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Aramis

Na dança dos festivais, depois de Brasília é a vez do FestRio

Na manhã de quarta-feira,5, no hall do hotel São Marcos, o cineasta Jorge Duran, 44 anos, mostrava, naturalmente, a satisfação de ter sido o grande premiado no XIX Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Em sua atenção e simpatia, o cineasta nascido no Chile, mas desde 1974 no Brasil, não escondia, entretanto uma preocupação: decidir se "A Cor de Seu Destino" representa o Brasil no III Festival Internacional de Cinema, Televisão e Vídeo do Rio de Janeiro (Hotel Nacional, 20 a 29 de novenbro) - ao lado de "A Ópera do Malandro", de Ruy Guerra - ou se fica reservado para concorrer em Berlim, no próximo semestre. José Carlos Avellar, diretor de assuntos culturais da Embrafilmes, crítico dos mais respeitados (acaba de lançar um novo livro de ensaios, "O Cinema Dilacerado", editora Alhambra) é favorável a que o filme de Duran - que obteve os cinco principais filmes em Brasília - vá a Berlim. Mesmo que não seja premiado, só a classificação para disputar uma das cinco mostras mais importantes do cinema em todo o mundo, lhe dará uma projeção imensa. Se, entretanto, concorrer ao FestRio - que é um festival internacional - ficará impossibilitado de disputar os Ursos de Ouro e Prata, que na capital do antigo Terceiro Reich são dados aos vencedores. No ano passado, o grande vencedor de Brasília "A Hora da Estrela", de Suzana Amaral, ali premiado com 12 troféus, foi reservado para Berlim, onde valeu a Marcelia Cartaxo o Urso de Ouro de melhor atriz. Marcelia, aliás, este ano, esteve no Festival de Brasília desde o segundo dia. simpática, modesta, dizia que apesar do êxito que o seu papel como Macabeia, da personagem de Clarice Lispector, alcançou, ainda não tem nenhum novo convite para cinema - a não ser o filme de Hermano Penna (diretor de "Sargento Getúlio") - recém rodado em Rondônia - "E algumas sondagens para televisão". A Dança dos Festivais Neste final de ano, a dança dos festivais é intensa. Mal encerrado o de Brasília - em sua 19ª edição desde 1965, quando foi criado por Paulo Emílio Salles Gomes - acontece o FestRio, que durante 10 dias movimentará o Rio de Janeiro com mais de 100 filmes em exibição - vinte dos quais em competição, entre longas e curtas. Afora os filmes em competição oficial, haverá obras mostradas hors concours, como "Acta General de Chile", de Miguel Littin (rodado, clandestinamente, em Santiago, no ano passado) "Soft and Hard", de Jean Luc Godard, "Peggy Sue Got Married", o último filme de Francis Ford Coppola e duas atrações maiores: "Cinema Falado" de Caetano Velloso e o histórico "It's All True", com trechos do material que Orson Welles (1915-1985) filmou no Brasil, em 1942, e só descoberto há poucos meses nos depósitos da Paramount, em Los Angeles. Este lendário "It's All True" foi mostrado no último festival de Veneza e, agora, será visto na noite de abertura do FestRio. Depois que Rogério Sganzerla realizou o marcante "Nem Tudo é Verdade" (por sinal, também exibido no último FestRio - e que mostrado na semana passada no Groff, teve pouquíssimo público), o filme que Welles nunca concluiu, adquire especial significado. Caso Jorge Duran decida concorrer mesmo em Berlim com "A Cor de Seu Destino", este filme que levantou os Candangos de melhor filme de longa-metragem, direção, ator coadjuvante (Chico Diaz), atriz coadjuvante (Julia Lemmertz), roteiro e o da crítica (dividido com "A Dança dos Bonecos", do mineiro Helvécio Ratton) será mostrado apenas hors concours na Sala Glauber Rocha, do Hotel Nacional. Há outros filmes na boca-de-espera para representarem o Brasil no FestRio - inclusive "Vera", do paulista Sérgio Tolledo, que apesar de seus méritos, em Brasília, só ficou com os prêmios de trilha sonora (Arrigo Barnabé), atriz (Ana Beatriz Nogueira) e som-mixagem (José Luiz Sasso). Dependendo apenas de alguns detalhes, duas semanas após o FestRio - vésperas do Natal - deverão acontecer em Caxambu, - a terceira edição de novo festival de cinema que foi criado em 1984, graças ao apoio do hoje governador de Brasília, José Aparecido. Em dezembro, a partir do dia 3, haverá em Havana um festival internacional de cinema, voltado especialmente aos países do terceiro mundo - e no qual não há critérios mais rígidos para seleção: quem quiser, participa - já que a mostra não obedece as regras do organismo que disciplina os festivais internacionais de cinema. Entre abril/maio, ocorre o, Festival de Cinema Brasileiro de Gramado, hoje o evento mais competitivo do País - e para o qual muitos cineastas já começaram a