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Aramis

"Maluco", uma crônica da circunavegação da Terra

Pela sua vivência na literatura latino-americana - e domínio da língua espanhola - Eric Nepomuceno tem sido requisitadíssimo para indicar (e também traduzir) livros sobre autores que ainda não são suficientemente conhecidos no Brasil. Assim é que neste mês de fevereiro, a Companhia das Letras está lançando "Maluco - Novela dos Descobridores", de Napoléon Baccino Ponce de Léon, com tradução de Nepomuceno e capa de Carlos Matuck. "Maluco" é a crônica não oficial da primeira viagem de circunavegação da Terra, empreendida em 1519 por Don Hernando, o célebre Fernão de Magalhães, numa expedição da qual poucos dos 250 participantes sobreviveram. Entre estes está Juanillo Ponce, bufão "da altura de uma bacia" que acompanha com suas fanforronices e sensibilidade os revezes e desventuras que assolam a esquadra, testemunhando as dúvidas, angústias e sonhos de Don Hernando, que quer chegar às Ilhas Molucas, no Pacífico, navegando em direção ao Novo Mundo. De volta à Espanha, Juanillo passa a contar o que viu e viveu nos dois anos que errou por regiões até então nunca navegadas, mas suas palavras não agradam nem o príncipe, nem o Santo Ofício. Resultado: perde a pensão a que tinha direito e decide escrever ao rei D. Carlos V, relatando a "verdadeira" viagem e discutindo o cabimento de tamanhos sacrifícios para satisfazer a sede de conquista e poder de alguns poucos homens. Como observa o editor Luiz Schwartz, em "Maluco", o estilo das crônicas dos primeiros descobridores, mesclado à dicção irreverente do truão Juanillo e a outras modulações de linguagem, dá a narrativa um sabor ao mesmo tempo arcaico e moderno, pondo em relevo o que houve de grandioso, trágico e descabido nas conquistas dos séculos XV e XVI. Quando o interesse se volta pelo festival de eventos para marcar os 500 anos da "descoberta" da América, o uruguaio Napoléon Baccino Ponce de Léon - destaque internacional e prêmio Casa de las Américas (Havana, 1989) - explora justamente a instigante relação entre história e ficção, que continua sendo um interessantre fator de criação literária. Afinal, como diz o próprio Ponce de Léon: A história é muito mais romanesca que o romance em si.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
15/02/1992

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