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Aramis

Memórias da Oposição (III)

Em 1967, passada as eleições municipais, o MDB ainda acreditava que em três anos poderia - doce ilusão! - acontecer eleições diretas para o governo do Paraná. Saía, então, a organizar-se em todo o Estado e tinha até um candidato forte - Léo de Almeida Neves, cujo slogan chegou a aparecer em algum material - Rumo Certo - Léo em 70. O sonho acabou em 13 de março de 1969 quando uma nova lista de cassações incluiu não só o então presidente do diretório do municipal do MDB, em Curitiba, Almeida Neves, mas também do presidente do diretório regional, deputado federal Renato Celidônio e mais três deputados estaduais - Jacinto Simões, Lázaro Servio e Sinval Martins Araújo, secretário geral do Diretório Regional. Na mesma lista estava, surpreendentemente, a mais felpuda raposa política da Arena: o deputado Aníbal Cury, que era, mais uma vez secretário da Assembléia Legislativa, "além de secretário do diretório regional da Arena e presidente da Caixa dos Funcionários da Assembléia Legislativa, que, anteriormente, após o AI-5, havia sido preso" recorda Sylvio Sebastiani em seu livro "Por Dentro do MDB". O deputado Miran Pirih, ex-petebista e que em 1966 havia ingressado na Arena, também não escapou. Foi cassado e, ao contrário de Cury - que retornou depois `a política, continuando hoje tão poderoso como há 23 anos, afastou-se totalmente da vida pública. xxx Atingido em suas lideranças, o MDB improvisou o deputado estadual Eurico Batista Rosas, que havia sido prefeito de Ponta Grossa, para a presidência e elevou os vices, Marcos Bertoldi, o vereador Arlindo Ribas de Oliveira e - vejam só - até o advogado João Régis Teixeira, este sem, de fato, exercer militâncias, pois como Bertoldi alegava "que havia cedido seu nome a pedido de Léo de Almeida Neves, eram "dias de muito temor e solidão política" como recorda Sylvio Sebastiani, dizendo que "o diretório municipal na Rua Pedro Ivo estava em completo abandono". Entre os poucos que se acorajavam a, por ali, aparecerem estavam o vereador Adalberto Daros - posteriormente eleito deputado estadual e que morreu há alguns anos, o garçom Odilon Santos, Odair Ferreira, Louri Ferreira, Emílio Mauro (que viria, mais tarde, a ser eleito vereador em Curitiba), Miguel Rodhen, Rubinho Ferreira, Rubens Barroso, Pedro Lauro (*), Espiridião Feres, Percy Tieman e, com destaque, o também vereador Maurício Fruet. Com razão, Sebastiani comenta: "Além desses, não mais que um grupo de meia dúzia persistiu na luta e venceu o medo maior. Mas a verdade é que, hoje, há pessoas que encenam frases de impacto e afirmam terem estado presentes na sede do partido naquele momento; contam passagens inexistentes, sendo que nem a sua sombra esteve refletida na calçada da Rua Pedro Ivo". Como abrigava também o diretório regional do MDB, alguns deputados compareciam eventualmente, pois, os que não foram cassados, residiam no Interior do Estado. "Mas, recordo-me que, quase que diariamente, lá comparecia um capitão reformado do Exército, funcionário da Polícia Federal, a mando do delegado geral, coronel Oswaldo Bianco, querendo saber o que se fazia no partido, por que eu estava ali, se eram realizadas reuniões, o porquê delas, enfim todo esse questionamento como ameaça e pressão para intimidar os dirigentes partidários e os prováveis filiados", conta Sebastiani, acrescentando: "Devo lembrar que, depois de algum tempo, foi se firmando uma amizade entre nós. Tanto assim que, mais tarde, em 1971, quando o coronel Bianco já havia deixado A Polícia Federal, conversamos no Clube Curitibano, quando ele me confessou que precisava de um emprego, pois seu vencimento como coronel reformado do Exército não era suficiente para sua sobrevivência. Disse a ele que poderia conversar com os proprietários da firma Orbram, os quais estavam instalando um Departamento de Vigilância Bancária e, talvez, ele pudesse vir a ser seu diretor. Os amigos da Orbram concordaram com a minha indicação. Acompanhei o coronel Bianco à firma, quando foi admitido na condição de diretor do Departamento de Vigilância Bancária, cuja posse, divulgada pela imprensa, principalmente pela televisão, eu acompanhei. Passados alguns dias fui visitar o coronel Bianco na Orbram e lá encontrei trabalhando outros ex-funcionários da Polícia Federal, inclusive o tal capitão, que na ocasião me serviu um cafezinho". NOTA (*) Pedro Lauro, dono de uma banca de revistas e jornais na Praça Carlos Gomes, que foi prejudicado na primeira administração de Jaime Lerner, acabou fazendo uma campanha tão brega, que, surpreendentemente acabou eleito para a Câmara Federal. LEGENDA FOTO Enéas Faria: no MDB, nos anos de ditadura.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
16/04/1992

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