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Aramis

Na dança dos númeors, os melhores filmes nacionais são sacrificados

Com 850 lugares o cine Condor só dobra um filme se houver, na primeira semana, um público médio de 5 mil espectadores. "O Grande Mentecapto" de Oswaldo Caldeira, bem humorada adaptação do best-seller de Fernando Sabino, prêmio de melhor filme (júri popular) em Gramado-89, só teve 1.200 espectadores. Resultado: dançou solenemente! Se tivesse sido lançado em outra sala, de menor capacidade, talvez fosse mantido em exibição e, assim, um público maior poderia conhecer esta comédia com toques poéticos, excelente fotografia e, sobretudo, uma esmerada trilha sonora de Wagner Tiso (editada em lp pela Polygram, lp "Cine Brasil"). "A Faca de Dois Gumes", um thrilling vigoroso, excelentemente dirigido por Murilo Salles - e livremente inspirado num conto (quase novela) de Fernando Sabino - e que recebeu várias premiações em Gramado (direção, direção de arte, trilha sonora etc), estreou ontem no Lido 2. Sala de 330 lugares, terá que fazer 2.500 espectadores para que o filme permaneça mais uma semana. Caso contrário, na próxima quinta-feira estará sendo substituído. São rigorosos os índices que norteiam a programação dos cinemas da CIC. Egom Prim, 48 anos, diretor-regional da exibidora, admite que tinha esperanças de que "O Grande Mentecapto" pudesse ficar mais uma semana em exibição. Frente a freqüência reduzida não teve outra solução do que cumprir as determinações da matriz: substituiu a comédia nacional por "Matador de Aluguel", um thrilling com toques de musical-rock, estrelado por Patrick Swayze (o astro revelado em "Dirty Dancing"), que já teve três bem sucedidas pré-estréias em noites de sábado. No Lido I continua em exibição "007 - Licença Para Matar", de John Glenn - que apesar de não trazer nada de diferente em relação a outros filmes da série, continua com público fiel. Ah! Preocupado em que os cinemas não funcionem com poucos espectadores, o atlético Prim introduziu esta semana uma novidade anti-inflacionária: de segunda a quarta-feira os ingressos custam NCz$ 4,00 (a metade do que é cobrado nos outros dias). "Pode ser que a coisa agora melhore", diz o experiente exibidor. xxx A Faca de Dois Gumes é um thrilling policial que nada deve a produções americanas do mesmo gênero. Confirmando o talento revelado há 5 anos em "Nunca Fomos Tão Felizes", o carioca Murilo Salles transformou um texto de Fernando Sabino numa estória repleta de lances de suspense, envolvendo temas da atualidade (seqüestro, corrupção etc), com um final inusitado, que o próprio diretor solicita, não seja divulgado antecipadamente, "para o bem do filme e felicidade geral do espectador". Embora publicamente Sabino tenha elogiado o filme, intimamente algumas coisas o chocaram - especialmente a tortura sofrida pelo personagem Paulo Sérgio - fato que não existia em sua novela. Entretanto, o roteirista Leopoldo Serran (que desenvolveu o script em colaboração com Salles e o produtor Patrick Moine) entendeu necessárias várias mudanças, para dar um clima de suspense (e uma certa confusão, característica aliás dos filmes-noire dos anos 40 - aos quais Murillo admite influência), exigindo de parte do espectador uma atenção especial aos detalhes para entendimento do final - que pode parecer, aparentemente, obscuro. Trabalhando com ótimos intérpretes - Paulo José, Marieta Severo, José de Abreu, Paulo Goulart, Fernando Peixoto - e mesmo valorizando intérpretes desgastados como José Lewgoy ou extraindo o máximo de estreantes (a bela Ursula Canto), Murillo conseguiu um resultado harmonioso e inteligente. A fotografia de José Tadeu Ribeiro é marcante, captando bem os cenários- especialmente interiores, com o detalhado trabalho da diretoria-de-arte de Maria Helena Salles (uma das premiadas em Gramado), enquanto a música de Victor Biglione dá o clima de tensão. Enfim, um bom esforço para fazer um filme brasileiro digno e merecedor da atenção. No cine Condor em sessões às 15, 17h15min, 19h30min e 21h45min. OUTRAS OPÇÕES A greve dos funcionários da Prefeitura - atingindo também os servidores dos cinemas da Fucucu, atrapalhou as sessões no início da semana no Ritz e Doces Ecos do Passado (Les Portes Tournantes), a primorosa produção canadense, direção de Francis Mankiewicz, que concorreu no FestRio-88. Suave, poético, com um ótimo elenco e, especialmente uma preciosa trilha sonora, este filme que acompanha a trajetória de uma pianista (interpretada por Monique Spaziani) ao longo de quase 50 anos, se constitui no lançamento internacional mais importante da semana. Um filme de sensibilidade que merece uma segunda semana, inclusive porque estreou na segunda-feira, sem promoção maior e teve sessões suspensas. "Karatê Kid 3 - O Desafio Final", de John G. Avildsen - o mesmo diretor dos dois filmes anteriores da série - prova que é possível fazer um bom filme sobre lutas marciais, sem apelações para a violência. Novamente Ralph Macchio e Noriyuki "Pat" Morita encabeçam o elenco desta produção bem acabada, com bela trilha de Bill Conti (já editada no Brasil pela WEA). Em exibição no Plaza. "Nove Semanas e Meia de Amor" de Adrian Lynne confirmando o óbvio: representa casas lotadas em qualquer ocasião e, mais uma vez, ajuda a Vitória Cinematográfica equilibrar suas finanças. Continua em exibição no Cinema I. "Máquina Mortífera 2", de Richard Donner e "Os Safados", de Frank Oz, também continuam com ótimas bilheterias. Já o esplêndido "Um Grito no Escuro", de Fred Schepisi, apesar da premiada (Palma de Ouro-Cannes 89) interpretação de Meryl Streep e abordar o assunto real, contemporâneo - um erro judiciário na Austrália, ocorrido em 1982 - já foi substituído no Palace Itália pela comédia "Ensina-me a Querer" (Surrround), do desconhecido Jerry Belson, com três bons intérpretes: a suave Sally Field, Michael Caine e Steve Guttemberg. Uma estréia a verificar. LEGENDA FOTO - José Lewgoy e Paulo José em "A Faca de Dois Gumes": um thrilling interessante, em exibição no Condor.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
06/10/1989

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