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Aramis

Mineiros

Uma prova do talento mineiro, contribuição cada vez mais positiva na MPB - afora toda uma geração ainda emergente, que ouvimos no magnífico espetáculo "Travessia", produzido pela Fundação Clóvis Salgado (e que deve sair um lp independente, em breve) em Belo Horizonte, são quatro discos que estão na praça, de diferentes estilos e intérpretes: "Louça Fina" com Sueli Costa. "14 Bis", "Terra dos Pássaros" com Toninho Horta - os três da Odeon - e o segundo lp solo de Tavinho Moura (RCA). Tavinho Moura, que já mereceu registro no suplemento "Fim de Semana", confirma neste seu segundo lp sua preocupação em mergulhar nas raízes mineiras. A emoção de seu primeiro lp repete-se nesta sua segunda oportunidade de mostrar todo talento, iniciando por musicar "Cabaré Mineiro", e um poema do mais notável dos mineiros - Carlos Drummond de Andrade, que junto com "O Sonho", de Zezinho da Viola, fazem parte da trilha do filme "Cabaré Mineiro", de Carlos Alberto Prates Correia, o badalado cineasta de "Perdida". Tavinho compõe com vários parceiros (Murilo Antunes, Fernando Brant, Márcio Borges), mas ao contrário de alguns companheiros de geração, prefere a suavidade do violão de Zé Eduardo, os teclados e acordeon de Flávio Venturini e os bem colocados metais de Nivaldo Ornelas (sax) e Paolo Dilonardo (oboé) para emoldurar suas interpretações suaves e profundas. Mineira de Juiz de Fora, revelada em festivais que se realizavam naquela cidade, Sueli Costa impôs-se primeiro como compositora, com belíssimas músicas gravadas por nomes dos mais expressivos (Elis, Bethania, etc.) "Louça fina" (Odeon), seu terceiro elepê como autora-intérprete, mostra a criadora equilibrada, dois filhos, superadas muitas crises pessoais, que a machucaram muito. Cada uma das faixas deste elepê - com parceiros (letristas) dos melhores que poderia haver: Aldir Blanc, Paulo Emílio "Para os Meninos da Nicarágua), Abel Silva ("Louça Fina", "Alegria e a Dor"; "Uma Vida em Segredo", "Esperar Eu Não Sei", "Primeiro Jornal", "Jura Secreta"), Tite de Lemos ("Flecha Ligeira", "O Inocente"). Paulo César Pinheiro ("Segredo Quebrado"), justificariam todo um comentário a parte. Sueli é uma compositora de imensa dimensão em suas harmonias que tem tido a felicidade de encontrar letristas altamente identificados com sua sensibilidade: seja um Aldir Blanc, verdadeiro bruxo das palavras (como em "Altos e Baixos"), seja Abel, seu parceiro mais constante, com quem divide "Jura Secreta", sucesso já conhecido, "Louça Fina" é toda sensibilidade e emoção, transmitidas na feliz foto de Fernando de Carvalho, que Noguhi aproveitou na capa: uma lágrima suave. Sueli é compositora fina, como raras do Brasil. E esperamos, logo, voltar a falar com mais vagar a seu respeito. Poucos discos tiveram uma produção tão demorada e difícil como "Terra dos Pássaros", finalmente lançado pela Odeon. Toninho Horta, da chamada "Turma da Esquina", de Milton Nascimento, começou a fazer este elepê em julho de 1976, quando acompanhando Bituca, Novelli, Airto Moreira e outros aproveitou algumas horas de folga no Paramount Studios, na Califórnia, e registrou suas composições "Terra dos Pássaros" e "Beijo Partido" (esta uma obra prima, que Flora Purim incluiu em seu último elepê). De volta ao Brasil, fez mais algumas faixas acompanhado de músicos da Orquestra Sinfônica de Campinas. Tentando negociar o tape com alguma fábrica, não se apressou: com recursos próprios, e estimulado pelo amigo Ronaldo Bastos, foi fazendo faixa por faixa, em diferentes seções e o resultado é que de todos os discos aparecidos nos últimos meses, este é um dos de maior força e vibração interna. No pequeno texto de contracapa, o próprio Toninho explica este significado histórico do disco, referindo-se por exemplo, a "Diana", que teve uma gravação de 3 anos passados, aproveitada agora. A exemplo de "Louça Fina", de Sueli Costa, também Toninho Horta, mineiro maior talento, justificaria toda uma longa exposição, para se contar, em detalhes, as dificuldades de um violonista-compositor (e cantor) para realçar um trabalho pessoal. Mas a dificuldades compensaram e, desde já, este seu elepê está entre os melhores do ano. Com algum atraso, afinal conhecemos o grupo 14 Bis, conjunto vocal-instrumental formado por Flávio Venturini (teclados, violão, bandolim e vocal), ex-O Terço; Vermelho (teclados, violão, baixo e vocal), Sérgio Magrão (baixo, violão e vocal), Heli Rodrigues (bateria e percussão) e Cláudio Venturini (guitarra, violão e vocais). Com algumas participações especiais - como do excelente acordeonista Osvaldinho em "ponta de Esperança", Zé Menezes no banjo em "Cinema de Faroeste", Suzana Nunes, vocal em "Perdido em Abbey Road", "Cinema de Faroeste" e "Blue", além de Kimura, na harmônica ("Pedra Menina"), trata-se de conjunto vocal-instrumental de força. Todas as músicas são de Flávio Venturini, com diferentes parceiros - como Borges, Tavinho Moura ("Natural" e "Três Ranchos"), Murilo Antunes ("Sonho de Valsa"), Vermelho, entre outros. A única exceção é "canção da América" (Unecounter), de Milton Nascimento/F.Brant.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
27
13/04/1980

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