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Aramis

A Mosca Azul contra Jaime Lerner

Apesar dos vôos rasantes que uma superblindada mosca azul fez nos escritórios de Jaime Lerner, não foi desta vez, ainda, que suas picadas foram suficientes para contaminá-lo com a disposição de abandonar suas lucrativas pranchetas de planejamento urbano e enfrentar a poeira das estradas do Interior, em busca de votos que lhe garantam uma poltrona estofada na Câmara Federal. Irritado, inclusive, com as especulações feitas a respeito, o ex-prefeito tem procurado dizer aos amigos que, emboranão descarte sonhos (afinal quem provou a água mineral do poder, jamais esquece seu sabor), acha que ainda não chegou a sua hora e vez de entrar no cipoal da política paranaense. *** Elevado hoje a uma posição privilegiadíssima no cenário nacional, como arquiteto e planejador dos mais elogiados e badalados, contratos excelentes para desenvolver múltiplos projetos na área que elegeu - e cujos resultados financeiros são compensadores - Jaime Lerner tem sido namorado tanto pela Arena como pelo MDB. Em qualquer dos dois partidos teria as portas abertas, pois, acredita-se, seria um reforço importante para as nem sempre brilhantes bancadas em Brasília. *** Há mais de um ano, por pouco que o MDB não ganhou a participação de Jaime. Durante uma longa viagem a Brasília, o pirotécnico senador Francisco Leite Chaves, nordestino de farta argumentação, extrasiou Jaime Lerner. Que havia deixado há pouco, no meio de série crise, o cargo que ocupava na administração do Rio de Janeiro, com suas potencialidades no MDB. Falavá-se, então, que o próximo governador do Paraná seria eleito por votação direta de Jaime, se no partido oposicionista, poderia ser o nome certo. Entre a palestra informal e a promessa de que pensaria no assunto, houve uma precipitação do senador Leite Chaves, ao anunciar que Jaime já iria assinar a ficha de filiação. Mas houve, neste período, consultas ao seu staff e acabou preferindo adiar a decisão, divulgando, na época, uma estratégica nota. *** Outro técnico, por sinal integrante também do mesmo grupo de Jaime Lerner, que vem sendo cortejado pelos mais atraentes líderes emedebistas é o também arquiteto Marcos Prado. Ex-diretor do Detran, de prestígio nacional, autor de livros, admirado (e as vezes temido) por suas posições independentes, bom de argumentação e de briga, Marcos Prado também seria, na opinião de vários líderes do MDB, um reforço para a oposição. Mas, como bom mineiro, ex-publicitário e ex-colega de trabalho de Ziraldo, Marcos vem fugindo de envolvimentos políticos. Para ele, hoje num solitário trabalho, há contratos que lhe permitem uma vida tranqüila, sossegada, sem aborrecimentos e com sazonais esticadas em volta do mundo. Que ainda é a melhor vingança para com as intrigas e incompreensões tupiniquins. MUSICALIDADE DE SMETAK Como nem tudo está perdido: a professora Julieta Borba Cortes Fialho dos Santos, que foi uma das mais eficientes diretoras que o Centro de Criatividade já teve, aproveitou a viagem de férias que fez a Bahia, há algumas semanas, para estabelecer contatos e trazer gente capaz de dinamizar aquela estagnada unidade da Fundação Cultural. E um dos cursos que ali serão realizados, graças a boa idéias de Julieta é, justamente, com um dos mais respeitados musicólogicos e pesquisadores de sons que vive em Salvador, o suíço Walter Smetak, que aqui permanecerá durante a segunda quinzena de março. *** Walter Smetak é uma personalidade fortíssima, inventor de instrumentos inusitados, que desenvolvendo um trabalho altamente experimental na Universidade da Bahia, em seu Departamento de Música, vem influenciando dezenas de compositores. Adorado pelo grupo baiano - especialmente Caetano Veloso e Gilberto Gil, chegou a gravar um dos mais importantes elepes, em 1974, produção de Roberto Santana e do próprio Caetano. Disco-documento, que jamais seria tocado em rádio, este álbum, infelizmente foi retirado de catálogo pela Philips, sendo hoje raríssima. *** Ao lado do curso de criatividade musical que dará no CCC - e que será, sem dúvida, um dos mais importantes eventos do ano - Smatek bem que poderia ser convidado para fazer um concerto-happening, onde, quem se interessa por novas propostas, teria oportunidade de vê-lo em seu processo de criação de sons. Aqui fica a sugestão.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
09/03/1978

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