Login do usuário

Aramis

Nasce na Pedreira do Pilarzinho a Ópera de Arame com Pavarotti

A partir da próxima semana uma das modestas casas em madeira que existem na chamada Pedreira Paulo Leminski, no bairro do Pilarzinho, estará sendo adaptada para sediar um escritório administrativo no qual se instalará um dos mais competentes executivos culturais do Paraná. Constantino Viaro, 52, que até abril último dirigiu com total eficiência a Fundação Teatro Guaíra, por insistente convite de seu amigo Jaime Lerner aceitou um novo desafio: vai coordenar tanto física como artisticamente o mais importante projeto em termos de massificação de espetáculos já acontecidos em Curitiba. Assim é que com sua experiência de verdadeiro "tocador de obras" - como mostrou na sua sempre lembrada gestão do Clube Curitibano, direção administrativa da Fundação Cultural (em dois períodos), e também nas áreas de administração e pessoal da Prefeitura, Viaro, com sua objetividade e decisão, supervisionará a consolidação da Pedreira Paulo Leminski - que precariamente já vem funcionando bissextamente há quase três anos e, especialmente, o projeto mais sofisticado - que será a Ópera de Arame. Criatividade em Pedra - Dispondo de uma área total de 36.967,25 metros quadrados - advindos da antiga pedreira do próprio município (17.100 metros quadrados) ao qual se somaram 19.867,85 metros quadrados adquiridos dos herdeiros do velho João Gava, que por décadas também explorou uma pedreira vizinha a do município, no bairro do Pilarzinho - a Prefeitura possui hoje um parque com condições "sui generis" para possibilitar que o prefeito Jaime Lerner implante novas realizações que, para muitos, estão na sua lista de quimeras coloridas para a cidade que dirige pela terceira vez. A pedreira da Prefeitura - que passou a ser desativada ainda na primeira administração de Lerner, quando foram exauridas as jazidas geologicamente utilizáveis ali existentes - deixou uma grande escavação, formando um anfiteatro natural. E foi ainda na primeira administração de Jaime, em princípios de 1973, que ali se fez a primeira experiência artística: dentro da motivação que a cidade tinha quando promoveu um imenso concerto ao ar livre. Mesmo com todas as dificuldades - desde o acesso até a inexistência de mínima infra-estrutura (sanitários, palco, camarins, etc.), uma orquestra sinfônica sob a regência de Isaac Karabitchevski ali se apresentou perante um público de milhares de espectadores. A idéia de consolidar o espaço como o grande anfiteatro natural de Curitiba - uma espécie de "Hollywood Bowl" (como o existente em Los Angeles), não foi abandonada. Mesmo que em sua segunda administração não tivesse encontrado recursos para voltar ao sonho, Lerner não desistiu. Assim é que desde janeiro de 1989, quando pela terceira vez chegou novamente a Prefeitura, Lerner incluiu a Pedreira como meta prioritária. A morte do poeta Paulo Leminski, em junho de 1989, que morava no bairro da Cruz do Pilarzinho, fez com que o espaço ganhasse o nome natural - hoje já oficializado. E, ainda, sem a infra-estrutura, especialmente os equipamentos de segurança necessária, o local passou a ser programado para grandes concentrações populares - shows de rock, encenações teatrais (como a Via Crucis, neste ano) e até apresentações circenses. Entretanto, a improvisação e a falta de uma execução de obras que o arquiteto Abraão Assad já previu em seu projeto, tornavam arriscada uma programação que atraísse milhares de pessoas - especialmente jovens - num espaço ainda vulnerável, sem acomodações, instalações sanitárias, etc. Por isto, recursos especiais vem sendo canalizados para que possibilitem a conclusão definitiva deste anfiteatro - que pensado para 30 mil espectadores poderá receber até 50 mil, conforme cálculos do arquiteto Assad. Dentro de sua máxima de que "A pressa é amiga da perfeição", Lerner, em uma rápida reunião antes de sua viagem ao Canadá, determinou que deseja ver finalizado aquele espaço até o final do ano - incluindo obras complementares, como portal, uma rua de acesso - no qual se concentrará um comércio específico (lojas de fastfood, bancas de produtos ligados aos espetáculos, discos, etc.). Mas Lerner não fica aí! Com a aquisição da área da família Gava - já legalmente de posse do município, através de uma operação que se finalizou há 90 dias - surgiu outra idéia: utilizar a segunda pedreira ali existente, de menor proporção mas com uma escarpa mais alta (30 metros, o