As mulheres tiveram sua vez e hora
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 05 de abril de 1987
Se as mulheres peemedebistas tem se queixado da falta de uma representante no primeiro escalão do governo Álvaro Dias - e mesmo melhor aproveitamento das representantes do (outrora) sexo frágil em funções de destaque no segundo e terceiro escalão, ao menos na Secretaria da Cultura não há razões para reclamações.
O secretário Renê Dotti prestigiou bastante as mulheres em sua pasta, reservando funções de destaque - e escolhendo pessoas competentes para os diferentes cargos.
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Começou pela direção-geral da Secretaria, função que corresponde a substituição do próprio secretário em suas viagens e impedimentos. Para este cargo, Renê soube escolher uma das pessoas em que deposita maior confiança e que reúne experiência e relacionamento em várias áreas: a lapiana Nancy Westphalen Corrêa, bibliotecária e professora (aposentada) da Universidade Federal do Paraná. Primeira bibliotecária a ocupar a direção da BBP, há 19 anos, Nancy sempre foi uma líder da categoria, tendo presidido o Conselho Federal de Biblioteconomia.
Das quatro coordenadorias, três foram destinadas a mulheres. Maria Luiza Valente Piermartim, arquiteta e professora das Universidades Federal e Católica, substituiu ao sociólogo José Guilherme Cantor Magnani (já de volta a São Paulo, onde é professor) na chefia da Coordenadoria do Patrimônio Cultural. Com uma grande atuação profissional, dinâmica, Maria Luiza, em apenas duas semanas mostrou estar disposta a sacudir a poeira do setor.
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Marlene Rodrigues, nomeada para substituir a Eleni Bettes na Coordenadoria de Comunicação, tem um curriculum impressionante. São 17 páginas repletas de títulos, cargos, funções, obras publicadas, participação em projetos, que mostram uma mulher dinâmica, com múltiplas atuações - em Curitiba, São Paulo e até Mato Grosso. Jornalista - até hoje colaborando no "Jornal Indústria & Comércio", professora formada em Filosofia pela UFP (1966), com Doutoramento e Mestrado, afora uma dezena de outros cursos, Marlene tem experiências nas mais diferentes áreas - da psicologia a editoração. Autora de três livros publicados, tem quatro outros em vias de lançamento - incluindo um Dicionário Popular de Psicologia e dois infantis ("Os Meninos Do Mato Grosso Do Sul E A Descoberta Dos Direitos Humanos" e "O Mestre Cuca") e mais seis livros em preparo. No campo de ensaios, já concluiu seis trabalhos. No mínimo, Marlene parece conhecer o segredo da ambigüidade, haja visto a intensidade dos cargos, cursos e trabalhos que já desenvolveu.
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Destinada a ocupar a futura coordenadoria de captação de recursos externos, a bela Rosana Stochero também vem com boa experiência na área de Incentivos Fiscais. Já está em ação, procurando viabilizar o programa de aplicações da Lei Sarney - aliás, única forma da Secretaria da Cultura dispor de recursos para projetos em 1987, haja visto a situação dramática em que se encontra em termos financeiros.
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Da jornalista Lúcia Camargo, escolhida para a direção de arte e programação da Fundação Teatro Guaíra, nem é preciso falar muito. Jornalista, professora universitária, já foi diretora executiva da Fundação Cultural de Curitiba e, nos últimos três anos, coordenadora-adjunta do escritório regional da Funarte. Esteve na bica para assumir a direção executiva da Funarte, quando seu amigo, Ziraldo Alves Pinto, foi para a presidência da Fundação Nacional das Artes.
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Cargo privativo de bibliotecárias em função de lei federal, a direção da Biblioteca Pública foi confiada a Sônia Maria Breda, que já chefiava a divisão de periódicos daquela unidade cultural.
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Primeira crítica de artes plásticas com atuação regular no Paraná, professora da Universidade Federal do Paraná, autora de importantes projetos de pesquisa da arte catarinense (já publicada) e paranaense (inédita), Adalice Araújo é uma mulher resoluta. Corajosa, independente, diz o que pensa e se tem feito inimigos ferozes, tem também uma legião de pessoas que a admiram e que inclusive, publicamente, a apoiaram para que conseguisse chegar a direção do Museu de Arte Contemporânea.
Para o Museu Casa Alfredo Andersen, a escolhida foi Carmen Lúcia Carini, catarinense do Rio das Antas, professora e artista plástica, autora de obras marcantes - inclusive projetos de paisagismo e painéis em muros da cidade. Tímida, em sua posse, estava tão nervosa que não conseguia sequer ler o discurso. O secretário Renê Dotti, com humor e ternura, ajudou-a na leitura, transformando a solenidade numa espécie de jogral - o que deu ao ato um envolvimento dos mais simpáticos. Aliás, quando da posse dos diretores de museus, há uma semana, no Museu da Imagem e do Som, mostrando que é mesmo um homem criativo, o novo diretor, Francisco Bettega Neto, gravou o seu discurso, projetando na ocasião. Bettega, do alto de seus quase dois metros de altura e 130 quilos, substituiu o cigarro pelo charuto, com uma cultural justificativa:
- "É uma homenagem a Villa-Lobos, que sempre gostou de charuto, no ano de seu centenário. E ao meu ídolo cinematográfico, Orson Welles..."
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