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Aramis

No escuro, Black faz a sua pior chanchada

Black Edwards, quem diria, acabou chanchadeiro! Triste constatação. Um dos mais competentes cineastas do cinema americano a partir da década de 50, com momentos marcantes em sua carreira, capaz de fazer, para só citar exemplos recentes, comédias de costumes como "Mulher Nota 10" e "Assim é a Vida", sem falar numa dilacerante crítica a própria Hollywood ("S.O.B.") parece uma montanha-russa em termos de realização: sua carreira tem deslizes e derrapões incompreensíveis para quem está ligado à indústria cinematográfica há três gerações (seu avô, J. Gordon Edwards, foi famoso diretor do cinema mudo e realizou 53 filmes para o produtor exibidor William Fox; seu pai, Jack McEdwards, foi assistente de direção por muitos anos). Assim como o paulista Walter Hugo Khouri é, assumidamente, um cineasta sofisticado, que sabe sempre colocar suas psicanalíticas tramas de sexo & erotismo em ambientes dos mais atraentes (e confortáveis) visualmente, Edwards sempre sentiu-se melhor quando transita com personagens ricos, em mansões, restaurantes de luxo, conversíveis e encantadoras praias. Com raras exceções ("Vício Maldito/Days of wine and rose", 63, um dos melhores momentos de sua carreira, abordando o alcoolismo) ou o frustrado western "Os Dois Indomáveis" (The Wild Rovers, 71), sua extensa filmografia é marcada pelo requinte - o que sempre estabeleceu uma empatia para com o público pois, como dizia Joãozinho Trinta, o carnavalesco da Beija Flor, "povo gosta de luxo e riqueza/intelectual é que aplaude a miséria". "Encontros Às Escuras" (cine Astor, 5 sessões) tinha ingredientes que o poderiam fazer uma comédia deliciosa: as confusões de uma bela jovem, Nadia Grates (Kim Basinger de "91/2 Semanas de Amor") que não resistindo a um gole de champagne arma as maiores complicações num jantar de negócios, no qual é levada por um jovem candidato a yuppie, o analista financeiro Walter Davis (Bruce Willis). As confusões se sucedem ao longo de uma noite de atrapalhadas, as quais se acrescenta um ex-namorado de Nadia, o neurótico David Beford (John Larroquette). Há 20 anos, em "Um Convidado Bem Trapalhão" (The Party, 1968), em praticamente um único cenário - também uma mansão hollywoodiana, se sucediam atrapalhadas conduzidas por um ator hindu (uma das melhores criações de Peter Sellers). Entretanto, neste "Encontro Às Escuras" tudo funciona mal: o roteiro de Dale Laudner praticamente inexiste e a impressão que se tem é de que o próprio Edwards se desinteressou em dar um encadeamento lógico a narrativa, pois admite-se o non sense, o vaudeville (buscando na ridícula seqüência em que Nadia vai dormir na casa de seu futuro sogro. o juiz Herold Beford), mas, na forma com que se desenvolveu a trama (sic) neste "Blind Date" é de se ter saudades das antigas chanchadas da Atlântida. O velho Watson Macedo, em preto e branco, criava situações melhores... Como sempre, Edwards usa e abusa da sofisticação: escolheu para uma das seqüências de uma amalucada festa a mansão de Baron Hilton (que foi o primeiro sogro de Liz Taylor), fundador da rede de hotéis Hilton. Para outra seqüências, uma galeria de arte erótica foi criada especialmente pelo artista Robert Kalafut. Logo no início, há um cena num estúdio de gravação com a participação do mais importante guitarrista do jazz contemporâneo, Stanley Jorden, mas que também é mal aproveitada: o notável instrumentalista nem chega a executar um tema completo. Em compensação, numa seqüências ambientada numa discotheque ouvem-se três dispensáveis músicas com Billy Vera, um músico de Los Angeles - com seu grupo Billy and the Beaters. Como a trilha sonora é de Henry Mancini, numa 24ª associação com Edwards, esta decadência musical também é inexplicável: afinal, Mancini já teve 12 indicações (e Oscars) por trabalhos feitos com Edwards, incluindo "Moon River", da trilha de "Bonequinha de Luxo" (Breakfest at Tiffany's, 61). Mas Mancini também deve ter se desanimado com os desastres deste filme no qual até um fotógrafo excelente (Harry Stradling) foi desperdiçado. O elenco, idem: John Larroquette e William Daniels são pífios. Enfim, um momento menor na carreira de Black Edwards, totalmente dispensável - embora parte do público consiga rir de algumas seqüências. Mas é só isto mesmo: pura perda de tempo!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
16/12/1987

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