dobro da Pedreira Paulo Leminski) para um projeto que terá maior sofisticação: a Ópera de Arame. Domingos Bongstabs, 50 anos a serem completados no dia 4 de outubro, paranaense de Castro, colega de Lerner da turma de engenharia em 1964 - e seu associado por 7 anos num escritório que dividiam no 3º andar do Edifício Arthur Hauer - desde 1965 no IPPUC, e agora assessorando o secretário Histoshi Nakamura, no Meio Ambiente, vem dedicando-se em tempo integral neste projeto. Com auxílio de dois arquitetos recém formados - Rossano Lúcio Fleith e Simone Soares e a consultoria espontânea de Abraão Assad, em comum acordo com a orientação técnica-administrativa de Viaro, estão tocando de uma forma desburocratizada e econômica o projeto que, "se tudo der certo", permitirá que a cidade ganhe a Ópera de Arame até o final do ano - no máximo até 29 de março de 1992. Simplicidade - A proporção que o projeto está sendo detalhado, a Prefeitura, por administração direta, já executa obras - começando por aterros e a terraplanagem necessária - para a implantação de uma estrutura simples, econômica e bastante resistente. Uma feliz idéia de utilizar postes de aço sobre os quais poderá ser colocada uma cobertura de lona que protegerá um auditório de 6 mil lugares em caso de chuvas. - "Basicamente, a concepção é para ali acontecerem grandes espetáculos ao ar livre", explica Domingos Bongstabs. Na pedreira de Leminski - algumas centenas de metros adiante - há impossibilidade total de existir cobertura para o público, mas estuda-se uma proteção ao seu palco de 40 x 25 metros. Já na Ópera de Arame, o palco - com 60 metros quadrados (e possibilidade ainda de expansão lateral) será construído em moldes técnicos modernos, com camarins, recursos de luz e, naturalmente, sistema acústico. Um dos arquitetos paranaenses com melhores experiências nesta área, Bongstabs reconhece: - "Apesar da boa acústica natural, advinda das "paredes" laterais deixadas pelas pedreiras, naturalmente pelo tamanho da área torna-se impossível fazer qualquer espetáculo sem recursos com aparelhagem de som de boa qualidade". A dimensão dos dois espaços é imensa. Na Pedreira Leminski, calcula o arquiteto Assad, "cabe todo um estádio do Maracanã". Já a Ópera de Arame terá uma área coberta de quase 2.500 metros - aos quais se acrescentarão espaços utilizando 4.000 metros quadrados - incluindo elevadores para o palco. O nome do local - Ópera de Arame - foi criado pelo próprio Lerner, partindo de dois aspectos: as formas do local a ser utilizado lembrarão uma estrutura lembrando arame, mas com um aspecto referencial aos prédios de Óperas mais famosos do mundo (Scala, de Milão; Paris, etc.). E como movimentar estes espaços? Para isto, Lerner foi buscar a colaboração de seu amigo Viaro, que com a experiência de quatro anos no Teatro Guaíra e boas idéias, já começa a fazer um cardápio de opções. Para começar - não custa sonhar! - por que não pensar em trazer o maior tenor da atualidade, o italiano Luciano Pavarotti, que no dia 31 de dezembro, cantará para milhares de cariocas num superespetáculo que acontecerá na praia de Copacabana. Para tanto, desde a última quarta-feira, 28, Viaro está telefonando para a super-empresária Miriam Daulsberg, que depois de trazer sinfônicas e ballets russos ao Brasil, empenha-se agora naquilo que ela própria define - como nos disse recentemente - "na maior loucura artística de minha vida": produzir uma apresentação de Pavarotti no reveillon tropical. Se Luciano vem ao Rio administrado por seu amigo e guru Brizola, Lerner pode sonhar também em convencer o italiano cantante a estender sua temporada a Curitiba e aqui abrir 1992 com um espetáculo único. Os detalhes - ou seja - o custo em milhares de dólares que tal projeto custará - fica para ser pensado depois, pois afinal há sempre chance de conseguir patrocínio. O importante é ver se Luciano Pavarotti se anima em abrir uma data extra em seu calendário para cantar para os paranaenses. LEGENDA FOTO 1 - Constantino Viaro: depois da positiva experiência no Guaíra, implanta a primeira Ópera de Arame do mundo na antiga pedreira da família Gava no bairro do Pilarzinho. LEGENDA FOTO 2 - Luciano Pavarotti, o mais famoso (e bem pago) tenor de mundo canta dia 31 na praia de Copacabana e - não custa sonhar - poderá inaugurar no início de 1992 a Ópera de Arame curitibana.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
01/09/1991

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br