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Aramis

Nas trilhas da música que o cinema apresenta

A idéia já existe há muito tempo: criar um clube para reunir os colecionadores de trilhas sonoras. Afinal, cresce cada vez mais o número de pessoas que se entusiasmam pelas bandas sonoras dos filmes e a proporção que, infelizmente, rareiam as sound tracks originais, criadas pelos grandes compositores do cinema - substituídos por montagens-pop - amplia-se o interesse pelas chamadas "trilhas dos bons tempos". Assim, o álbum importado com a música que Micklos Rosza criou há 27 anos para "Ben Hur", o superpremiado filme de William Wyller, era tão procurado que o Museu do Disco, de São Paulo, não teve dúvidas: encomendou a Polygram, na época detentora do catálogo da MGM Records, uma edição particular desta grande trilha sonora, que esgotou em poucas semanas. O próximo lançamento de "Ginger e Fred", o novo filme de Fellini, vai trazer novamente uma questão: até onde um compositor marca a obra de um cineasta. Falecido em 1979, aos 68 anos, Nino Rotta continua a ser o exemplo de compositor que se integrou tão profundamente às imagens de Fellini que é impossível desassociar um do outro. Tanto é que Nicola Piovani, o autor da banda sonora de "Ginger e Fred" estrelado por Marcello Mastroianni e Giulietta Masina - lembra por demais a Rotta, como observa na trilha importada (Mercury, 826757), já que a Polygram nacional, até agora, ainda não se lembrou de editá-la - embora Nino Rotta tenha um público imenso no Brasil (1). Victor Young - cujo 30º aniversário de morte transcorre no próximo dia 10 de novembro; Alfred Newman (1901-1970), Dmitri Tiomkim (1899-1979) - para só citar três dos maiores compositores americanos que se imortalizaram por trilhas sonoras, ao lado de toda uma geração posterior, surgida não só nos Estados Unidos, mas também na Europa (Georges Auric, Georges Van Parys, Michel Legrand, Ennio Morricone, Francis Lai) - encontraram no cinema a forma de passar toda a sensibilidade musical, marcando, inclusive, filmes medíocres com trilhas sonoras inesquecíveis. Tema não para um breve registro de jornal, mas, sim, para uma ampla bibliografia, aliás escassa, mesmo na Europa e Estados Unidos. Assim como os diretores de fotografia, os compositores de trilhas sonoras não têm sido devidamente estudados em sua importância dentro da história do cinema. Entretanto, desde 1927, quando o cinema aprendeu a falar ("O Cantor de Jazz", de Alan Crossland), com Al Jolson (Asa Yoelson, 1886-1950), cantando clássicos como "My Gal Sal" (Paul Dresser) e "My Mammy" (Walter Donaldson/ Sam Lewis/ Joe Young), a música integrou-se profundamente ao cinema - e se hoje podemos colecionar, domesticamente, as imagens dos filmes que nos marcaram, através do videocassete, até há 5 anos passados, era num elepê, com a trilha sonora, que se preservava ao menos auditivamente a memória de nossas predileções na tela. Assim, mesmo com uma decadência das trilhas sonoras, através da morte e aposentadoria dos grandes compositores, ainda há muitas gravações com as sound tracks dos filmes que chegam às nossas telas. Aliás, muitas vezes até de filmes que nem chegam a ser exibidos comercialmente. Entretanto, o que se lança no Brasil de trilhas sonoras é infinitamente reduzido se comparado ao que acontece nos Estados Unidos e Europa. Tanto é que um colecionador que se aventura numa loja de importados (Cz$ 300,00 a Cz$ 350,00 o exemplar) fica com água na boca e tristeza no bolso, por ver tantas trilhas que gostaria de possuir e que, a não ser para os milionários, permanecem como "Impossible Dream", tal como aquela canção de Mitch Miller/ Joe Darion que há 21 anos passados, era lançada no musical "Man of La Mancha". Notas: (1) Da imensa obra de Nino Rotta, produzida para o cinema, raras trilhas foram aqui editadas: "Waterloo" (RGE, 1971), as duas partes de "O Poderoso Chefão" (RGE, 1972/75) e "Amarcord" (Polygram, 19/9). Rotta compôs mais de 30 notáveis trilhas para o cinema - quase todas editadas em elepês na Europa - além de peças clássicas e até uma ópera ("Il Cappello Di Paglia Di Firenze", edição italiana da RCA, álbum com dois elepês). (2) Entre os raros livros sobre a música no cinema destaca-se "La Musique à l'Écran", de F. Porcile (Éditions du Cerf, Paris, 1969).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
05/10/1986

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