As máximas (inéditas) de Tia Zulmira
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de janeiro de 1977
Enquanto os livros de Stanislaw Ponte Preta continuam, nove anos após a sua morte (setembro/1968), entre os mais vendidos em todo o País, dois de seus mais queridos amigos, o desenhista Jaguar e o crítico (de MPB) Sérgio Cabral, encontraram algumas dezenas de máximas inéditas da personagem tia Zulmira, reunidas num livro de 110 páginas que, lançado pela Codecri na semana passada, está vendendo como pão quente. São cerca de 300 máximas que representam o resumo da filosofia de tia Zulmira, a sábia e ferina macróbia da Boca do Mato. Frases de humor lapidar que, certamente, se transformarão em ditos populares. Pois, como diz Jaguar, "ninguém como Sérgio soube captar o espírito irreverente e moleque do carioca".
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Dois depoimentos de amigos abrem o livro. Jaguar conta que a última vez em que esteve com ele foi buscar os originais de mais um livro pra fazer as ilustrações. Stanislaw (na verdade Sérgio Porto) estava batucando na sua intimorata Remington semiportátil. Virou para Jaguar e disse:
- Pô, só levanto os olhos da máquina pra pingar colírio.
Sérgio Cabral, em seu texto, lembra a espantosa atividade de Sérgio Porto. "E era espantoso também que o mesmo bom humor que transmitia em seu trabalho continua com ele em qualquer situação.
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As máximas (inéditas) de tia Zulmira justificam a imediata leitura do livro. Apenas como aperitivo, aqui vão algumas:
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"Entre as três coisas melhores desta vida, comer está em segundo e dormir em terceiro".
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"As crises políticas nacionais são tratadas de maneira tão sensacionalista pela imprensa brasileira que, se a gente estiver no estrangeiro, ao ler um jornal brasileiro tem a impressão que, ao voltar, não encontrará mais o País".
"Política tem esta desvantagem: de vez em quando o sujeito vai preso, em nome da liberdade".
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"Certas mulheres usam a altivez para esconder a burrice".
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"Os cronistas mundanos, em sua defesa, vivem evocando Proust, que antes de ser Proust foi cronista mundano; mas isso não quer dizer nada, porque Lincoln também foi lenhador e, depois dele, nenhum outro lenhador conseguiu ser presidente da república".
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"Uma feijoada só é realmente completa quando tem uma ambulância de plantão".
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"Dono de cartório de protesto é uma espécie de cafetão da desgraça alheia".
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"As três coisas mais perigosas que eu conheço são: limpar arma de fogo, mulher do vizinho e croquete de botequim".
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