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Nas imagens de Joatan, a memória de Warchavchik

Paranaense de Londrina, radicado no Rio de Janeiro há muitos anos, onde é funcionário do Banco do Brasil, Joatan Vilela Berbel, 38 anos, afirmava momentos antes do encerramento do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro: - "O que passou, passou. Agora vamos para Gramado." Joatan, ex-presidente da Associação Brasileira de Documentaristas, não escondia sua irritação com o resultado do júri do curta e longa-metragem: embora admitindo a vitória de "Divina Tropicália", de Adilson Ruiz - melhor filme, direção, montagem e trilha sonora - não aceitou que também o Candango, como melhor pesquisa, fosse outorgado ao paulista Ruiz e a Maria Angela Bacelar, por "Infinita Tropicália". Média-metragem elaborado como tese de mestrado no curso de cinema da Escola de Comunicação e Arte da USP. - Pesquisa mesmo foi a minha, para resgatar a personalidade de Warchavchik. Realmente, o média-metragem de 50 minutos em que Vilela revela a importância do arquiteto Gregori Warchavchik (1896-1972) para a arquitetura brasileira foi primorosa. O filme mostra não só imagens de Warchavchik e de suas inúmeras obras arquitetônicas, mas faz um verdadeiro painel do Brasil a partir dos anos 20, quando o arquiteto chegou a São Paulo (em 1923), contratado pelo industrial Roberto Simonsen, para dirigir as obras da Companhia Construtora de Santos. Joatan Vilela Berbel lembra: - Pouca gente ouve falar hoje em dia no nome de Gregori Warchavchik, um arquiteto russo que chegou ao Brasil há 64 anos e aqui mudou a estética da época. Warchavchik chegou com idéias revolucionárias. Preocupou-se com o aproveitamento do espaço, foi combatido, mas encontrou um clima cultural já preparado pela Semana de Arte Moderna de 1922 e, apoiado por intelectuais como Mário de Andrade e Oswald pôde realizar muita coisa. Há dois anos, durante o Festival de Gramado - quando ali concorria com seu curta-metragem "Chico Caruso", filme de humor sobre o famoso cartunista ( e que obteve vários prêmios em festivais nacionais e participou da mostra de Leipzig), Joatan já nos falava de seu projeto de fazer um filme sobre Warchavchik, que em 1927 construiu a primeira casa modernista de São Paulo. Em 1930, convidado por Lúcio Costa para dar aulas na Escola Nacional de Belas Artes, ali introduziu os conceitos da moderna arquitetura no currículo do curso. Sócio de Lúcio Costa realizou uma série de obras no Rio de Janeiro. Casado com uma das filhas do velho Klabin - concunhado do pintor (também russo) Lasar Segall - desenvolveria a maior parte de suas obras em São Paulo. A fotografia de Fernando Duarte - premiado com o Candango - valorizou extremamente as imagens que Joatan escolheu para este documentário, usando de uma forma extremamente criativa as maquetes, as formas modernas das casas e prédios desenvolvidas por Warchavchik, em sua profunda contribuição para a arquitetura moderna brasileira. Como já registramos, em comentário enviado de Brasília, um filme como "Warchavchik" deve ser exibido nos cursos de arquitetura e aos profissionais do setor. A intenção de Vilela Berbel é realizar outros filmes sobre arquitetos que trouxeram sua contribuição à arquitetura brasileira, não apenas Lúcio Costa e Niemeyer, mas profissionais, que injustamente, têm sido esquecidos - inclusive o paranaense Villanova Artigas, de quem há tantos projetos marcantes em Curitiba, além da rodoviária de Londrina.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
12/11/1986

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