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Aramis

Música

Está ainda à espera de um ensaio acadêmico a figura do produtor fonográfico. De Aloysio de Oliveira a Mazola, um estudo que faça justiça aos homens que são responsáveis, na maioria das vezes, pelos acertos (e desacertos) de um artista e de um disco. Há produtores como Hermínio Bello de Carvalho que praticamente reinventaram a criação fonográfica com trabalhos históricos. Outros que deram a artistas populares uma dimensão excelente, fazendo valorizarem-se a cada disco. Exemplo disto é Rildo Hora (Recife, 20/04/1939), compositor, executante de harmônica-de-boca e sobretudo excelente produtor. Méritos à parte, Martinho da Vila (Duas Barras, RJ, 12/2/1938) deve muito de sua carreira a inteligência e sensibilidade de Rildo, que, em 1967, na Copacabana, com o hoje extinto trio ABC da Portela (Noca / Picolino / Colombo) gravou "Ninguém Conhece Ninguém", primeira samba do então sargento Martinho José Ferreira a chegar ao disco. a partir de então estabeleceu-se uma relação afetuosa e artística entre Rildo e Martinho, traduzida em elepes do melhor vigor e que chega agora, ao 17º álbum ("Criações e Recriações", RCA) mostrando um Martinho cada vez mais agradável como cantor e inspirado como compositor. Artista hoje de prestígio internacionalmente (especialmente na África e Portugal) Martinho evolui sempre em seu estilo saboroso e há muito deixou as limitações do sambão para chegar a uma sonoridade suave, mesmo quando busca capturar o ritmo afro ("Traço de União", parceria com João Bosco; "Samba dos Ancestrais", parceria com Rosinha de Valença). Neste seu novo disco, com participação afetuosa de seus filhos Tinho Antonio, Nalimar e Martina (Misael Hora, 17 anos, pianista, filho de Rildo, também participa), Martinho regravou algumas músicas significativas: além da histórica "Ninguém Conhece Ninguém"; a bela "Retrós e Linhas", inspirada parceria de Hermínio, lançada por Alaíde Costa (e agora com a participação de Martina); e "Roda Ciranda", que foi sucesso na voz de Alcione. Mas há os sambas novos de Marinho, como "Fica Comigo Mais Um Pouco" (c/Gracia do Salgueiro), daqueles sambas de quadras como características de salão ou o extasiado ato de amor "Polígamo Fiel", com destaque ao solo de Paulo Moura na clarinete e uma letra audaciosamente sensual falando em sêmen e orgasmo, com muito lirismo. Integrada ao espírito do título-tema, "Recriando a Criação" (com Zé Catimba) tem uma suave beleza em sua estrutura, assim como "Muita Luz" (com João Donato) e "Carnaval de Ilusões" (com Gemeu). Um belo e emocionante disco, com ótimos músicos (Rosinha de Valença, Rui Quaresma e Rafael Rabelo nos violões, por exemplo), confirmando como deu certo a parceria Rildo Hora na produção, Martinho na criação e interpretação - sem esquecer o grande e admirável Elifas Andreato, que desde 1972 ("Batuque na Cozinha") é o indispensável autor das belas capas dos discos de Martinho. xxx Ex-integrante do grupo que acompanhou Martinho da Vila, Jorginho do Império - filho de Mano Décio da Viola (Décio Antonio Carlos, 1909-1984), sofreu durante muito tempo o estigma da comparação a Martinho. É verdade que, no início, ele também fazia por merecer, imitando não só o estilo musical mas até o visual de Martinho. Hoje, mais amadurecido, Jorginho traz uma força pessoal em suas músicas - e na que escolhe para gravar - como mostra em "Festa do Samba" (Continental), seu 14º lp. Ao lado da homenagem ao seu pai, com a gravação de "61 anos de República" (parceria com Siles de Oliveira), o repertório é diversificado, com sambas comunicativos e simpáticos, incluindo um alegre pout-pourri em homenagem ao bloco Bafo de Onça e outro que fala das gírias do morro. Enfim, Jorginho do Império tem hoje seu próprio espaço - embora, convenhamos, o sonho de ser um Martinho ainda seja uma estrela dourada. LEGENDA : Martinho: canto cada vez melhor.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
13/10/1985

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