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Aramis

Na chuva, uma prova de fogo do Ballet Guaíra

Um espetáculo como o bailado "Lendas do Iguaçu" e o concerto da Sinfônica do Paraná no Parque Nacional do Iguaçu é um desafio em termos de produção artística. Afinal, inexiste ainda um know-how para este tipo de apresentação, ainda mais ao ar livre, sujeito a limitações de espaço físico e ameaçado pela chuva - o que, no sábado impediu a apresentação. Assim, muitas ressalvas que se poderiam fazer desaparecem frente a proposta de dar a dois corpos estáveis da Fundação Teatro Guaíra a oportunidade de se integrarem em palcos naturais e turisticamente atraentes. Esta intenção foi que fez Constantino Viaro, superintendente da Fundação Teatro Guaíra, animador cultural de larga experiência, a idealizar uma superprodução que só se viabilizou graças ao apoio do Bamerindus, e a boa vontade do Sindicato dos Hotéis e Restaurantes de Foz do Iguaçu / Paranatur e, muito especialmente a Secretaria de Turismo daquela cidade. Um mutirão de esforços para que, por duas horas, se realizasse um espetáculo-piloto, capaz de ter continuidade, seja no mesmo local, seja em outros pontos do Estado (Vila Velha seria uma opção para uma nova edição de um espetáculo desta dimensão) Quem de uma forma ou outra já trabalhou com grandes eventos ao ar-livre sabe dos riscos existentes. A chuva é sempre uma probabilidade (e o carnaval de Curitiba é pródigo em sobreviver mesmo com torrenciais tempestades) de, na última hora, tirar a beleza do espetáculo ou mesmo inviabilizá-lo. Foi o que aconteceu no sábado, 7, quando não houve condições dos bailarinos e da Orquestra se apresentarem. Entretanto, o público entendeu o problema e, respeitosamente, aplaudiu-os - voltando no domingo, para então assistir ao espetáculo - iniciado com a peça "Pompas e Circunstâncias" de Elgar, pela OSIMPA e encerrando com os efeitos cromáticos de raio laser, bordando no negro da noite e sobre árvores e mesmo no palco, imagens fascinantes para crianças de todas as idades. Difícil calcular o custo da produção já que há as despesas diretamente cobertas e as contribuições de todos que entenderam o significado do evento. Por exemplo, a Itaipu Binacional, por determinação pessoal do presidente da empresa, ex-governador Ney Braga, viabilizou a construção do palco e arquibancada - o que, se tivesse que ser coberta por recursos próprios se elevaria a vários milhões. Dentro das naturais exigências da administração do Parque Nacional do Iguaçu, a construção de uma arquibancada para mais de 600 pessoas (30 x 11 metros) e um palco, justamente no ponto mais privilegiado de uma das maravilhas da natureza teve de obedecer critérios especiais. De princípio, uma redução de prazo para as obras - de forma a não bloquear desnecessariamente o acesso dos milhares de turistas que ali chegam diariamente. Depois a delicada convivência da armação em ferro e madeira com a vegetação local, sem o corte de uma única árvore. Num trabalho cuidadoso, coordenado com a paciência e competência do engenheiro Tadami Hayaschida, do setor de obras de Itaipu, foi possível executar o projeto com apenas a poda de dois galhos de uma frondosa goiabeira. - "Assim mesmo, para haver a poda dos dois galhos, que absolutamente não significaram corte de sua estrutura, houve necessidade da autorização pessoal e local do diretor-geral do Parque, agrônomo José Carlos Ramos" - explicava Hayaschida no sábado. Este cuidado de fazer com que a arquibancada e o palco não viessem a intervir na paisagem natural estendeu-se a soluções alternativas para possibilitar a produção. Como camarins para os 44 bailarinos (as) improvisaram-se três barracas de campanhas - sem conforto, quentíssimas, mais uma exigência ao espírito de colaboração dos integrantes do Ballet Guaíra. Aparentemente frágeis e confundidos, erroneamente, como estrelas temperamentais, os bailarinos e bailarinas do Guaíra, graças ao pulso firme - mas amigo - de Trincheiras, tem dado constantes provas de profissionalismo. Joel de Oliveira, 54 anos, hoje diretor administrativo da Fundação Teatro Guaíra e que durante 8 anos foi o coordenador do Ballet Guaíra, comenta, com orgulho: - O nosso ballet tem hoje uma garra invejável. Por várias vezes já se apresentou em locais não apropriados, sem conforto - mas sempre dando uma notável mostra de energia. Francisco Duarte, 34 anos, primeiro bailarino - o "Tarobá" nesta montagem de "Lendas do Iguaçu", acrescenta: - Somos profissionais. E quando temos que mostrar um espetáculo estamos disposto a fazer qualquer sacrifício. Idêntica opinião de Mara Mesquita, paulista, convidada para fazer a personagem Naipi - papel que naturalmente teria sido da primeira bailarina do grupo, Eleonora Greca, se ela não estivesse grávida de 6 meses - casada que é com o também bailarino Cássio Vitaliano, que fez o pajé "Arakxó" (o pai de Tarobá) no ballet. O elevado grau de profissionalismo atingido pelo Ballet Guaíra é um exemplo a ser atingido pela Orquestra Sinfônica. Formada há menos de três anos, sofre ainda de problemas internos - que a administração do Guaíra pretende corrigir. Com ótimos músicos, dois regentes competentes - o consagrado Bochino e o jovem Colarusso - a Sinfônica tem um longo caminho pela frente. Comenta Viaro, interpretando palavras de Joel Oliveira: - Queremos ver a Orquestra como o Ballet: um exemplo de profissionalismo, competência e dedicação para grandes espetáculos que a façam amada e respeitada pelo público.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
11/11/1987

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