Login do usuário

Aramis

Londres / Londrina, a revisão da história

Caso não venham a ocorrer mudanças de última hora, devido à morte do presidente Tancredo Neves, esta será uma semana extremamente literária. Começa amanhã, com duplo acontecimento : às 17 horas, na Assembléia Legislativa, o historiador José Joffily autografa "Londres / Londrina". Duas horas depois, no anfiteatro da Universidade Católica, Fernando Gabeira abre o projeto " Encontro Marcado ", que prosseguirá na quinta- feira coma a presença de Marina Colasanti e, no dia 26, com a participação do poeta e ensaista Affonso Romano de Sant'Anna. Na sexta-feira, ainda haverá, ao entardecer, no escritório da Funarte, o lançamento de "Basphemias", da poetisa Christina Gebran. Eventos que merecem prestigiamento e que acrescentam a outros acontecimentos editoriais importantes. Na semana passada, na livraria Curitiba, foi o ex-pracinha Loonercio Soares que autografou seu corajoso "Verdades e Vergonhas da Força Expedicionária Brasileira ". E previsto também o lançamento oficial do corajoso " Caso MFM - Sulbrasileiro/ Ascensão e queda dos coronéis " do jornalista Delmar Marques ( Mercado Aberto ), que por sua atualidade e denúncias feitas já atinge a 4º edição em menos de dois meses. xxx José Joffily, 71 anos, ex-deputado federal pela Paraíba até 1962, casado em 1964 e há quase 20 anos radicado em Londrina, onde preside uma grande empresa de agrotóxicos, é um historiador que não aceita as versões "oficiais " e procura a verdade. Assim é que em dez livros publicados tem tocado o dedo na ferida de muitos fatos que nunca haviam sido corretamente interpretados. Assassinato de João Pessoa e participação de Anayde Beriz nos fatos que provocaram aquele atentado político há 52 anos passados motivou três livros de Joffily, nos quais, inclusive, a cineasta Tizuki Yamazaki baseou o roteiro de "Parahyba Mulher Macho". Residindo em Londrina, Joffily sempre se preocupou com a falta de informações sobre a fundação daquela cidade há 50 anos, especialmente, dos verdadeiros interesses que levam os ingleses a desenvolver o grande projeto de colomização do Norte do Estado a partir de 1927 - ali permanecendo até 1945, quando a Companhia Melhoramento Norte do Paraná foi adiquirida por emprsários paulistas. Como em todos os seus livros, Joffily, mata a cobra e mostra o pau. Assim é que das 258 páginas desse livro ( editado pela Paz & Terra, março / 85 ), nada menos do que 121 são dedicadas á produção de 117 documento, fotos, facsimiles de jornais etc. comprovando aquilo que afirma em nove capítulos. Uma bibliografia de mais de 200 fontes - entre teses, revistas, livros,ensaios, jornais e entrevistas pessoais, - confirma a seriedade com que Joffily buscou embasar o livro, que, pelo próprio tão polêmico, pode ser contestado - mas que exigirá, para isso, forte argumentação. Logo no inicio, Joffily diz que, "está na hora de contermos a propagação de equívocos, evitando simplificações, conclusões generalizantes e detectando fatores preponderantes. Para desfazer mitos, fatos aqui arrolados e documentados dependem menos de discussão de que de mera constatação. Reconheço, porém, que não é difícil desmanchar um nó gordo de 50 anos de enganos involuntários e confusões deliberadas. Então, em meio século, tudo se teria passado como numa farsa em 3 atos e apoteose : 1º ato - Em 1924 o agrônomo inglês Lord Lovat, passeando pela região, entusiasma-se com suas fertilidade e imagina organizar um sociedade - a " Brazil Plantation " para "cultivar algodão". 2º ato : Lorde Lovat oferece generosamente "15 mil contos de réis" pelas terras ( 5 mil alqueires ) de um fazendeiro em São Paulo", que seriam hoje 45 bilhões de cruzeiros, equivalentes a 5 mil carros " Ford ". 3º ato : Recusada inexplicavelmente a proposta nababesca, Lord Lovat, prefere então constituir uma firma com apenas mil contos de réis de capital terminar comprando os 13,165 km² do Norte do Paraná. É quem seria esse vendedor de uma área equivalente a mais da metade do País de Gales ? Claro, o governo do Paraná. xxx Joffily, como historiador e politico, aprendeu a ver sempre as coisas de forma ampla. Assim seu livro não fica apenas no circunstancial mas vai no geral. E portanto coloca a colonização do Norte do Paraná em relação ao endividamento externo do Brasil, e especialmente, os interesses dos banqueiros multinacionais N.M.Rotschild & Sons, através de seus emissários. Lord Lovat e outros. Pelo fato de " Londres Londrina " ser fruto de anos de pesquisas bem fundamentadas e reflexões à luz de ampla documentação, Joffily pode estabelecer aspectos profundos dos interesses ingleses na colonização, os relacionamentos com os governos do Brasil e Paraná, e os interesses naturais de fazer a colonização como um empreendimento extremamente lucrativo. Lord Lovat ( Simon Joseph Fraser ) era, na verdade, um representante do banqueiro Rotchild, como Joffily demora-se em provar nos vários capítulos - um enfoque a que, até hoje, as (poucas) publicações que abordaram a colonização do Norte do Estado jamais haviam feito referências. Pela primeira vez em toda a história de Londrina, até hoje escassamente estudada, levantam-se questões que, passados 50 anos, podem provocar polêmicas. Uma delas: o preço que os ingleses pagaram pelas terras férteis do Norte do Paraná. Na página 81, Joffily informa que o preço estipulado pelo governo paranaense foi de 8 mil réis o