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Aramis

As memórias do Dr. Brandão das orquestras paranaenses

Até hoje não foi escrita a história da Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Paraná. Ela nasceu, cresceu e morreu melancolicamente - sem merecer sequer um réquiem - sem que nada fosse registrado em detalhes. Assim, entre tantos aspectos que estão a merecer pesquisas sobre a nossa vida cultural, também a vida daquela Sinfônica merece ser contada. Pois, com ela, se contará também um pouco de nossa vida musical a partir dos anos 40 - pois seu surgimento oficial, em 1958, se deu em conseqüência de outras orquestras e muito idealismo. Hélio Brandão, 67 anos, mato-grossense de Aquidauana, mas curitibano desde 1942 - quando sua numerosa família aqui chegou, contou um pouco da história da música em nossa cidade nestes últimos 50 anos para um depoimento da série Memória História do Paraná. Dizer que a gênese daquela que viria a ser a Sinfônica da Universidade Federal do Paraná, nasceu numa sala da modesta residência de um padeiro, não está errado. Isto porque o pai de Hélio Brandão, o baiano Espiridião Francisco Brandão (1889-1985), depois de ter aprendido a ser alfaiate, acabaria mudando de profissão e se estabelecendo em Curitiba com a "Padaria Nacional", na Rua Saldanha Marinho. Os mais velhos moradores do centro ainda recordam a qualidade dos pães quentes, tirados em várias fornadas ao longo do dia, "uma novidade que meu pai trouxe para a cidade", lembra Hélio. Embora sem maior tradição musical na família, o fato é que existia um piano na sala. Hélio, que desde seus tempos de primário em Aquidauana gostava de música, começou a estudar violino pouco antes de entrar na Faculdade de Medicina, em 1944. Conheceu um estudante de odontologia, Kalil Rahe, que também estudava violino e formaram um duo que ensaiava em sua casa. - "Um dia, passando pela Rua Saldanha Marinho, um estudante de Engenharia Química, Gabriel de Paula Machado, viu pela janela que havia um piano em nossa casa. Entrou e foi logo dizendo que estudava o instrumento, mas não o tinha para ensaiar. Imediatamente, convidamos para ele sentar-se frente ao piano e a sonoridade que extraiu dos teclados fez com que nascesse, espontaneamente, um trio improvisado - de dois violinos e um piano". Amigos musicais, os universitários Hélio, Kalil e Gabriel começaram a ser convidados para se apresentarem em festas particulares "e os elogios floriam", diz Brandão. - "Tínhamos um acesso à sociedade. Até o professor Pampilho de Assunção, o rigoroso diretor da Faculdade de Medicina, pedia para nós tocarmos em sua casa". Outros jovens músicos se aproximaram. Com a fundação da Sociedade de Cultura Artística Brasílio Itiberê, liderada pelo professor Fernando Corrêa de Azevedo (1913-1975), havia até uma boa orquestra daquela instituição. Só que Hélio e seus amigos acharam que deveria ser formada uma orquestra estudantil, mais liberal, e assim, em 1944, com apoio entusiástico de uma figura folclórica de nossa vida musical, o (então) estudante de Engenharia Jacó Kulish, era montada uma pequena orquestra. "Para regê-la, fomos convidar o maestro Bento Mossurunga - que dividia com Zayer - a direção musical da Orquestra da Scabi". Recordando o momento do convite, Hélio revela um aspecto da personalidade do Mossurunga (1887-1970): - "Fomos em sua casa, na Avenida Vicente Machado, e ele nos recebeu na janela. Eu, o Kalil e o Gabriel expusemos a idéia da orquestra e o maestro Bento ouviu em silêncio. Disse apenas: "Pois bem, formem a orquestra e me avisem do local do ensaio que eu vou reger". Um militar apaixonado por música, o major Flamalião Pinto de Campos, também entusiasmado com o idealismo dos rapazes, conseguiu o Círculo Militar do Paraná para ensaios e ali aconteceria, em 15 de novembro de 1946, o primeiro concerto. Entretanto, o fato da nova orquestra ter "roubado" o maestro Mossurunga da Scabi, irritou algumas pessoas. Entre elas, o músico