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Aramis

Nas músicas de nosso Carnaval o curitibano mostra a malícia

A julgar pela audição de centenas de músicas inscritas no II Festival Abre Alas - cuja primeira eliminatória será realizada na próxima sexta-feira, 11, os compositores paranaenses estão bastantes desinibidos e liberados. Ao longo de uma madrugada, junto com Cláudio Ribeiro, radialista, idealizador e coordenador desta promoção da Secretaria da Cultura: o compositor Gerson Fisbein e o radialista Euclides Cardoso, que fizeram parte da comissão de seleção, ouvimos as centenas de fitas com as músicas inscritas, das quais "foram selecionadas as 28 que, em 2 eliminatórias, estarão concorrendo a prêmios de Cr$ 100 mil e a gravação de um compacto. No ano passado, a promoção se realizou em janeiro, o que retardou a gravação do disco - não havendo tempo útil para sua caitituagem. Este ano, previdentemente, Maria Elia Paciornik, coordenadora de ação cultural da Sece, convocou Cláudio Ribeiro com antecipação para agilizar o festival. xxx Mesmo sem ter marchas, sambas ou marchas-ranchos que se possam classificar de magníficos, há algumas músicas selecionadas com razoável nível, como, por exemplo, "Cheiro de Alecrim", de Pelicano, "Sonho de Carnaval", de Nelson Santos; "Música Protesto", de Lais Miranda - por sinal, uma das compositoras classificadas no ano passado, quando os 3 primeiros lugares ficaram com mulheres: dona Nair dos Santos em primeiro com "Sambicura da Galinha"; Vera Vargas com "Marcha das Gordinhas" em segundo e Lais, com "Gota de Orvalho" em terceiro. xxx Dona Nair dos Santos, uma senhora de 65 anos, viúva, 2 filhos - um dos quais é também, compositor, o arquiteto Homero Reboli, este ano concorre com "Porquinho Maluco", ingênuo e comunicativo. A sátira ao fato mais noticioso do nosso carnaval de 81 - a iniciativa do advogado Anfrisio Siqueira, presidente da Boca Maldita, em pedir ao secretário de Segurança que mandasse retirar de circulação o travesti Gilda, inspirou a Jayme Alves de Oliveira a compor "Gilda Sem Carnaval", que mesmo não tendo muita harmonia, deve fazer sucesso em sua apresentação. Alguns compositores de escolas de samba também participam: Charrão, da Mocidade Azul, inscreveu "Amor de Carnaval" e Julinho (Julio C. A. Souza), da Escola de Samba Acadêmicos da Sapolândia, ataca de "Dê um fim na inflação", também bastante irônica. xxx Para uma cidade sem tradição maior na área de músicas de carnaval e onde os sambas-de-enredo só começaram a aparecer há menos de 15 anos, é salutar a idéia de Cláudio Ribeiro teve e o secretário Luís Roberto Soares encampou para estimular nossos compositores. Seria interessante agora que os programadores e diretores artísticos de nossas estações de rádio, tanto as AM como o FM, se concretizassem da necessidade de divulgar mais a música carnavalesca. Infelizmente, há muitos anos que raras emissoras de Curitiba se preocupam em apresentar músicas de Carnaval, mesmo aquelas mais conhecidas e que sempre agradam. No passado, o desfile das escolas de samba na rua nos tempos em que se realizava na Rua XV e, depois na Marechal Deodoro, tinham total cobertura das rádios e televisão. Nos últimos anos, por falta de patrocínio, as emissoras foram suspendendo esta cobertura, sem que a Prefeitura procurasse fazer o menor esforço em manter tal divulgação. Aliás, os preparativos para o Carnaval já deveriam ter sido iniciados, embora o Departamento de Relações Públicas e Promoções disponha de um dos maiores expertos na área, o carnavalesco Carlos Fernando Mazza, durante anos o mestre-sala da Não Agite e que, por 3 anos, saiu na E. S. Estação Primeira da Mangueira, no Rio de Janeiro. xxx A existência ou não de um espírito carnavalesco em Curitiba já foi assunto de muito debate e há alguns anos, um dos mais influentes assessores do prefeito Jaime Lerner, ainda em sua primeira administração, queria convencê-lo a cancelar a concessão de verbas para as escolas e aplicá-las em outros eventos, para que Curitiba tivesse uma inovação: já que nosso Carnaval é fraco, por que não transformar o feriadão numa "estação de repouso", com eventos como concertos de música erudita, concertos, etc? É claro que a idéia não foi aprovada e o nome do assessor mantido em segredo, pois quando Mestre Maé, da Colorado; Afunfa, da Mocidade Azul e o lírico Chocolate, da Ideais da Mocidade, souberam da sugestão, queriam transformá-lo em salsicha. xxx Outra estória que se conta nos bastidores do Carnaval de Curitiba. Há muitos anos, quando as emissoras brigavam pela transmissão dos desfiles de rua e mesmo dos clubes, o diretor de estúdios da então Rádio Emissora Paranaense, hoje Universo, teria recebido um telefonema do dona da emissora, sr. Nagib Chede que, em sua forma gentil e paternal de falar, lhe perguntou se "poderia programar algumas árias de ópera". O funcionário, surpreso, quis argumentar, - Mas dr. Nabig, é Carnaval. O sr. está ouvindo que estamos transmitindo diretamente o desfile ... - Eu sei. E louvo inclusive o trabalho da equipe. Mas é que estou reunido em minha casa, com alguns amigos que apreciam óperas e eles gostariam de ouvir algumas árias de "Rigoletto". LEGENDA FOTO: Léa Kissingerg, atriz, locutora, agora compositora-cantora: com "A Garota da Bandinha" concorre no festival "Abre-Alas".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
6
06/12/1981

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