenses. Que o digam, experiências anteriores aqui tentadas - como o Mapa (Movimento de Atuação Paiol), o Pipa , Miau e outras propostas de reunir compositores e instrumentistas que não passaram, infelizmente, de siglas bonitas e algumas tumultuadas reuniões.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
18/12/1986

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