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Aramis

Musica

A androgenia chegou agressivamente na arte brasileira: quase 40% dos espetáculos teatrais apresentados em São Paulo em 1974 tiveram atores (ou ao menos do sexo masculino) vivendo personagens femininas e o conjunto Secos & Molhados, após o sucesso de 73/74, desintegrando-se, faz com que surgissem uma série de sucedâneos também inspirados nos abdrógenos elétricos internacionais como David Bowie e Alice Cooper. De certa forma anterior ao caso dos secos e molhados - que tinha em Ney Matogrosso, com sua voz de contralto, a grande vedete (e que em 75 vai aparecer, tenho certeza, como solista de sucesso comercial), a cantora Maria Alcina também representa uma certa androgenia musical: sua voz máscula, facilmente confundida com a de um cantor, correspondia, entre as cantoras o que Ney Matogrosso representava entre os homens(sic). Lançada em festivais, bastante promovida por amigos da imprensa carioca, Maria Alcina emplacaria em sua carreira ao fazer na inexpressiva Chantecler - gravadora de passado brilhante, mas hoje prejudicada, ao menos regionalmente, pela falta de divulgação o seu primeiro lp, que não apareceu nem nas lojas para ser vendido. Entretanto, ao vivo, ela fez um show de teatro bastante badalado e que só não chegou a outras cidades fora da Guanabara e São Paulo, pela imbecilidade de seu empresário, que passou a fazer exigências inaceitáveis considerando o ainda pequeno prestigio de Maria Alcina. Agora, pela Continental que também é proprietária da Chantecler, mas, ao contrário, tem divulgação eficiente, graças a Armando Heinz, sai o novo lp de Maria Alcina (1-01-404-094). Procurando demonstrar nas fotos de Alfredo Griecco de Capa e contracapa - estilo Great Gatsby uma feminilidade que muitos insistem em negar, Maria Alcina aparece com um bom repertório, excelentes instrumentistas a acompanhá-la e uma cuidadosa produção. Se este lp tivesse nos chegado às mãos um mês antes poderia ter sido comentado na página dominical que dedicamos a João Bosco e suas cantoras. Pois como Elis Regina e Simone, Maria Alcina também entendeu a importância do jovem compositor mineiro, e incluiu quatro novas músicas de Bosco e seu perfeito parceiro, Aldir Blanc: "Beguine Dodói", "Foi-se O Que Era Doce", "Kid Cavaquinho" e "Amigos Novos e Antigos". Embora não tenham o mesmo impacto das canções gravadas por Elis (lp Philips) e Simone (lp Odeon), estas quatro novas musicas da melhor dupla de compositores de 74, são musicas descontraídas, bem humoradas, com imagens deliciosas, com a de "Beguine Dodói": "Olha meu bem/ o que restou/ Daquele grande herói/ Sem teu amor emagreci/ E ando dodói/ Como Tarzan depois da gripe/ De emplastro sabiá / Tomando cana nos botequins". A música mais executada deste lp é o comunicativo "Kid Cavaquinho"- que demonstra que Bosco/Aldir não são apenas criadores de musicas séries e herméticas, mas sabem fazer canções para o povo... A abertura do lado A é com "Tome Polca", velha música de José Maria de Abreu-Luiz Peixoto (1894-1973) e em seguida temos a versão de Que Júlio Nagib fez para o antigo tema "Wir Haben Ein Klavier"(Jupp Schmitz-Johny Bartelz), aqui chamado "Piano Alemão". Uma nova dupla Ricardo Gisnberg/ Miguel Paiva, assina "Como Se Não Tivesse Acontecido Nada", "O Anjo do Bem e do Mal" e "Terceiro Ato" e Sidney Mattos Augusto Magalhães são os autores de "Mulher Mulher" e "Carmila". Um disco interessante que merece atenção. LEGENDA FOTO -1 Alcina.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal do Espetáculo
14
05/01/1975

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