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Aramis

Memórias da Oposição (II)

Curiosamente, muitos dos políticos citados por Sylvio Sebastiani em "Por Dentro do MDB" (edição do autor, 144 páginas, Cr$ 25.000,00), passados quase 30 anos, continuam em destaque na política, alguns retornando aos espaços nobres, nos últimos anos, como o senador Affonso Camargo - agora ministro dos transportes e Comunicação e seu suplente, Enéas Faria. Já na página 7 do livro, Sebastiani, como homem que participou da criação do partido da oposição nos duros tempos da repressão, lembra que "organizar uma oposição concreta no país censurado pelos autos institucionais não foi fácil. Hoje, porém, com o restabelecimento do direito à palavra e à livre opinião, surgem os "soldados fantasmas", aqueles que não participaram, não se envolveram, e que aparecem contando histórias, passagens que desconhecemos". Alguns desses soldados fantasmas falam da Rua Pedro Ivo, da sede do MDB, mas não sabem que a famosa sede da Rua Pedro Ivo, 698, 1º andar, foi também a sede do PTB, e que ali estiveram o governador Brizola, os deputados San Tiago Dantas, Rui Ramos, Fernando Ferrari e o presidente Jânio Quadros, além de outros igualmente ilustres. Aquele local constituiu o quartel da vitória do general Iberê de Mattos como prefeito de Curitiba em 1958. Foi ali que Odilon Santos (*) e eu fomos obrigados a quebrar a porta de entrada, a qual havia sido fechada por pessoas que abandonaram o partido. Recolhemos quadros, pastas, cartas, documentos, livros e atas, escondidos quando da edição do Ato Institucional n.º 2 em fins de 1965. O MDB surgiria então no ano de 1966, que também seria marcado pelas eleições proporcionais ao Senado, câmara Federal e Assembléia Legislativa. Rompendo com os embustes da ditadura, o velho "Manda Brasa" apresentou dois candidatos à vaga de senador, Affonso Camargo e Nelson Maculan. Maculan representava os anseios dos antigos trabalhistas e Camargo era a força expressiva de uma ala considerável dos democratas cristãos. Os suplentes foram Joaquim Néia (de Camargo) e Iberê de Mattos (de Maculan)." xxx Difícil foi completar a chapa de candidatos à Câmara Federal. Poucos tinham coragem de se declarar candidatos do partido que deveria opor-se ao governo militar. Assim, nas 25 vagas para deputado federal houve apenas 16 candidatos, sendo eleitos Léo de Almeida Neves, Renato Celidônio, José Richa, Fernando Gama e Antônio Annibelli. Miguel Buffara no afã de presidir o MDB no Paraná, a ele dedicando-se integralmente, descuidou-se de sua campanha, não foi reeleito. Para as 45 vagas na Assembléia Legislativa, o MDB apresentou apenas 40 candidatos. Oito foram eleitos: Jacinto Simões (que na juventude havia tido uma intensa participação política universitária), José Alencar Furtado, Sílvio Martins Araújo, Nelson Buffara, Lázaro Servo, Valmor Giavarina e Eurico Batista Rosas. O primeiro suplente, Olivir Gabardo, assumiu em 1969, quando o deputado Giavarina foi eleito - já então na Arena - para a prefeitura de Apucarana. O MDB perdeu a vaga do Senado para a Arena. O ex-governador Ney Braga foi eleito com 660.529 votos. Nelson Maculan obteve 273.378 votos e Affonso Camargo, na sublegenda, apenas 84.275. xxx Com apenas 5 deputados federais e 8 estaduais, o MDB pouco poderia reivindicar nas mesas do Poder Legislativo. Assim, a Arena pretendia compôr a mesa da Assembléia apenas com seus deputados (Aníbal Curi e João de Mattos Leão dando as cartas), mas na noite anterior às eleições, o deputado Sinval Martins Araújo articulou a chamada ""irada de mesa". Em seu apartamento na Avenida República Argentina, convocou alguns arenistas que não apreciavam Aníbal e acertou uma chapa que foi a vitoriosa, [com] João Mansur na presidência, Erondy Silvério na 1ª Secretaria, Sinval na 2ª; Nelson Buffara na 1ª vice-presidência. Os emedebistas mostravam que, mesmo em minoria, estavam dispostos a resistir ao rolo compressor governista. xxx NOTAS (*) Garçom profissional, Odilon Santos, personalidade cativante e petebista histórico, foi um dos homens que mais trabalhou no MDB, em missões humildes. Por duas vezes disputou uma vaga na Câmara de Curitiba. FOTO
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
15/04/1992

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