Jorge Frank (1905-1978), casado com Renée de Frank (1902-1979), do Trio Paranaense, que era dono da Floricultura Paranaense, no térreo do Palácio Avenida. Ali, ao ser informado por Gabriel e Kalil de que a Orquestra Estudantil de Concertos iria estrear regida por Mossurunga, ficou furioso. - "Ele perdeu a calma. E por pouco não agrediu a Kalil, que, em vão, tentava explicar que a cidade comportava duas orquestras". xxx A Orquestra Estudantil de Concerto reuniu jovens e promissores talentos - como os violinistas Gedeão Martins, Eduardo Withers, Hugo Garbaccio, Jecila de Freitas, enquanto ao piano tinha Ofélia - que viria a casar-se com Hélio. A lua-de-mel da nova orquestra com o Círculo Militar acabou quando uma nova diretoria decidiu promover "matinadas" musicais aos domingos pela manhã, quando os jovens ensaiavam. - "Assim, antes que eles nos obrigassem a tocar para dançar, procuramos outra sede", diz Hélio. O coronel Hernani Nogueira Zaina, que presidia o Thalia, e a pedido do major Flamarion, acolheu a orquestra. Na época, o Thalia tinha preocupações culturais - pois ali o pioneiro da dança no Brasil, Thadeo Morozowicz (1902-1982) havia se instalado desde os anos 30 com a primeira escola de dança do Paraná. Por mais de dez anos, a Orquestra Estudantil de Concertos sobreviveu a mudanças de músicos e mesmo de maestros. Alguns de seus integrantes chegaram a estudar no Exterior, como o violinista Gedeão Martins, que, por indicação de Roberto Albizu, diretor do então atuante Centro Cultural Brasil-Estados Unidos, foi, em 1953, cursar violino e regência numa universidade americana. Em 1958, o reitor Flávio Suplicy de Lacerda (1903-1983), no entusiasmo da inauguração do auditório da Reitoria da Universidade Federal do Paraná, anunciou que seria formada uma orquestra universitária (já começava a ser ensaiado, então, o coral, dirigido por Mário Garau, recém chegado ao Brasil). Novamente, Hélio frente a alguns colegas da orquestra, teve a idéia: propor que a Orquestra Estudantil de Concertos fosse a base da sinfônica. "Suplicy aceitou, desde que não implicasse em despesas e nós topamos", diz Hélio, que na época não integrava mais como músico, mas continuava em sua direção. Também na regência, já não estava mais Bento Mossurunga - e Clóvis Carnascialli, já falecido, vinha mantendo o grupo, "mas com muitas dificuldades". Coincidentemente, Gedeão Martins retornava dos Estados Unidos e no dia em que a orquestra - já com o nome de Sinfônica da Universidade Federal do Paraná - iria fazer seu primeiro ensaio, Hélio o levou ao auditório da Reitoria, recém inaugurado. Gedeão, jovem, repleto de idéias, extasiou-se e se tornaria o poderoso maestro da sinfônica, regendo-a com exclusividade até o seu melancólico final. O que, comporta outra história a ser ainda pesquisada e contada. xxx Hélio Brandão chegaria a presidir a entidade que supervisionou a orquestra da UFPR em algumas vezes, discordando posteriormente da linha que a mesma seguiu. Kalil Rahym é cirurgião-dentista em Ponta Grossa há muitos anos, onde também reside Gabriel de Paula Machado. Este continua profissionalmente na música: é o regente do coral da universidade estadual daquela cidade. Hélio, que viria a trocar o violino pelo violoncelo, só toca hoje quando reúne a sua talentosa família musical. LEGENDA FOTO 1 - Médico, professor e músico amador, Hélio Brandão foi em 1946 um dos fundadores da Orquestra Estudantil de Concertos - que em 1958 se transformou na Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Paraná. LEGENDA FOTO 2 - Brandão, a família que faz música unida. Hoje, difícil reunir este original grupo de câmera, pois os cinco irmãos espalham-se pela Suíça, Rio e São Paulo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
10/02/1991
Olá, estou muito interesado em participar de vossa orquestra, os senhores poderiam me avisar quando que abre prova para a mesma? Desde já estou agradecido.

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