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Na festa de formatura, Zuleika denuncia EMBAP

Foi explosiva a festa de formatura dos alunos da Escola de Música e Belas Artes do Paraná na última quinta-feira, 18. Lilian Schell, advogada que há 20 meses exerce a antipática função de interventora naquela escola superior, demonstrando, mais uma vez, falta de jogo-de-cintura no trato com os corpos discente e docente, ameaçou, horas antes da solenidade, transferi-la para março. Razão: supostas irregularidades na aprovação dos formandos. Na verdade, houve apenas erros normais na transcrição das notas, facilmente solucionáveis através de contato com os professores das diferentes cadeiras. Os formandos, que haviam distribuído convites para a solenidade, protestaram e mostraram firmeza, de forma que a solenidade aconteceu na hora marcada, no auditório Bento Mossurunga, na velha sede da EMBAP, na Rua Emiliano Perneta, 179. Numa prova de coragem e independência, a oradora da turma, a bela jovem Zuleika do Rocio Malucelli, não deixou por menos: em seu discurso denunciou a tentativa de adiar a solenidade, fazendo precisas colocações. Zuleika Malucelli começou falando na palavra "Vitória", esclarecendo: - "Pode parecer estranho, a princípio, pois a grande maioria, inclusive as autoridades governamentais, vê o curso de música como um hobby e não como uma profissão, um curso muito fácil, mas a realidade de nossa escola o torna difícil pela falta de entusiasmo, de recursos financeiros e didáticos e de companheirismo entre seus membros. Assim esta nossa vitória (em chegarmos, hoje a formatura) foi, ainda fortalecida pela união dos alunos e professores que, na véspera deste evento, se viram compelidos a praticar atos competentes a direção desta escola a qual se negava a permitir a realização desta solenidade. Portanto, é, realmente uma vitória para nós, hoje aqui presentes, termos conseguido lutar no meio de tamanha confusão e escassez (até mesmo de professores), mas há que se lembrar que a desordem faz parte da política nacional e, como tal, se manifesta nesta escola". Em seu objetivo e brilhante discurso, a formanda Zuleika do Rocio Malucelli fez outras colocações que há muito se faziam necessárias criticando, diretamente, a imposição de uma advogada como interventora da EMBAP. - A arte não se coaduna com a burocracia e não pode, portanto, ficar sujeita a projetos, pré-requisitos e imposições de órgãos do Estado cujos representantes nem mesmo artistas são. A arte deve ser livre para que o artista possa criar e expressar seus sentimentos naquilo que realiza". Aplaudida em pé pelos presentes, a formanda Zuleika Malucelli completou sua oração: - "Com certeza, se este nosso segundo lar que é esta escola, recebesse a devida atenção por parte das autoridades responsáveis pela área educacional e possuísse dirigentes competentes e artistas como nós, poderíamos, através de uma maior organização administrativa, ter esta liberdade que falta em nossos currículos. Estejam certos, caros colegas, que isto não é de fácil solução e não se culpem por esta situação. Vivemos no Brasil, onde o nível cultural do povo, infelizmente, é baixo e o setor educacional totalmente carente". Finalizando, Zuleika disse: - Nós, os formandos de 1986, saímos desta escola conscientes da precariedade do setor artístico em Curitiba, mas temos consciência, também de que há pessoas amigas dispostas a lutar por uma escola melhor. Pessoas que vêem a arte como ela realmente é: uma mensageira de paz e um fator de compreensão entre os povos. Pessoas que reconhecem que, com o avanço tecnológico do mundo atual, o artista, com a sua sensibilidade, é o único capaz de impedir que o ser humano se transforme em uma máquina. xxx Paraninfo das turmas do curso superior de instrumentos e do curso de licenciatura em música, o professor Henrique Morozowicz, ex-diretor da EMBAP, entusiasmado pelo clima oposicionista, decidiu falar de improviso. E não poderia ser mais pessimista em sua oração, queixando-se da falta de perspectivas aos músicos e compositores eruditos, a redução de oportunidades para aprimoramento profissional e mesmo um descrédito artístico. No final, chegou a, realisticamente, admitir que é hoje muito mais vantajoso, economicamente, ser um bem remunerado técnico em reparos de televisão do que licenciado em música.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
24/12/1986

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