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McCarthy, o estigma de uma vergonha dos Estados Unidos

O nome do senador Joseph Reymond McCarthy (Grande Chute, Wisconsin, 14/11/1908 - Maryland, 2/5/1957) ficou identificado ao Comitê de Atividades Anti-Americanas (HUAC), como símbolo de uma época de perseguições, delações e infâmias da história americana. Entretanto, as origens do Comitê foram anteriores a chegada de McCarthy ao Senado - o que só ocorreria em 1956, após ter sido promotor público e tenente da Marinha Americana. Como analista Fernando Peixoto, em "Hollywood - episódios da histeria anticomunista", em conseqüência da depressão provocada pelo crack da bolsa de Nova York, em 1929 - e da qual os EUA só se recuperaram graças ao New Deal do presidente Roosevelt - na década de 30 a sociedade norte-americana "enfrentando perigosa crise, sentia-se duplamente ameaçada: a expansão surpreendente do nacional-socialismo fascista, incluindo a organização de grupos pró-nazismo dentro dos EUA e o perigo permanente da atraente propaganda comunista, incluindo a presença do PC dos Estados Unidos, com um número ainda limitado mas crescente, de militantes, imprensa e influência nos meios artísticos e intelectuais. Uma campanha voltada para investigar a propaganda a favor do nazismo, liderado pelo congressista Samuel Dickenstein, que era judeu, acabou adquirindo outra forma legal: em 26 de maio de 1938 a Câmara dos Representantes (deputados) aprovou a formação de um Comitê de Atividades Antiamericanas, integrando por 7 representantes e conhecido inicialmente como "Comitê Dies", pois era presidida por Marvin Dies. Em novembro de 1938, o Comitê pediu ao Departamento do Estado que determinasse se organizações como, por exemplo, o PC norte-americano eram legítimas ou simplesmente organizações ilegais financiadas e orientadas por governos estrangeiros. Houve protestos, pois a liberdade ideológica estava amparada pela Constituição. Um dos atos mais alucinados do Comitê Dies foi apontar a atriz Shirley Temple, então com 9 anos, como agente do comunismo internacional (ela havia enviado uma saudação a um jornal francês pró-comunista, "Ce Soir"). A histeria começava: em 12 de agosto de 1938 (agosto, sempre agosto!) marcava o início das audiências públicas do comitê, que buscava atingir principalmente Roosevelt e a estrutura sindical, ameaçando não só os comunistas, mas também os liberais, cortando verbas do projeto nacional de teatro da Woek Progress Administration e anunciando que mais de 40 membros de destaque da produção cinematográfica de Hollywood eram militantes ou simpatizantes do partido Comunista. A fase mais dura, contra a comunidade cinematográfica, começaria porém em 1947, quando J. Parnel Thomas (1895-1970), estava na frente do Comitê. Radical, alcoólatra, Parnel acabaria, anos depois, condenado a 18 meses de prisão (mas a pena foi reduzida a 9 meses) por corrupção: inventava funcionários inexistentes e se apoderava dos salários pagos pelo Estado. Entretanto, durante pelo menos dois anos, Parnel e outros direitistas - entre os quais o deputado anti-semita e anticomunista John E. Rankin e, principalmente, John Edgard Hoover (1895-1972), que por 48 anos dirigiu o FBI, e um jovem deputado chamado Richard Nixon (Yorba Linda, Califórnia, 9/1/1913) iniciaram o clima de terror em Hollywood, que atingiria as mais respeitáveis figuras - de Charles Chaplin (1889-1977) e que se exilaria na Europa, antes que o obrigassem a depor em Washington, à Bertold Brecht, que chegando aos EUA, em 21/7/1940, fugindo do nazismo, deixaria aquele país em 31/10/1947, um dia após ter sido interrogado pelo Comitê de Atividades Antiamericanas. Joe MacCarthy (também grifado em alguns livros como MacCarthy), que comandaria o comitê a partir de 1951 - chegaria as raias da loucura, acusando até o general George C. Marsahll (1880-1959), autor do plano de auxílio a recuperação da Alemanha após a II Guerra Mundial, herói militar, de "simpatias comunistas". A caça às bruxas expôs a exacração pública grandes artistas - entre atores, atrizes, diretores, roteiristas, levou muitos, no desespero, a delação - incluindo diretores da dimensão de Edward Dmytryck, Elia Kazan e Robert Rossen - provocou suicídios e morte, interrompeu carreiras - dezenas de profissionais atingidos pelas black lists nunca mais tiveram chances de trabalhar, alguns tentando a carreira no Exterior, outros mudando de profissão. Em 1956, a histeria já atingia o teatro e a música, fazendo vítimas como o cantor e compositor folk Peter Seeger (Nova York, 3/5/1919) - que por se manter íntegro, recusando-se a dedar amigos, foi condenado a um ano de prisão, tendo que fazer várias apelações até 1962. Em 12/6/56 foi a vez de um dos maiores cantores americanos, o baixo Paul Robeson (1898-1976), que também deu uma lição de hombridade e decência frente aos membros do comitê. Das muitas lições que ficaram do MacCarthismo - oficialmente só extintas em 1975, embora na administração Kennedy tenham cessado as perseguições - uma das mais significativas foi o que pode representar o fanatismo político mesmo numa sociedade democrática como é os Estado Unidos. E, ironicamente - o que seria cômico se não fosse sério - dois dos nomes mais trágicos que colaboraram com tudo isto - o inquisidor Nixon e o então ator Ronald Reagan (que denunciou dezenas de colegas) chegariam, anos depois à presidência dos estados Unidos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
02/02/1992

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