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Aramis

Macacos & macaquices

Não é apenas a mediocridade que aproxima dois dos filmes que há semanas estão entre as grandes bilheterias deste início de temporada: tanto "King Kong II" (Cine Palace Itália) como "Um Hóspede do Barulho" (Lido II), se encaixam naquela categoria de filmes armadinhos para usar condicionantes do momento em uma ficção para consumo de platéias infantis - ao menos mentalmente. Ridículo pretender encontrar em produções como estas, declaradamente realizadas para preencherem espaços de programação, maiores preocupações estéticas e conteúdos intrínsecos, mas chega a ser agressivo a mediocridade com que os roteiristas trabalharam sobre idéias que, aparentemente, poderiam resultar em filmes interessantes. Por exemplo, quando o escritor policial Edgard Wallace imaginou em 1931 a história de um gorila-gigante, que retirado de seu meio ambiente natural - uma ilha perdida no Pacifico - acaba revelando o lado humano ao ser colocado na grande cidade (no caso Nova Iorque) a ecologia ainda não constituía uma preocupação. Os cineastas Ernest B. Schoedsack e Merian C. Cooper foram felizes ao transpor a história para a tela (o próprio Wallace colaborou no roteiro), que "King Kong" transformou-se num clássico que, passados 55 anos, comporta as mais significativas interpretações. Há toda uma bibliografia em torno de "King Kong", sua mitologia, os símbolos que ensejariam (embora, na verdade, a produção tenha sido rotineira, dentro do esquema da RKO Radio, então um dos principais estúdios de Hollywood) enfim, todo um significado amplo. Há doze anos, quando o astuto produtor italiano Dino de Laurentis, entrando firme no mercado americano, decidiu fazer uma refilmagem de "King Kong", houve um natural alvoroço. A tecnologia moderna, um elenco bem escolhido - com a revelação de Jessica Landis (hoje considerada uma das melhores atrizes do cinema mundial) no papel criado originalmente por Fay Wray - e mesmo uma competência artesanal do diretor John Ghillermin, inglês, 63 anos, 40 de cinematografia - resultaram num filme ao menos bem intencionado. Por isto mesmo, é lamentável que o mesmo Ghillermin, ao ser convocado para revisitar o tema, neste "King Kong", tenha dado com os burros n'água. Nada se salva nesta continuação, mas o mais irritante é o roteiro totalmente imbecil, que praticamente insulta o espectador pela forma com que encadeia a ação. Nem os mais modestos filmes de episódios dos anos 40 eram tão primários no tratamento, colocando personagens de forma tão infantil. A ecologia proposta - através do olhar preservacionista da mocinha-médica, a "conscientização" do moderno Indiana Jones que conseguiu prender a Konga, as relações que se estabelecem a partir do encontro dos super-macacos - tudo é colocado de uma forma primária, e mal acabada, que só mesmo os mais indulgentes podem suportar. Para completar, um elenco limitadíssimo e falta total de atenção para a montagem - resultando, sem dúvida, num dos piores filmes destes últimos anos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
03/02/1988

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