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Aramis

No campo de batalha

1) - Dois dos mais belos rostos internacionais presentes no festival não estão nas telas, mas sim no júri de longa-metragens. A espanhola Assumpta Serna, que Pedro Almodovar lançou em "O matador", (e que há três anos esteve no Rio, quando aquele filme disputou pela Espanha) e que recentemente participou das filmagens, na Bahia, da produção americana "Wild orchide". Já a francesa Helena Bonham Carter, cabelos pretos, pele branquíssima, apesar dos conselhos para não se expor ao sol fortíssimo, na manhã de quarta-feira, já parecia queimadinha. Ela atuou em "Lady Jane" (somente editado em vídeo no Brasil) e em "Uma janela para o amor" (A room with a view), de James Ivory. Seu último filme é a versão que Liliana Cavani fez da vida de São Francisco de Assis, com Mickey Rourke. Ela interpreta Clara, namorada na infância de Francisco, depois religiosa e finalmente canonizada. 2) - Uma das pessoas mais estimadas da comunidade cinematográfica é dona Lúcia Rocha, 70 anos, mãe de Glauber (1939-1981) e Aneci Rocha (1943-1977), que desde a morte de seu filho vem se dedicando a reunir tudo que se relaciona à sua vida e obra para o "Tempo Glauber", o que após funcionar algum tempo junto ao MIS-RJ, tem, desde 1987, sua sede definitiva na rua Sorocaba, 190, Botafogo, num antigo imóvel do Iapas. Reunindo textos, correspondências, artigos, livros, fitas de áudio e vídeo (70 por cento do material é inédito), já com 12 mil ítens, o "Tempo Glauber" busca agora equipamento (vídeos, projetores, móveis, etc.) para funcionar realmente como um centro cultural. Dona Lúcia encontra-se em Fortaleza, mostrando a importância do projeto. Paloma, 28 anos, a filha mais velha de Glauber (com a atriz Helena Ignez), que já havia realizado o vídeo "Alvorada segundo Cristo" (baseado num poema do pai), também veio, aproveitando para fazer um vídeo sobre o festival, com entrevistas de dezenas de participantes. 3) - A URSS enviou uma delegação chefiada pelo diretor do Tashkent International Film Festival, Vladimir Ivanov. Especializado nas produções do Terceiro Mundo, Ivanov quer ampliar a participação de filmes latinos na mostra que coordena e também no festival de Moscou. "No qual apesar de mesclar arte e mercado, jamais exibiremos um "Jornada nas Estrelas" ou "Indiana Jones", afirma. Os critérios para a escolha dos participantes no Festival de Moscou (realizado de dois em dois anos) mudou com a Glasnost. Não há mais censura e podem ser vistos trabalhos políticos e com cenas de sexo (impensáveis até 5 anos). 4) - O projeto debatido durante o Festival de Gramado, em junho para a tão aguardada integração do cinema latino-americano caminha a passos largos. Toda a manhã de quarta-feira, no auditório do Hotel Pontamar, foi destinada ao encontro de representantes de 12 países da América do Sul e central, para assinatura de três importantes acordos de estímulo a realização de co-produções e também para que os filmes de países signatários dos acordos possam cumprir a Lei de Reserva de Mercado. Ou seja, um filme com capital 100 por cento argentino pode ser considerado "nacional" no Brasil (e vice-versa). Por exemplo, com isto filmes importantíssimos como "Sur", de Fernando Solanas; "La devida interna", de Miguel Pereira e "Homem mirante al Sudoeste", de Eliseo Sabiela - premiados em mostras internacionais - chegarão aos circuitos comerciais no Brasil. Roberto Farias, vice-presidente do Concine, além de ser o principal articular deste "Encontro Multilatino de Mercados de Cultura", também fez reuniões com distribuidores e locadoras de vídeos, para discussão de vários problemas do mercado. 5) - Luiz Renato Ribas, o líder das locadoras no Paraná - e pioneiro do setor - que tem sido lembrado nas discussões por sua polêmica atitude de buscar na Justiça a suspensão da Lei de Reserva de Mercado para a produção nacional, ficará furioso a exemplo de outros prósperos donos de locadoras, com a idéia que o cineasta Sérgio Rezende ("O homem da capa preta", "Doida demais") começa a levantar para que a Associação Brasileira dos Cineastas encampe: criar leis e mecanismos que obriguem as distribuidoras de vídeos a pagar direitos autorais aos realizadores de filmes brasileiros sobre a sua locação. Ou seja, não bastar apenas comprar a cópia (que custa hoje entre NCz$ 350,00 a NCz$ 700,00 a unidade): as locadoras terão que pagar de 8 a 20 por cento do que auferirem com esta especialização aos que realizam os filmes. "É a maneira de evitar que os locadores fiquem cada vez mais ricos e os realizadores mais pobres", diz Sérgio Rezende. Já Ivan Valença, em sua qualidade de dono de locadora, cinéfilo e jornalista especializado em cinema e vídeo, contra-ataca: "É um absurdo esta idéia de Rezende, é bem coisa de louco demais...". 6) - A propósito, Rezende não esconde sua alegria: apesar das críticas contrárias que (louca demais), recebeu, sua carreira comercial está excelente: lançado em várias capitais (em Curitiba ficou cinco semanas, nos cines Lido I e Palace Itália) já computou 600 mil expectadores. 7) - Um dos filmes da Mostra Informativa que levou maior público no Cine Iguatemi II foi "Jesus de Montreal", de Denis Arcand ("O declínio do império americano", 87), que recebeu os prêmios ecumênicos e de especial do júri no Festival de Cannes este ano.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
01/12/1989

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