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Aramis

Mané & Paulinho Nogueira

Exultai, fãs do bom violão! Na praça, um disco-solo de um grande instrumentista, esquecido durante tantos anos: Manoel da conceição, o bom Mão de Vaca. Preparai-vos fãs de Paulinho Nogueira, para ouvir um elepê do grande mestre, executando apenas o instrumento que inventou: a craviola! Dois discos dos mais interessantes, aproveitando o brasileiríssimo instrumento que o grande Catulo da Paixão Cearense introduziu na sociedade musical brasileira - e hoje é ainda o mais básico dos complementos da nossa MPB. Manoel da Conceição é um músico veterano. Se houvesse o Dicionário da MPB (que há anos estamos sugerindo) (Manoel da Conceição Chantre), seu nome estaria, em destaque, entre os grandes instrumentistas. Acompanhante durante anos de Ângela Maria Elizabeth Cardoso e, depois de Chico Anísio, Manoel da Conceição teve só agora uma chance de fazer seu próprio elepê ("Batuca do Mané", RCA Camden, 107.186, maio/75). Lembra seu amigo, o cantor-compositor Martinho da Vila, na contracapa (escrita em setembro/74, o que já prova a demora no lançamento deste disco) que "Mané da Conceição é um ritmista do violão e substitui facilmente o tamborim, o reco-reco, o agogo, a cuíca e o surdo. É todo um conjunto, é uma escola". Realmente, nas 16 faixas deste disco bonito, bem gravado de muito balanço mostra toda a sua segurança no violão, ocasionalmente inclusive sussurrando as letras das músicas. Um disco bonito, que merece atenção do público. Faixas: "Disse me disse" (Manoel da Conceição/Lolita França); "Não ponha a mão" (Mutt/Amô Canegal/Bucy Moreira), "Na baixa do sapateiro" (Ary Barroso) "Gente humilde" (Garoto/Chico Buarque/ Vinicius); "Exaltação a mangueira" (Enéas Brites/Aloisio da Costa); "Agora é Cinza" (Bide/Marçal); "Maracangalha" (Dorival Caymmi); "Cidade maravilhosa" (André Filho), "Batucada do Mané" (Manoel da Conceição); "Vou Correr" (Manoel/Alberto Paz), "Feitiço da Vila" (Noel Rosa/Vadico), "Com que roupa" (Noel), "Palpite infeliz" (Noel); "Saudade da Bahia (Caymmi) "El Dia que mei quieras" (Carlos Gardel/Alfredo La Pera) e "A fonte secou" (Monsueto Menezes/Tufic Lauar/Marcelo): xxx A história é conhecida: Paulinho Nogueira (Paulo Artur Mendes Puppo Nogueira), paulista de Campinas para alguns dos mais exigentes críticos o melhor violinista do Brasil, em 1963, por brincadeira, desenhou um novo instrumento: uma mistura de cravo e viola, que foi logo industrializada pelo seu amigo Giannini. Seu som novo entusiasmou muita gente - do brasileiro Luis Bonfá (radicados nos EUA) e Jimmy Page, líder do Led Zeppellin. Com mais de 20 lps gravados (Columbia, RGE e Continental) onde sempre mostrou seu talento (também) de compositor e cantor, Paulinho até hoje não havia feito um elepê amparado exclusivamente na craviola. O que ocorre agora com este seguro "Moda de craviola" (Continental, agosto/75), onde mostram apenas três músicas novas - "Moda de craviola", "Kaleidoscópio" e "Craviolíssima", além de uma música de um sobrinho, que também a executou ("Linhas tortas", Stenio Mendes), ao lado de temas já conhecidos (seus ou de outros autores), Paulinho traz toda sua ternura, sua criatividade. Embora a craviola seja considerada por alguns expertes, como o bom amigo Paulo Tapajós, como um instrumento de apoio, para reforçar, dar efeitos especiais a algumas passagens musicais nas mãos de seu criador, rende bastante. Sente-se isso em músicas como "Valsa de Euridice" (Vinicius de Moraes, do filme "Orfeu do Carnaval", em reprise até quarta-feira no cine Marabá), "Prelúdio em Contracanto" (que Paulinho criou baseado no Prelúdio no 20 de Chopin) ou as já conhecidíssimas "Disparada" (Theó Barros/Geraldo Vandré), "Se Verdade fosse" (Paulinho, "Dez bilhões de neuronios" (com letra de Zezinha Nogueira, sobrinha de Paulinho) e "Asa Branca", esta por sinal, já gravada, com craviola, no seu elepê do ano passado. "Moda de Craviola" é um bom disco instrumental. Seguro, de bom gosto, com um grande instrumentista, compositor, brasileiro e amigo: PAULINHO NOGUEIRA.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
57
24/08/1975

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