hectare, " quantia essa que representava a diária de um carpinteiro ou custo de 5 quilos de feijão, valores que corresponderiam, nos dias atuais ( dezembro /84) a Cr$ 10 mil ". Convém frisar - lembrar o historiador que foi pago à vista apenas um mil contos de réis e o restante, 5.776.000$000 ( cinco mil, setecentos e setenta e seis contos de réis ) seriam recolhidos aos cofres do Estado à medida em que a Companhia vendesse as terras, com o prazo de dois anos. Todos os documentos e publicações oficciais omitem os motivos da fixação em apenas 8 mil réis o hectare do valor das terras do Norte do Paraná. Referem-se laconicamente " ao preço de lei ", laconismo que se presta a interpretações tendenciosas. A liberalidade do governo do Estado foi combinada, na época, com veemência, pelo jornal " O Dia ", de Curitiba considerando-a " sacrifício irrevogável e falta de economia do Estado ". Só para se ter uma idéia do preço aviltante pelo qual o governo do Paraná vendeu as terras vermelhas do Norte, na mesma época, em Ourinhos, São Paulo - região próxima - um hectare variava de 123$000 a 246$000. Algumas citações feitas por Joffily não deixam de representar certeiras estocadas em famílias tradicionais de Curitiba, Por exemplo, lembra que o " presidente do Estado " na época Afonso Camargo, " por coincidência tornou-se proprietário da área onde hoje está situado o bairro londrinense Jardim Xandri-lá ". Mais adiante, lembra que, " durante 14 anos, dois ilustres paranaenses governaram alternadamente, com uma vantagem : a filha de Affonso Camargo era casada com o filho de Caetano Munhoz da Rocha, Circunstância da família que naturalmente favorecia a sucessividade do mando pessoal e administrativo. O continuísmo estava assegurado também pelo revezamento na ocupação de cargos de confiança nas duas administrações. Entre seus titulares : Marins Alves de Camargo, Alcides Munhoz e Ademaro Lustoza Munhoz. Não é espirito público e sim o interesse individual a pedra angular das oligarquias ". xxx Todo um capitulo é dedicado à agressão à natureza cometido na colonização do Norte do Paraná. Lembrando que o propalado projeto de Lord Lovat no sentido de cultivar algodão e café " nunca passou de etéreas intenções ". Joffily destaca que uma das principais fontes de renda do grupo inglês foi a exportação da madeira de lei recobria a região. Diz o autor : " A figueira branca, cedro, a peroba e o pau d'alho estão hoje virtualmente extintos no Norte do Paraná porque a empresa loteadora não espeitava a norma adotada em todos os países de conservar, pelo menos 20% da mata em cada área. Inúmeras serrarias operavam, sem cessar, para atender os " importadores " - inclusive uma do interesse estrangeiro - a Companhia Melhoramentos do Paraná. - Imóveis, Materiais, Construções ". Até agora, os livros publicados pela própria Companhia Melhoramentos Norte do Paraná - edições com circulação dirigida - é que subsidiavam as poucas informações a respeito. A propósito, Joffily diz : " São tantas e tamanhas as contradições que as vezes parecem propositais para confundir o leitor. Ora sustentam que a principal preocupação dos ingleses constitia na produção algodoeira, ora informam que a meta primordial seria a exploração de madeiras nacionai. Por fim repetem que os ingleses visavam " um dos melhores negócios do mundo : a colonização ", considerando-se " os preços muito baixos " das terras oferecidas pelo governo do Paraná. Confirma o engenheiro Alexandre Beltrão: " o Lord Lovat chegava com o olho nas madeiras paranaenses ". xxx Paraibano acostumado desde cedo ao debate politico, com uma carreira brilhante no seu Estado e só não chegando ao governo devido a cassação politica há 21 anos passados, Joffily não teme levantar fatos que precisam serem debatidos. Por isso mesmo, este seu " Londres / Londrina ", longe de apenas de ser mais uma publicação laudatória aos fundadores de Londrina e outras cidades do Norte, resgata polêmicos aspectos. Há alguns anos, sua revisão das razões, que motivaram a revolução de 1930, provocaram muitos protestos. Agora, tocando o dedo na colonização do Norte do Paraná, Joffily abre um debate que ele está pronto a enfrentar. Parabéns a Assembléia Legislativa, normalmente arredia a qualquer iniciativa cultural, em patrocinar o lançamento de " Londres Londrina ". Afinal, está na hora de nossos parlamentares se preocuparem um pouco mais com a real história do Estado que o sustenta.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
23/04/1985
Esse senhorzinho Jose Joffily não passa(ou passava)de um mero aproveitador.Em matéria de escrever uma das coisas mais faceis de colocar em pauta é denunciar,criticar,por defeitos,achar "erros" e tudo leva crer que foi que esse cidadão fez desse livro.O que ele fez ou deixou de construtivo em seu estado de origem,a Paraíba um estado em completa penúria e desleixo de fazer inveja ao Haiti?Ora,como pode existir sensatez e equilibrio de personalidade em individuos dessa espécie que no fundo não passam de fofoqueiros,argumentadores de visão própria.Queres denunciar fatos desagradantes e mazelas alheias?Faça enquanto se suceda o ato e não depois quando não existe mais o ocorrido.Prá encerrar cito que todo o estado da Paraíba não passa de uma uma grande favela comparada com a cidade de Londrina umas das regiões mais prósperas de toda a America Latina.COISA DE INGLES,TCHÊ!

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br