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Aramis

Ney e Emílio, o canto de cada um

Durante alguns anos o Brasil ficou sem cantores. Com as patifarias que Wilson Simonal andou fazendo e que praticamente liquidaram com sua carreira, perdeu-se um bom cantor. Os autores passaram a ser os próprios intérpretes e reduziu-se, infelizmente, o número dos chamados canários - enquanto as cantoras se multiplicaram nestes cinco últimos anos. Felizmente, fortaleceram-se alguns talentos. Dois deles são Ney Matogrosso e Emílio Santiago. Único sobrevivente do Secos & Molhados, Ney de Souza Pereira (Bela Vista, MT, 1941) é hoje o grande show- man do Brasil. Como observou o jornalista Miguel de Almeida ("Folha de São Paulo", 26/10/84), "sem se compositor, demonstra ser possível a confecção de trabalhos com canções de autores, novos ou veteranos, com bom nível de qualidade. Muitas vezes, as músicas não são inéditas e, assim, se revela um cantor preocupado em recriações apuradas. Chico Buarque, sob sua voz, ganha contornos melódicos sempre desprezados, ou não descobertos em suas gravações ". Paralelamente aos shows a cada vez mais sofisticados e envolventes, Ney se preocupa em fazer de seus discos anuais, registros marcantes. Assim, enquanto o apoteótico espetáculo "Destino de Aventureiro" lota grandes espaços, o álbum com o mesmo título, lançado pela Barclay, também obtém boa repercussão. Ney tem sido nestes 12 anos de carreira-solo um intérprete assumidamente debochado e irônico - sempre numa roupagem estapafúrdia mas de grande impacto junto as platéias. Assim é que assumindo a posição de antimachista, tornou-se uma espécie de arauto das minorias (?) sexuais ao gritar, bem humoradamente, "Telma eu não sou gay" ou explodir em "Homem com H". Esta linha descompromissada lhe permite gravar novos autores ou (re) confirmar novos talentos como da dupla Dusek/Luiz Carlos Góes - autores das duas principais faixas deste álbum: a que dá título ao disco e a satírica "O Rei das Selvas". Muita gente nova tem a chance graças a Ney - Cecéu ("Pra Virar Lobisomem", "Namor"), Pisca/Cláudio Rabello ("Tão Perto"), Frejat/Cazuza/Ezequiel ("Porque que a gente é assim?"), além de compositores mais seguros como a dupla Luli/Lucina ("Êta Nóis"). Entretanto - e ironicamente - é o clássico bolerão de Gonçalo Curiel ("Vereda Tropical") que catipultuou novamente as vendas de Ney. Também, como música-tema de uma telenovela da Globo, não poderias ser diferente. xxx Emílio Santiago é um crooner por excelência. Sua longa vivência na noite carioca durante os anos de anonimato o transformou num cantor ágil e versátil. Sua voz é deliciosamente agradável. Por isto sua carreira é segura. Uma espécie de Johnny Mathis brasileiro, com um disco anual no qual, infelizmente, nem sempre o repertório está a altura d sua bela voz. Em "Tá nas Hora" (Polygram, outubro/84), por exemplo, há a regravação de uma das mais belas músicas dos anos 60 - a antológica "Helena, Helena, Helena" (Alberto Land), enquanto uma composição de Johnny Alf ("Dois Corações") foi massacrado pelo datilográfico arranjo do comercialíssimo Lincoln Olivetti.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
20
09/12/1984

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