A música eletrica dos Mutantes
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 25 de fevereiro de 1973
NUNCA parar, alcançar sempre coisas bonitas, num processo de mutação constante. Esse lema a explicação para o nome "Mutantes". Um som novo a toda hora, sentido de invenção e total criatividade formam o mais importante conjunto de música brasileira.
A principio mostrou três jovens paulistas, dois irmãos moradores de uma casa moderninha do bairro de Perdizes, e uma jovem donzela, moradora de uma casa antiga, que mais parecia um castelo medieval, com altos portões de ferro pintados de preto, móveis de madeira escura e vários quadros de tela de pano, representando reis, rainhas, príncipes e todo aquele folclore do gênero.
Os irmãos, Arnaldo e Sérgio, conheceram Rita Lee Jones por tremendo e fortuito acaso. Tocavam em dois conjuntos diferentes, eles e ela, e em um programa de TV foram violentamente atraídos pelo conhecido "amor à primeira vista". No mesmo dia largaram seus conjuntos e foram ensaiar a três.
Daí surgiu os "Mutantes".
Rita, na flauta doce, piano, harpa e percussão; Sérgio - o mais novo dos três no violão e guitarra, além de cícera, bandolim e outras amenidades no gênero. Já Arnaldo, o rei da flauta doce, violão, guitarra, gaita, órgão, piano e baixo, sem falar nos novos instrumentos eletrônicos recém-importados do Exterior: "melotron" e "moog".
Rita, antes da música, pensava em se tornar uma grande pintora, capaz de expor e outras "melifluidades adredes". Aliás, a capa de seu mais recente LP é de sua própria autoria, apresentando uma auto-caricatura fora de série. Mas, a vontade de ser uma artista do pincel foi logo substituída pela música. Formou um trio feminino chamado (e, às vezes, xingado), as "teenagers Sisters" (?), onde ela tocava baixo e bateria e mais alguns instrumentos de percussão inventados na hora.
A primeira real aparição dos "Mutantes" foi no famoso Festival da Record, em 1967, São Paulo, acompanhando alguns artistas de SP, como Ronnie Von. Naquele Festival da Música Popular Brasileira, o 3 o, causaram o maior impacto audiovisual da história da nossa MPB. Suas roupas até hoje ainda copiadas e seu incrível som, marcaram uma fase importante dentro do panorama musical do nosso País.
Como todos os três sabem música e são capazes de ler uma partitura com a maior tranqüilidade possível, muitos foram os convites para gravações, sem se falar, claro, no alto valor artístico da moçada.
Em seguida, gravaram seu primeiro LP para a Polydor (um produto Phonogram) e mais participação no histórico LP "Tropicália", junto com Gil, Caetano, Gal e Nara Leão, com quem igualmente, ratificaram sua popularidade no III Festival Internacional da Canção Popular, em outubro de 1969, defendendo a música de sua autoria : - "Caminhante Noturno", classificada em 7o lugar, mas com grande receptividade popular. No ano seguinte, no Festival da Record, classificaram duas músicas entre as finalistas: "Dom Quixote" e "2001" outro grande êxito na massa.
Mas, como o nome indica, os três jovens não pararam por aí. Mudaram mais uma vez: aumentaram o número de integrantes. Mais dois "super-cobras" foram agregados definitivamente a troupe: Ronaldo Leme, bateria, e Arnolpho Lima, o "Liminha", no baixo. Esta alteração trouxe maiores oportunidades ao conjunto de estender sua riquíssima inspiração musical por caminhos nunca dantes navegados na história dos conjuntos ativos.
Na parte sócio-romântica podemos apontar o inusitado fato do enlace matrimonial, efetivo em 1972, entre Rita Lee e Arnaldo Batista, fazendo com que o conjunto ficasse muito mais unida ainda.
Ainda há a destacar a incursão, vitoriosa registrada no MIDEM de 1969, como todos sabem, a maior feira da música, realizada em Cannes, na França. Entremeado isto tudo por inúmeras viagens de turismo e estudo aos "States" e Europa.
Um capítulo à parte é o equipamento de som do grupo.
É o primeiro conjunto da América Latina a utilizar o sistema "Quadrasonic" (quatro canais independentes de som) nos seus "shows ao vivo. Graças ao engenho e inventiva dos próprios integrantes do grupo, com destaque para Sérgio e seu outro irmão, Roberto, verdadeiros luminares da eletrônica e seus derivados. - Podem reparar na qualidade de som dos seus discos: ali também há o dedo dos rapazes para maior garantia de qualidade sonora.
Até setembro de 1972, os "Mutantes" já editaram quatro LPS e Rita Lee, ela sozinha, mais dois álbuns. Atualmente, Arnaldo Batista; e também produtor da fabrica Phonogram, sendo o responsável pêlos recentes discos deles próprios e sua Sra., Rita Lee Batista.
Neste ano, eles retornam ao FIC, com uma canção terna, descontraída, bem humorada e extremamente maternal: "Mande Um Abraço Pra Velha". Seja o que Deus quiser.
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