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Aramis

Mesmo com a crise, CD ampliou o seu mercado

Se alguém tem dúvidas de que nem tudo vai mal neste país, um indicador de que em época de crise o som vai bem: nos três primeiros meses deste ano já foram lançados nada menos que 170 títulos de CDs - o que somada à produção de abril, completa mais de 200 produtos novos em catálogo. Considerando que o custo de um CD está variando de NCz$ 15 a NCz$ 40,00, é de se imaginar que um razoável público de bom poder aquisitivo está absorvendo as edições que as gravadoras vêm fazendo de um produto sofisticado e destinado àquele que seria, a princípio, para a classe A. Entretanto, o fato de cantores populares, puxados ao brega - como Wando - estarem entre os mais procurados em CDs, assim como dezenas de grupos de rock, verifica-se que não é apenas uma elite intelectualmente exigente que busca a cada semana os novos títulos em CDs - cujo potencial só tende a crescer - embora os aparelhos de reprodução custem entre NCz$ 550,00 (sistema nacional) até NCz$ 5.817,00 (sistema internacional móvel com controle remoto). A MicroService, instalada em São Paulo, é a única fábrica de discos CD na América do Sul, atendendo todas as gravadoras e produtores independentes. As gravadoras, por sua vez, estão investindo em campanhas promocionais - dentro de uma política com vistas ao futuro, já que no Japão o CD praticamente já substituiu as gravações originais e nos Estados Unidos e países europeus - como a França, Inglaterra e Alemanha - cada vez mais os antigos elepês desaparecem das lojas, substituídos pelas portáteis embalagens CDs - duráveis e de belo visual. No Brasil, as lojas de discos também se adequaram à nova realidade. Em Curitiba o astuto Virgílio G. Savarim, 32 anos, há 12 anos no mercado, garante que vende uma média diária de 300 CDs - o que é uma soma altíssima, e provaria que os curitibanos estão com alto poder aquisitivo. OPÇÕES - Praticamente, o catálogo de CDs - que está ao redor de 500 títulos - oferece muitas opções, embora, naturalmente, ainda seja reduzido perante as opções internacionais. O que faz com que os colecionadores brasileiros fiquem de água na boca (mas com aperto no bolso) quando folheiam as publicações especializadas - ou viajam a Nova York e, em supermercados musicais como a cadeia de Sam Goody ou no Tower's Record, se deslumbram com milhares de CDs - cujos custos ficam entre US$ 8 (ofertas) a US$ 15/20 (lançamentos). As gravadoras estão aproveitando a novidade do CD para mexerem em seus arquivos e remontarem discos com os artistas de maior prestígio que tiveram sobre contrato - e que já faleceram ou passaram para outras gravadoras. Por exemplo, a RGE, que numa época teve um grande catálogo, fez agora em CD a série "Convite para ouvir" na qual convivem desde o jovem Chico Buarque (que ali fez seus 3 primeiros lps) até o falecido maestro italiano Simonetti. A Polygram, que sempre soube remontar os fonogramas de seu elenco fantástico do passado, também está fazendo o mesmo em CDs, sendo que um dos títulos mais interessantes é o que reúne o grupo vocal Os Cariocas, formado em 1942 e que, desfeito em 1967, estava retornando no ano passado, quando, tragicamente, durante uma de suas apresentações, faleceu Luís Roberto, o mais jovem integrante do grupo. O CD com Os Cariocas é esplêndido, reunindo gravações dos anos 1961/67 - e deixando com água na boca por um segundo volume. A Odeon lançou em janeiro "João Gilberto Interpreta Tom Jobim", que anteriormente já havia saído em disco convencional - também imperdível aos fãs da melhor MPB, aos quais também não se pode deixar de recomendar os CDs de João Bosco ("Ai Ai de Mim", CBS), Elis Regina ("Vento de Maio", Emi-Odeon) - que complementa os três outros CDs, com a mesma cantora, já editados pela Polygram. De Elis, também temos seu juvenil álbum gravado na CBS, em 1961, numa edição conjunta ao histórico "Barquinho", de Maysa - reeditados há alguns meses, em edição convencional, na série "Presença de..." montada por Maurício Quadrio. Em março último, a Polygram editou em CD o histórico "Getz Gilberto", com Stan Getz, João Gilberto e Astrud - que cantando em 1963 o "Garota de Ipanema" se tornaria o maior sucesso nos Estados Unidos -e daí para o mundo. "Cartola... Bate outra vez...", produção de Aretuza Garibaldi, um dos melhores discos de 1988, já saiu em CD, lançamento da Sigla, que também incluiu neste processo o excelente (embora pouco conhecido), grupo Chovendo na Roseira, cantando o melhor de Tom. Internacionalmente, o catálogo de CDs, já produzido no Brasil, é amplo - embora com poucos títulos ainda na área do jazz e clássico. Em compensação, música descartável e digestiva, como a de Richard Clayderman ou a orquestra de Ray Conniff ocupa vários volumes. Em março, saíram, dois volumes com Ella Fitzgerald cantando a obra de Cole Porter e o histórico encontro de Francis Albert Sinatra e Antônio Carlos Jobim, edição WEA, também já pode ser curtido em CD.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
12
30/04/1989

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