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Aramis

As memórias de Samuel e de muitos companheiros

A repercussão foi, naturalmente, grande. A entrevista-depoimento dos jornalistas Mussa José Assis, 45 anos e Carlos Eduardo Fleury, 65 anos - que viveram intensamente os últimos anos da "Última Hora" no Paraná - com a participação de João Féder, 58 anos, fundador da "Tribuna do Paraná" - hoje conselheiro do Tribunal de Contas - publicada domingo no Almanaque, trouxe novos elementos sobre a presença da "Última Hora" no Paraná - e sua contribuição para o desenvolvimento de nossa imprensa. Por certo, nem o editor Alfredo Machado, dono da Record, imaginaria que a publicação das memórias de Samuel Wainer (1912-1980) provocaria tanta repercussão - ao ponto da 6ª edição de "Minha Razão de Viver" já estar esgotada antes de chegar as livrarias tal o número de reservas feitas. xxx As memórias do jornalista que fundou a "Última Hora" reviveram um dos períodos mais intensos da imprensa brasileira - e por decorrência da própria vida política. Assim como Mussa e Fleury, que participaram da UH, na sua edição paranaense - dezenas de outros profissionais, motivados pelas reminiscências de Wainer estão fazendo também suas próprias rememorações. Quando aqui publicamos um primeiro registro do livro, o jornalista Antônio Crunetti, 63 anos, hoje auditor do Tribunal de Contas e que foi primeiro correspondente da UH do Paraná - e depois chefe do núcleo inicial da sucursal, fez suas observações, acrescentando novos dados. Por certo, todos que passaram pela redação da UH, na loja do edifício Asa - local onde hoje existe uma confeitaria - teriam muito a dizer do período entre 1959/março de 1964, quando ali pulsava o melhor jornalismo. Há muitos fatos a serem recordados, datas a serem precisadas. Por exemplo, na entrevista, Carlos Eduardo Fleury enganou-se ao dizer que a sucursal foi atacada a pedradas no dia 31 de março de 1964. Realmente a sucursal sofreu um ataque mas ocorrido três semanas antes, motivada a princípio por uma manifestação estudantil na avenida Luiz Xavier - em plena Boca Maldita. Estimulados por alguns radicais de direita, inimigos das posições da UH em favor do governo de João Goulart, centenas de jovens entre os quais muitos estudantes do Colégio Santa Maria, cercaram o prédio e após discursos irados começaram a apedrejar os vidros da loja-escritório. No interior do jornal encontravam-se vários jornalistas que ali permaneceram durante muitas horas, num clima de tensão. Entre eles, a então colunista social da UH-paranaense, Celina Luz, que, mais tarde seria correspondente do "Jornal do Brasil" em Paris. Apesar da insistência dos colegas para deixar o prédio, pela porta dos fundos, Celina fez questão de permanecer. Os fotógrafos documentaram a violência, registrando, inclusive, a presença de três irmãos maristas, dirigentes do Colégio Santa Maria, que insuflaram a multidão ao apedrejamento. A repercussão do atentado foi enorme: menos de 12 horas depois, em jato da Presidência da República, chegava a Curitiba o jornalista José Augusto Ribeiro (hoje na Rede Bandeirantes), então assessor especial do presidente João Goulart. Três semanas depois, quando do golpe de 1º de abril, o clima na redação da UH era tenso, naturalmente. Mas não houve violência e todos os jornalistas trabalharam normalmente - até que, algumas semanas depois a sucursal foi desativada. Apesar das dificuldades enfrentadas, houve pagamento a todos os funcionários, através de acordos estabelecidos através do advogado Edésio Passos. Ninguém ficou sem receber, sendo que alguns profissionais aceitaram alguns bens como parte de suas indenizações. O jornalista Milton Cavalcanti, editor de economia, por exemplo, levou uma preciosa coleção da "Última Hora", com todos os números da fase paranaense. Infelizmente, anos depois, esta preciosa coleção se perdeu num incêndio doméstico no porão de sua residência. Resta, então, apenas a (incompleta) coleção da Biblioteca Pública do Paraná. Luiz Geraldo Mazza, em sua coluna no "Correio de Notícias", tem dado também lembranças de sua fase de jornalista da sucursal do jornal de Samuel Wainer. Renatinho Schaitza, no domingo, lembrou a notável figura de Carlos Coelho, secretario-de-redação. Enfim, as memórias de Samuel Wainer catapultaram depoimentos espontâneos - e com isto enriquece-se a história da imprensa paranaense.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
18/03/1988

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