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Aramis

Músicas Sacras

A montagem de textos do Antigo Testamento e músicas sacras, "Actus Solemnis", com Carmem Costa sob direção de Oraci Gemba, será exibida somente hoje e amanhã no Teatro Paiol. A partir de depois de manhã, a peça será apresentada em diversas igrejas de Curitiba, cumprindo um roteiro que fundará no próximo dia 24, na Praça Afonso Botelho. O elenco que participa da montagem é composto por Denise Assumpção, Narcisio Assumpção, Antônia Eliana Chagas (Tônica), e Joel de Oliveira. As músicas são orquestradas por Luiz Fernando Melara e executadas por Celso Pirata, Quito, Sérgio Malluf e Paulo, irmão de Carmem. Depois de esperar durante cinco anos, finalmente Carmem Costa está realizando este espetáculo tão esperado por ela e Oraci Gemba. Carmem diz que as músicas sacras brasileiras estão desaparecendo e que este espetáculo é resultado de várias pesquisas suas pelo Interior. As músicas "são lamentos, protestos, um grito de dor contra a realidade do mundo". Gemba diz que "Carmem é um daqueles monstros sagrados que a gente teve a felicidade de conhece. Independente disso, é uma mulher sensacional. Uma amiga em todos os sentidos, coisa rara hoje em dia". Carmem Costa gravou músicas que embora o Brasil cante, a juventude, às vezes, não sabe que as composições são suas. Viveu seis anos no Estados Unidos, cantou nos teatros mais importantes, inclusive no "Carnegie Hall", entretanto, continua como sempre foi, humilde: "que nada. Estou sempre começando. Sempre procurando um novo trabalho. Trabalho com jovens e com os da velha guarda, pois não vejo o tempo passar". A idéia do espetáculo "Actus Solemnis", assim que apresentada por Gemba, foi logo aceita pela Fundação Cultural de Curitiba, por verificar a imensa qualidade artística que possui. Depois das apresentações em Curitiba, a montagem será levada ao Rio de Janeiro, e Carmem pretende gravar também um disco, na tentativa de impedir que morra a música sacra. FOTO LEGENDA- Carmem Costa e seu irmão estão em "Actus Solemnis". RECOMEÇAR Dizer que são coincidências é dizer pouco, é dizer nada. Talvez a única maneira de compreender, ao transferir a responsabilidade de desvendar determinados acontecimentos, é atribuir a eles uma "lógica" que não conhecemos. Ou então, para não pensar, outra saída é classificá-los como "naturais", "normais" ou "sem qualquer importância". A Caixa Econômica Federal está distribuindo o Calendário 1978, e quem escreve sobre o mês de janeiro é Clarice Linspector, recentemente falecida. No seu trecho-poema, ela diz: "Eu vos afianço que 1978 é o verdadeiro ano cabalístico, pois a soma final de suas unidades é sete. Portanto mandei ilustrar os Instantes do Tempo, retrilhar as Estrelas, lavar a lua com leite e o sol com oiro líquido. Cada ano que se inicia começo eu a viver". O próximo ano iniciará em breve e todos terão a sensação de que alguma coisa nova virá, pois têm esperanças de atingir seus objetivos. Clarice porém, está morta. Mas antes de morrer fez de 1978 sua esperança, e preparou-se para que atingisse também outras pessoas, através do sol, da lua e das estrelas. Ela deu sua contribuição não apenas para o ano que entrará mas por muito ainda que surgirão. Ela não estará presente para assistir ao ritual que preparou para 1978, pois os Instantes do Tempo foram mais fortes. Mesmo assim, desafiando este mesmo tempo, ela resiste, ela insiste em começar a viver a cada ano que se inicia. Sua obra está aí, com sua vida registrada, para que não permitamos que ela morra.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
15/12/1977

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