No campo de batalha
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 16 de janeiro de 1990
Uma demonstração da importância de "O Urso": "Première", uma das mais sofisticadas revistas do cinema dos Estados Unidos, dedica três páginas, a cores, em sua edição de dezembro último, ao filme de Jean-Jacques Annaud.
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Ilustrado com fotos de cenas, mostrando as dificuldaes na realização deste filme que teve como "astros" dois ursos, a repórter Kathy Bishop descreve, detalhadamente, como muitas cenas foram feitas. Por exemplo, a seqüência final, na qual o ursinho Douce é perseguido por uma feroz puma, rio abaixo, custou semanas de preparo e muita habilidade dos treinadores.
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A produção de "O Urso" ficou em US$ 24 milhões. Mas já se pagou há tempos: só na Europa rendeu US$ 100 milhões.
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Annaud não economizou nas filmagens: rodou um milhão de pés de negativos - 100 vezes mais do que, normalmente, seria necessário para uma produção comum.
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Em fevereiro de 1983 começou a escolha do "elenco": na Califórnia, Jean-Jacques Annaud recebeu indicação de dois treinadores de animais, através do Animal Actors Company. Um deles era Dour - que vive em Utah. Lá, Annaud conheceu Bart, um urso imenso e na época ainda selvagem. Contratou Mark Weiner para treiná-lo.
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Um dos conselheiros da produção foi Doug Peacock, veterano do Vietnã, que ao voltar da guerra preferiu viver nas florestas de Montana. Um dia, enquanto caminhava numa região inóspita, se deparou com um imenso urso pardo. Reagindo por instinto, Doug apontou o rifle. O urso contraiu as mandíbulas, abaixou as orelhas e o seu pêlo se arrepiou. O homem e o animal se olharam por alguns segundos. Peacock abaixou a arma, deu um passo para trás e olhou as árvores. O urso pardo foi embora. Esse mútuo respeito mudou a vida de Peacock. Ele deixou Montana para se dedicar ao estudo dos ursos pardos e se tornou um especialista. Durante 10 anos Doug Peacock filmou os ursos pardos em Yellowstone Park e fez o mais completo documentário.
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Enquanto a Comissão de Artes Cênicas ainda vai se reunir para "discutir" uma óbvia homenagem - dar o nome de José Maria Santos ao Teatro da Classe, por ele idealizado e construído, anuncia-se uma "homenagem" que o bom Zé por certo dispensaria: o uso de seu nome na 12a edição da campanha "Vá ao Teatro" - a antiga "Campanha da Kombi". José Maria sempre condenou o paternalismo desta promoção. Em sua independência que o fazia o mais profissional e admirável (além de corajoso) de nossos homens de teatro, José Maria chamava este projeto de "sopa dos pobres".
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José Maria Santos merece todas as homenagens. E maior delas é o respeito da classe teatral - pela qual tanto lutou. Dar o seu nome ao teatro por ele construído - sugestão que fizemos no dia seguinte de sua morte, aqui no ALMANAQUE - e cuja campanha o colunista Ruy Barroso, do "Jornal do Estado", encampou, não é favor. É obrigação.
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Passou meio despercebida uma festa que o Grupo Folclórico Polônes do Paraná promoveu na incômoda data de 30 de dezembro último: a antecipação, em quatro dias, do 30o aniversário da fundação deste conjunto que se dedica a preservar e divulgar a tradição da etnia. Presidida pelo Sr. José Luiz Kaniak, o Grupo Folclórico Polônes do Paraná tem como relações públicas a Sra. Estefânia Kopciusycki, que está animada para que os festejos dos 30 anos não se esgotem apenas em festas e se espalhem durante todo 1990.
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Téo Azevedo é um dos mais legítimos intérpretes da música não contaminada pelo marketing comercial: cantando os temas do povo das Geraes, tem uma obra estraordinária e admirável, na qual traz o som brejeiro da viola da região do Alto e Médio São Francisco e a porfia do cantador do Vale do Jequitinhonha. Agora em "Guerrilheiro da Natura" (produção independente Nas Quebradas do Sertão, Avenida São João, 1737, SP, CEP 01261, fone 220-2948) intepreta poesias musicadas de Darci Ribeiro, Guimarães Rosa, Castro Alves, Brauna e até do paraibano Oliveira de Panelas. Como diz Divino Augusto Magalhães, no texto de contracapa: "um verdadeiro trabalho ecológico, feito ainda no tempo em que a ecologia naão era moda".
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