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Na ficção, "Imagens" revela um paranaense

Em sua maioria, os filmes e vídeos levados ao Festival de Cinema da Bahia são documentários - quase sempre com uma visão política-social bem definida. Internacionalizado com a participação de emergentes cinematografias da América Latina e também da África, dos países de língua portuguesa, a mostra que Guido Araújo idealizou e que, em 17 anos, se consolidou como uma das mais importantes, em sua área, em todo mundo, também não despreza as realizações em ficção. Prova disto é que um dos prêmios oficiais - Tatu de Prata - foi reservado para o melhor curta ou média neste gênero. O júri concedeu esta premiação ao filme de 11 minutos, direção e roteiro de Eliane Caffé intitulado "O Nariz" - sobre um formal funcionário de escritório, Arlindo, que resolve um dia usar um nariz postiço e modifica com isto o cotidiano de sua casa. Baseado em conto de Luís Fernando Veríssimo, "O Nariz" competiu com outros filmes de ficção, que traziam propostas mais pretenciosas. Por exemplo, dois exemplos do cinema feito por formados pela Escola de Comunicação e Artes, de São Paulo, mostraram um bom acabamento técnico. Cecília Saint-Pierre, 31 anos, gaúcha de Porto Alegre, mas residindo em São Paulo, fez um filme de 24 minutos intitulado "Gardenia Azul", no qual a partir da música que Nat King Cole imortalizou (e, no Brasil, teve uma versão na voz de Cauby Peixoto), foi desenvolvido pelo roteirista Bosco Brasil. Prejudicada um pouco pela forma com que o argumento complexo é colocado, "Gardenia Azul", não deixa de ser um bom exercício cinematográfico. Trabalhando profissionalmente como montadora, Cecília foi uma das responsáveis pela bela linguagem de "A Ponte", de Marcos Escobar - também graduado da ECA - e que focando a trajetória de um músico que isola-se numa ponte com seu sax para estudar e compor, é uma sutil homenagem a Sonny Rolins, que no início dos anos 60 interrompeu sua carreira para um período de introspecção no qual vagava pela ponte do Brooklyn. Como resultado, Rollins faria depois o mais famoso de seus discos, "The Bridge", recentemente reeditado no Brasil pela RCA. Ponti, nome artístico do diretor de "Imagens", é paranaense formado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Estadual de Londrina. Ex-cinegrafista de telejornalismo, da TV-Tibagi (1974-1978), em Apucarana, com experiências em filmes publicitários há oito anos fez seu primeiro filme de ficção em Super-8. Vivendo há 4 anos em São Paulo, dirigindo vídeos empresariais e comerciais para TV, caiu nas boas graças de Andrade, realizador de "O País dos Tenentes" o que garantiu um excelente acabamento a "Imagens", que recebeu o Tatu de Bronze de melhor som. O argumento de "Imagens" tem toques do próprio cinema; um jovem editor de imagens de uma emissora de televisão ao voltar para casa tem sua rotina no trânsito abalada e, ao chegar não encontra ninguém. Dividindo o público - houve os que o admiraram e os que o acusaram de ôco e vazio (aliás, críticas feitas a maioria dos filmes de ficção de curta-metragem), "Imagens" não deixa de revelar mais um cineasta de raízes paranaenses - embora radicado em São Paulo. E, por certo, deverá competir em outros festivais, a começar pela 21a. edição de Brasília (5 a 11 de outubro). LEGENDA FOTO - "O Nariz", de Eliane Caffé: Tatu de Prata como melhor curta de ficção na Jornada da Bahia.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
17/09/1988

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