reservar seus filmes. De mais de 100 filmes, entre longas, curtas e médias, atualmente em filmagens, finalização ou mesmo já prontos, mas ainda a espera de datas para lançamentos, pelo menos 30 a 40 devem aguardar a mostra gaúcha. Afinal, além de sua notável organização e ampla repercussão na imprensa, a paradisíaca cidade turística na zona da Serra do Rio Grande do Sul é uma atração a mais para os que curtem o Festival. Internacionalização Tanto Gramado como Brasília, disputam não só os filmes mais importantes, como também se dispõe a ampliarem suas fronteiras para sediarem mostras latino-americanas. Até agora, apenas conseguiram apresentar mostras informativas com filmes de alguns países do Continente - mas, se depender da disposição da Fundação Cultural do Distrito Federal, através de seu coordenador de cinema, o atencioso Marco Antônio Guimarães, 40 anos, o próximo festival terá filmes de outros países em competição. Para tanto, durante este festival, Marco Antônio - a cuja competência se deve a boa estrutura do evento - manteve várias reuniões com Cosme Alves, diretor (licenciado) da Cinemateca do MAM - Rio de Janeiro, assessor do FestRio e hoje, sem favor, o executivo que melhor conhece a cinematografia do terceiro mundo. Aliás, graças aos excelentes contatos com Cosme Alves tem junto a cinemateca produtores e realizadores em vários países, o FestRio tem conseguido participações expressivas de países até hoje ilhados em termos de distribuição comercial. Mesmo em convalescença de problemas cardíacos, Cosme Alves com seu senso de organização tem sido um dos braços-direitos e Ney Sroulevich, diretor-geral do FestRio, para que a terceira edição deste evento internacional repita o sucesso dos anos anteriores. Para que o Festival de Brasília possa vir a se tornar uma mostra competitiva para filmes estrangeiros se tornará necessário sua antecipação para o primeiro semestre. No último dia do Festival, anunciou-se a possibilidade do Festival ser ampliado para o cinema em língua portuguesa - o que abrigará filmes de Portugal e Ásia - das antigas colônias ultramarinas. Uma idéia capaz de frutificar, pois entusiasmo não falta da Fundação Cultural do Distrito Federal, presidida por Reynaldo Jardim - jornalista que movimentou bastante Curitiba nos anos em que aqui residiu - e que hoje dispõe de uma boa equipe na área cinematográfica, prova é os bons resultados do festival agora encerrado. As sessões da Mostra Informativa do Cinema latino-americano, levaram a Brasília três interessantes filmes cubanos - "Habanera", 85, de Pastor Vega (que é diretor do Festival de Havana). "Os Pássaros Atirando de Espingarda", de Rolando Dias (já visto também no Festival de Gramado, em sua mostra informativa) e "Memórias do Subdesenvolvimento", 68, de Tomáz Gutierrez Alea (considerado um dos mais importantes cineastas cubanos). O até agora desconhecido cinema cubano tem em Jorge Sanjinés, seu nome mais conhecido - e dele foi mostrado "O Inimigo Principal", produção de 1974 (infelizmente, seu outro filme, "Fora Daqui"; 77, não foi legendado a tempo). Da Argentina, foi exibido "Querida Família", comédia de Alejandro Dorea, que baseada em peça de grande sucesso em Buenos Aires, representou aquele País no FestRio - 85. CAMINHOS DA INFORMAÇÃO Com o fortalecimento dos festivais de cinema, através de uma política inteligente da Embrafilmes, a tendência é valorizar cada vez mais as mostras consolidadas - transformando-as em grandes fóruns de debate e informação. A época dos festivais badalativos, centrados em presenças supérfluas de estrelas e astros de cintilação descartável já passou e Brasília foi a prova disto. Carlos Augusto Calil, diretor-geral da Embrafilmes, vem mantendo uma política segura em termos de eventos que realmente sejam significativos ao Cinema Brasileiro - em termos culturais e econômicos. Assim, a ausência de nomes populares em Brasília, não fez falta - ao contrário, a qualidade dos filmes em exibição compensou amplamente. Se no segundo dia, um programa pesado - formado por três documentários ("Fibra", de Fernando Belens, "Igreja da Libertação", de Sílvio Da-Rin e "Quebrando a Cara", de Ugo Giorgetti), teve poucos espectadores, nas outras sessões a lotação do cinema Brasília foi total, com um público interessado e participante, que, em seu julgamento, também premiou os filmes que mais o agradaram: o curta "Quem Matou Elias Zi?", de Murilo Santos; o média "As Mulheres da Terra", de Marlene França e o longa "A Dança dos Bonecos", de Helvécio Ratton.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
5
09/11/1986

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