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Aramis

Livro

Ontem nos referimos ao lançamento de vários livros de poesia, numa prova da vitalidade deste gênero no Brasil, mas hoje aqui nos permitimos destacar a mais recente obra do mais importante poeta brasileiro, Carlos Drummond de Andrade, "As Impurezas do Branco". Melhor do que tentativa de interpretação jornalística, são as próprias observações da Editora José Olympio, na "orelha" desta obra que as pessoas sensíveis e admiradoras de Drummond não podem deixar de adquirir: "Aos 70 anos, CDA desenvolve simultaneamente 3 linhas distintas de poesias: a memorialística ("Boitempo", "Menino Antigo"), reunindo documentos da sensibilidade que oferecem conotações de interesse cultural quanto ao meio, economia e costume; a lúdica ("Viola de Bolso", "Versiprosa"), em que se articulam afetividade e humor às vezes satírico; e a que por falta de melhor qualificação, se poderia chamar de geral, com equilíbrio de reações temperamentais e identificação com o mundo. A esta última pertence o livro "As Impurezas do Branco". Por que Impurezas do Branco? Dir-se-ia que, para Drummond, o branco visualiza a poesia e suas impurezas são detectadas no verso, que só idealmente alcança o alvo ambicionado. O verso é a contingência da poesia. Mas esta imperfeição ou limitação vale por um sinal de humanidade, na poesia que o indivíduo compõe para outros; de certo modo serve mesmo de justificação para toda poesia. O livro contém 67 poemas novos, muitos de largo fôlego. 12 são inéditos no Brasil, um foi publicado apenas em Portugal e 21 recebem pela primeira vez maior divulgação: a série de glosas a episódios do "Dom Quixote", escritas para acompanhar os 21 desenhos de Portinari, reproduzidos por Digraphis em álbum de apenas 1.200 exemplares. A temática é a mais variada. Abre o volume a sátira feroz à comunicação alucinada e alucinadora, erigida em deus do homem contemporâneo. Segue-se o poema-colagem sobre o universo refletido num jornal diário, com suas mensagens publicitárias e dramáticas. Deus é um dos assuntos que preocupam Drummond nestas páginas, sem que, entretanto, o poeta se abrigue sob um ponto de vista confortador. Sua lírica celebra artistas e figuras humanas exemplares, e penetra no sentimento brasileiro pela interpretação do caráter nacional. É ainda uma poesia de amor, de profunda amargura existencial e cândido abandono às fontes do coração. Tecnicamente, o livro não obedece a esquema algum em termos de moda ou tradição. O autor procura dizer o que lhe ocorre sobre cada coisa ou situação, da maneira que lhe parece mais eficaz, variando ao extremo as soluções formais. Mostra-se desinteressado das teorias que se estabelecem para uso próprio e/ou alheio, como também não sugere nenhuma outra, como se concluísse que a poesia no fazer e, não no discorrer.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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15/01/1974

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